Se houve um tempo em que era dos carecas que elas gostavam mais, isso foi há muito, muito tempo. A verdade é que a calvície está para os homens como a celulite está para as mulheres. Ou seja, é o ponto fraco da vaidade a atormentar uma legião de homens insatisfeitos com a cabeça reluzente. E eles não são poucos. Segundo a Sociedade Brasileira de Estudos do Cabelo, cerca de 27 milhões de brasileiros são calvos. É esse contigente de homens que justifica a crescente busca de soluções. Felizmente, apesar do vasto repertório de tônicos que prometem milagres, dois remédios estão se consolidando como saídas realmente eficazes contra a perda de cabelos. O primeiro é o Propecia, que recentemente completou um ano no Brasil com vendas acima da expectativa. O outro é o Regaine, que, apesar de não ser tão cobiçado quanto o anterior, já está no País há mais de dez anos e passará a ser vendido sem receita médica a partir do próximo mês.

Desde o lançamento do Propecia, em maio de 1998, até abril deste ano, foram vendidas aproximadamente 151 mil caixas do remédio. Estima-se que seja consumido por mais de 30 mil usuários no País, gerando um faturamento de US$ 7,4 milhões para seu fabricante, a Merck Sharp & Dohme. Esse sucesso se deve ao princípio ativo do medicamento, a finasterida. A substância é responsável pelo bloqueio da ação de uma enzima que pode ser considerada a grande vilã da história. Isso porque essa enzima transforma a testosterona (hormônio masculino) em um outro hormônio, o DHT, que enfraquece os folículos capilares (estruturas de onde nascem os cabelos), ocasionando a queda dos fios em homens que têm a predisposição genética. "Alguns indivíduos têm folículos mais sensíveis à ação do DHT. Essa sensibilidade é de origem genética, o que dá à calvície um caráter hereditário", explica o cirurgião plástico Ricardo Lemos.

Já o outro medicamento, o Regaine, produzido pelo laboratório Pharmacia & Upjohn, tem como princípio ativo o minoxidil, uma substância vasodilatadora que já foi usada para controlar a pressão alta, mas que tinha como efeito colateral justamente a diminuição na queda dos cabelos. Até hoje, no entanto, ainda não se sabe exatamente como o medicamento consegue a façanha de impedir a perda dos fios, embora se tenha alguma idéia de seu mecanismo de ação. "Assim como os animais, os homens também trocam de pêlos. E, independente da calvície, os pêlos têm fases de crescimento, repouso e queda, respectivamente chamadas de anágena, catágena e telógena", explica a dermatologista Denise Steiner. "Sabe-se apenas que o Regaine estica a fase telógena e retarda a queda ", conclui.

 

Adolescência Embora a calvície seja erroneamente associada à terceira idade, é comum que ela apareça bem antes, logo depois da puberdade. "Isso ocorre porque, terminada a adolescência, a presença de testosterona no homem já é grande o suficiente para afetar os folículos", explica o dermatologista Valcinir Bedin. E a queda dos cabelos tende a aumentar com o enfraquecimento dos fios. "Até os 20 anos, é normal que um jovem perca em torno de 100 fios de cabelos por dia, sem necessariamente estar ficando careca. O problema é quando esse número começa a aumentar", alerta Denise. O administrador Marcos Longhi, 41 anos, por exemplo, começou a perder mais cabelo que o normal ao completar 20 anos. Há dois anos, ele resolveu iniciar um tratamento com o Propecia, antes mesmo de o remédio chegar ao Brasil. "Na época as falhas eram quase imperceptíveis. Com o passar dos anos, foi ficando impossível disfarçar. Estou contente com o resultado do remédio", diz.

Longhi chegou a usar o Regaine, mas acabou preferindo o Propecia por dois motivos: praticidade e eficácia. O Regaine é usado em forma de spray, haste ou conta-gotas, e deve ser aplicado no couro cabeludo duas vezes ao dia. Já o Propecia é um comprimido tomado uma vez ao dia, o que facilita a adesão ao tratamento. Além disso, segundo a experiência dos especialistas, o Propecia impede a queda de cabelos em 80% dos casos, enquanto o Regaine funciona em 40% deles. Porém, estudos com o Propecia mostraram que em 1,8% dos casos a perda de libido era um dos efeitos colaterais, já que o remédio interfere no sistema hormonal masculino, ligado também ao processamento do desejo sexual.

Embora os médicos digam que esse número seja insignificante, há homens que temem esse efeito e evitam o remédio, como o especialista em comércio exterior André Lellis, 27 anos. Há um ano, quando percebeu que estava perdendo mais cabelo que o normal, Lellis começou a tomar Regaine para atrasar a chegada do mal hereditário. "Com o Regaine adio as chances de ficar como meu pai, Pascoal, 57 anos, que na minha idade já era calvo, e não corro risco de ter problemas com a libido", resume. "André é vaidoso e está solteiro. Por isso se preocupa tanto com a calvície", brinca o pai.

Tanto o Propecia quanto o Regaine devem ser tomados a vida inteira. Se o tratamento for interrompido, os cabelos voltarão a cair. "Além disso, é importante lembrar que os remédios não fazem nascer cabelo. Eles retardam a queda e engrossam os fios já existentes", esclarece o médico Bedin. Mas, quando a calvície já existe há muito tempo (mais de dez anos), e ocupa uma área muito grande, os remédios costumam não resolver, pois os folículos estão muito fracos e não respondem mais ao tratamento. "Nessa fase, a melhor opção é o transplante de cabelos", conclui o médico.

Os dois remédios, porém, são eficazes somente quando a perda de cabelo é causada pela combinação da influência hormonal com a predisposição genética – por sorte, a principal causa da calvície, responsável pela perda de cabelos em 40% da população masculina mundial. Outros fatores como stress, má alimentação e reações a medicamentos também podem ocasionar queda de fios. Mas quando a queda de cabelo é resultado de fatores externos, ela pode ser mais facilmente reversível e não necessariamente responder aos medicamentos usados na calvície normal. Eles podem até ajudar, mas é preciso, antes de tudo, acabar com os fatores externos que estão levando à queda do cabelo.

 

Alternativa para quem tem pressa

Para os calvos que não querem passar a vida dependendo de remédios ou aqueles que já convivem com o aspecto de bola de bilhar há muito tempo, o transplante é a melhor solução. Trata-se de uma microcirurgia em que se retiram folículos de uma área com mais cabelos para transplantá-los, um a um, à região calva. Em três meses, os cabelos voltam a crescer e adquirem aparência de como se nunca tivessem caído.

Existem duas formas de realização do transplante. Uma inclui a retirada de um pedaço da área lateral do couro cabeludo. "Cortamos uma faixa de 1,5 cm de largura por 20 cm de comprimento no meio da lateral da cabeça, onde os folículos são mais fortes", explica o cirurgião plástico Munir Curi. "Depois, retiramos os folículos dessa faixa e fazemos o implante de cada um usando laser ou agulhas", completa. O engenheiro Henrique Galdini, 39 anos, se submeteu a cirurgia pela primeira vez há três anos e, há 20 dias, repetiu a operação para corrigir a calvície que não parou de crescer. "Arrumei a parte frontal, que era muito visível e me incomodava mais. Como gostei do resultado e a calvície da parte posterior aumentou, fiz de novo", explica.

Já na outra forma de transplante, o cirurgião retira os folículos da área lateral com uma espécie de caneta elétrica e depois os implanta na parte calva. "A vantagem do método é que dispensamos cortes e pontos", explica Joacir Carvalho. Mas, segundo o cirurgião plástico Ricardo Lemos, essa forma também não está livre de desvantagens: "Na extração dos folículos com a caneta, o fio corre o risco de ser quebrado e aí não adianta implantá-lo porque ele não cresce", diz.