No início de junho, a jornalista Sandra Florentino Gomide, 32 anos, editora de Economia de O Estado de S.Paulo, recebeu em seu apartamento na zona sul de São Paulo o então namorado Antonio Marcos Pimenta Neves, 63 anos, diretor de redação do mesmo jornal. A conversa do casal, relatada a ISTOÉ por um amigo e confidente de Sandra, foi curta e tensa.

Pimenta, vou ser honesta com você. Precisamos terminar nosso relacionamento. Estou apaixonada por outro…
Não vou aceitar isso. Quem está virando tua cabeça?
Isso não vem ao caso.

Depois do rápido diálogo, Pimenta deixou o apartamento enfurecido. Sandra já esperava por isso. Às vésperas daquele encontro, a relação antes carinhosa se transformara em agressiva. Pimenta sabia que estava perdendo a namorada e conhecia o nome do rival: Jaime Mantilla, um dos proprietários do diário Hoy, o terceiro maior jornal do Equador. Um e-mail de Pimenta para Sandra, em 29 de maio, ilustra o ocaso de um namoro de quatro anos. “Eu sei do Jaime. Depois disso, você pode voltar para sua vidinha de prostituta”, escreveu o diretor de redação do Estadão. Sandra conheceu Jaime em maio, quando esteve no Equador fazendo uma reportagem sobre a Ecuatoriana de Aviación, empresa aérea de Wagner Canhedo. Conversaram três ou quatro vezes e quando ela voltou ao Brasil passaram a se corresponder pela internet.

Na primeira quinzena de julho, Pimenta e Sandra tiveram uma conversa ríspida, desta vez na redação do jornal.

Se você não é minha não será de ninguém. Eu te fiz e posso te desfazer.
Cheguei até aqui porque sou competente.
Não. Você está demitida.

Caçada – A partir desse instante, Pimenta começou a perseguir a ex-namorada de forma implacável. A caçada terminou no domingo 20, por volta das 14h30, no Haras Setti, em Ibiúna (SP), onde ambos mantinham cavalos manga-larga. Sandra estava na selaria quando foi surpreendida por Pimenta. O dono do haras, Delmar Setti, a poucos metros, preparava um churrasco. “Ouvi a Sandra gritar: ‘Não, Pimenta, não!’ Depois ouvi dois tiros. Corri para lá e encontrei o corpo de Sandra com um tiro nas costas e outro na cabeça. Pimenta manobrava seu carro para deixar o haras”, contou Setti ao delegado Marcelo Damas, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Na segunda-feira 21, o juiz Maurício Valala decretou a prisão temporária de Pimenta por 30 dias. Dois dias depois, os primeiros resultados do exame necroscópico revelaram que Sandra morrera vítima de dois disparos. O primeiro lhe atingiu as costas e o segundo, dado à queima-roupa, a cabeça, pouco acima do ouvido esquerdo. O resultado do exame animou o promotor Marcelo Milani a carregar nas tintas contra Pimenta. “Vou tratar o caso como um homicídio qualificado – crime hediondo que prevê uma pena de 12 a 30 anos de reclusão”. “O assassino não ofereceu nenhuma chance de defesa à vítima”, diz. O advogado de Pimenta, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, entregou a arma do crime à polícia e relatou ao delegado Nathan Rosemblatt que seu cliente confessara o assassinato e não dificultaria as investigações. “Temos os componentes de um crime passional”, diz o criminalista.

Depois de atirar em Sandra, Pimenta dirigiu por cerca de três quilômetros e parou em uma estrada. “Ele estava em pânico. Disse que ficou ali por horas até ver um pardal que ficou olhando para ele. No seu desvario, pensou que fosse a alma de Sandra. Começou a chorar, dizendo: ‘Ela voltou para me perdoar’”, afirma o publicitário Enio Mainardi, amigo de Pimenta há mais de 30 anos e um dos primeiros a receber um telefonema dele após o crime. Da mesma estrada, o jornalista teria telefonado diversas vezes à redação do Estadão. Primeiro contou o que fez. Depois, quis saber dos repórteres de polícia se Sandra havia morrido e, por fim, perguntou qual seria a manchete do dia seguinte. No mesmo domingo, já na casa de um amigo, Pimenta recebeu o advogado Mariz, escolhido pelo jornal para defendê-lo. “Ficamos com medo de que ele cometesse uma loucura, pois estava com o revólver no bolso de trás”, recorda-se o criminalista. Mariz saiu dali com a arma do crime e a confissão do jornalista.

Guerra Judicial

 

Tão grande quanto a variação da pena por homicídio (de 6 a 30 anos de prisão) é o número de detalhes que a Justiça busca para chegar ao veredicto. As ameaças, o tiro pelas costas, a suposta tentativa de suicídio, tudo servirá de munição na hora de a Promotoria e a defesa apresentarem suas teses. O promotor fala em premeditação e homicídio qualificado – nome dado aos crimes praticados de modo cruel ou que dificultam a defesa da vítima –, também considerado hediondo. A pena vai de 12 a 30 anos. Já o advogado de Pimenta tentará convencer o juiz de que o jornalista estaria sob “forte emoção” no ato do disparo, uma das características do homicídio simples (de 6 a 20 anos de prisão), permitindo a redução da pena em até um terço. Uma condenação inferior a 8 anos possibilita até o regime semi-aberto (em colônias) e o bom comportamento diminui o tempo da reclusão em dois terços. Apesar da prisão temporária decretada, Pimenta poderá responder em liberdade caso consiga um habeas-corpus, pois não foi pego em flagrante.

 

 

Através do advogado, Pimenta combinou se entregar na manhã da quarta-feira 23. Às 19 horas do dia anterior, porém, Mainardi o levou para o Hospital Albert Einstein, em estado de coma. Ele encontrou o jornalista caído em seu apartamento, ao lado de três caixas vazias de Lexotan e Frontal. Segundo o boletim médico, Pimenta teria ingerido grande quantidade de tranquilizante. O jornalista passou a noite na UTI, com três policiais na porta e já na condição de prisioneiro. No dia seguinte, enquanto ele recebia a visita de duas irmãs e um cunhado já na unidade semi-intensiva, ISTOÉ tinha acesso a uma carta redigida por Pimenta e endereçada às suas filhas Andréa e Stephany, gêmeas de 28 anos, residentes com a mãe nos Estados Unidos. São 36 linhas manuscritas em duas folhas de papel sulfite, em que Pimenta se despede e pede perdão.

 

Na manhã da quinta-feira 24, Pimenta já tinha tomado banho e caminhava pelo quarto, esperando a chegada da ex-mulher e das filhas. Quando deixar o hospital, será levado para uma das celas do DHPP. Seus amigos asseguram que ele tentou o suicídio. A família de Sandra desconfia. “Isso não me convenceu. Queremos um laudo que comprove a quantidade de barbitúricos ingerida por ele”, diz o advogado Luiz Flávio Gomes, contratado pelos Gomide.

 

Obsessão – O desfecho trágico do romance entre o diretor de redação e a editora de economia parecia anunciado. Deprimido desde que demitiu a ex-namorada, Pimenta passou a frequentar a redação trajando roupas pretas e óculos escuros. Espalhou a notícia de que Sandra recebera propinas do empresário Wagner Canhedo, dono da Vasp, e que essa teria sido a causa da sua demissão. Ficou furioso ao saber que ao deixar o jornal, em conversa com a psicóloga da empresa, Sandra contou que perdera o emprego por ter terminado o namoro. Pimenta, então, reuniu os editores, leu o relatório da psicóloga e acusou a ex-namorada de incompetência. “Sempre que possível ele a difamava”, diz Nilton Gomide, irmão da jornalista.

“Pimenta não admitia a possibilidade de Sandra não depender dele para se empregar.” Quando saiu do Estadão, ela negociava uma vaga no Banco Opportunity. O ex-namorado descobriu e disse a pessoas influentes no banco que ela fora demitida por comportamento antiético.

A obsessão de Pimenta era tamanha que, fazendo valer a autoridade de diretor de redação, passou a censurar as notícias que direta ou indiretamente estivessem relacionadas a Sandra. Proibiu o colunista César Giobbi de publicar notas favoráveis às pessoas que mantinham alguma relação com a ex-editora de economia. Vetou reportagens sobre a Rede Globo, apenas porque uma das assessoras da emissora, Rosana Dias, era amiga de Sandra. Na última semana, trocou a reportagem de capa do caderno Telejornal, que trataria da minissérie global Aquarela do Brasil. Na quinta-feira 17, demitiu o repórter Carlos Franco, pois descobrira que o rapaz estava empenhado em ajudar a sua ex-namorada. A decisão surpreendeu a direção do jornal. Ruy Mesquita, um dos donos do Estadão, não entendia como Pimenta pôde demitir um funcionário a quem elogiava diariamente. No dia seguinte, o próprio Pimenta perguntou pelo repórter, como se não lembrasse do ato da véspera.

 

O jornalista estaria sob os cuidados de um terapeuta desde 28 de julho. Naquela ocasião, ele pediu demissão do jornal. Alegou não ter como trabalhar em razão de uma deficiência visual, stress por excesso de trabalho e do drama vivido por uma de suas filhas, que sofre de câncer. Os diretores do jornal não aceitaram o pedido e recomendaram o tratamento psicológico. Na sexta-feira 18, a demissão de Carlos Franco foi revista e Pimenta voltou a receber conselhos da cúpula da empresa. Sugeriram que ele se afastasse imediatamente. Mas não houve tempo.

 

 

 

Não à impunidade

 

 

 

Igreja Nossa Senhora Mãe do Salvador, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, deverá ser palco de um ato contra a impunidade no sábado, 26, às 10h. Durante a missa de sétimo dia de Sandra Gomide, amigos, parentes e colegas da jornalista pretendem divulgar um manifesto condenando o episódio e alertando para o “assassinato moral” da vítima. A intenção dos organizadores do ato, que contará com o apoio da ONG Sou da Paz, é não deixar que o caso seja abafado e termine na absolvição de Pimenta Neves.

 

 

 

Violência – No início deste mês, Pimenta já parecia ter perdido todos os freios. No sábado 5, Sandra chegou ao seu apartamento e encontrou o ex-namorado sentado diante do computador. Sobre a mesa havia um revólver e ele queria ler os e-mails dela, que havia trocado a senha dias antes. Houve uma discussão. Ele disse que iria matá-la ou se suicidaria caso o namoro não fosse reatado. Atracaram-se e foram batendo boca até que chegaram ao quarto. Lá, Pimenta mostrou que sobre a cama já estava seu pijama. “Vim para ficar com você para sempre”, gritou. Sandra disse não. O jornalista pegou um saco de lixo vazio e obrigou-a a devolver todas as jóias e roupas que ele havia lhe presenteado. Em seguida, com o dorso da mão, desferiu dois tapas no rosto dela. Sandra trancou Pimenta no quarto, correu até a sala e telefonou para o pai. Ao ouvir a conversa, o jornalista tomou-lhe o telefone e tentou tranquilizar o sogro: “Está tudo bem, só vim buscar as jóias”, disse. Quando Pimenta saiu, Sandra foi ao 36º Distrito Policial e registrou o Boletim de Ocorrência 003837/2000, denunciando a agressão. Naquela semana, ela dormiu na casa de um tio e contratou os serviços de um segurança.

 

 

 

 

Com a agressão física, Pimenta consumou pela primeira vez as ameaças que vinha fazendo contra Sandra, tanto por telefone como por e-mail. Para vigiar seus passos, alugou um apartamento no prédio onde ela morava. A ex-editora de economia teve seus telefones grampeados e foi através dessas escutas clandestinas que Pimenta conseguiu identificar os amigos da jornalista. Aqueles que trabalhavam no Estadão eram advertidos: “Pare de se relacionar com aquela vagabunda”, dizia aos flagrados. “Muitos se afastaram e isso ela lamentava, embora insistisse em dizer que Pimenta tinha um bom caráter”, contou um amigo de Sandra a ISTOÉ. Na quarta-feira 23, o Instituto de Criminalística de São Paulo recebeu 11 fitas gravadas. Sete são relativas aos grampos telefônicos e foram apreendidas no sítio de Pimenta em São Roque (SP), onde também foram encontradas balas de revólver, um punhal e um par de luvas cirúrgicas. As demais a polícia encontrou no apartamento de Sandra e são mensagens deixadas na secretária eletrônica. Os policiais também levaram para perícia o computador de Sandra, onde deverão encontrar os e-mails trocados com o equatoriano Jaime Mantilla e os recados ameaçadores de Pimenta. “Minha irmã não escondia o fato de estar sendo intimidada”, afirma Nilton Gomide.

 

 

Na semana anterior ao crime, Pimenta passou a andar armado. Na sexta-feira, antes de sair da redação, disse a um jornalista da casa que iria matar alguém. Apesar dos antecedentes, ninguém levou aquilo a sério. Na véspera do crime, Pimenta esteve no sítio da família de Sandra em Ibiúna, e almoçaram juntos. Estava calmo e não insistiu em reatar o namoro. No domingo 20, por volta das 7h, fez outra visita trazendo pães debaixo do braço. A mãe da jornalista abriu a porta e disse que todos estavam dormindo. Ele prometeu voltar mais tarde. Não voltou. Foi ao haras, cavalgou por duas horas, recusou um convite de Setti para almoçar e só retornou para cumprir a ameaça anunciada ao colega.

Poder – Dono de um currículo ímpar, Pimenta era o que se pode chamar de um homem bem-sucedido. Trabalhou nos principais órgãos de imprensa do País. Em 1974 mudou-se para Washington onde foi correspondente da Folha, Gazeta Mercantil e Estadão. Em 1986, assumiu a função de conselheiro do Banco Mundial e voltou ao Brasil em 1995. Dois anos depois passou a chefiar a redação de O Estado de S.Paulo. Namorou Sandra, uma jornalista filha de um mecânico de automóveis, que conheceu na Gazeta Mercantil, como repórter. Os amigos o definem como um sujeito instável. Visto como arrogante, ele tem orgulho de sua erudição e costuma ser intolerante com os subalternos. Após assassinar a ex-namorada, procurou exercer o seu poder. Na tarde do homicídio, depois de ligar para os Mesquita, conversou com Octávio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S.Paulo. A princípio, ficou acertado que a notícia do crime não seria divulgada pelos jornais dos Frias. À tarde, como o jornal Valor resolvera publicar a história, os demais voltaram atrás. Tiveram, porém, a preocupação de não mostrar as fotos dos protagonistas. Na segunda-feira 21, apenas os jornais cariocas O Globo e Extra saíram com fotos de Pimenta e Sandra. Na terça-feira, a Rede Globo reprisou uma antiga entrevista onde Pimenta condena a “justiça pelas próprias mãos”, segundo ele, “atributo de sociedades primitivas”. O diretor de jornalismo da Globo, Evandro Carlos de Andrade, diz que o caso foi tratado como qualquer outro e que só pôs no ar as declarações de Pimenta “porque eram contraditórias com o seu gesto”.

 

Nem o próprio jornal onde Pimenta trabalha desistiu de tratar do assunto com destaque. O Estado noticiou o crime na primeira página, embora com destaque menor que os concorrentes. “Só não demos as fotos porque não se tratava de um foragido. Ao que me constava, ele iria se entregar”, diz Fernão Lara Mesquita, diretor interino do jornal. Na segunda-feira, Pimenta ligou para a redação, criticou a cobertura: “A Folha estava melhor.” O fato de o acusado ser jornalista causou constrangimento entre os chefões da imprensa. Reuniões de editores vararam a tarde de domingo para que o tom das reportagens fosse cuidadosamente analisado. Para o professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Jair Borin, “a imprensa teve com Pimenta uma prudência que não teria se ele não fosse jornalista”. De fato, mesmo depois do crime confessado, Pimenta foi tratado como “suspeito”. “Se fosse um sujeito qualquer, seria chamado de criminoso, assassino, homicida. A manchete seria ‘Fulano mata jornalista pelas costas”, avalia Borin.

 

 

 

Colaboraram: Adriana Souza Silva, Cláudia Carvalho, Ines Garçoni, Juliana Vilas e Marina Caruso

 

 

 

No momento em que você terminar de ler esta frase, um tiro de revólver será disparado em algum canto do mundo. Dezenas de assassinatos acontecem a cada instante, mas pouquíssimos ganham tanto destaque quanto o de Sandra Gomide. As razões, teoricamente, são óbvias. Seu algoz é um influente jornalista, diretor de jornal, com um currículo invejável. A primeira pergunta que vem à cabeça: o que leva uma pessoa como essa a cometer homicídio? Especialistas são unânimes na resposta: é um tremendo desequilíbrio emocional, geralmente provocado por sentimentos que rondam as relações amorosas: ciúme, rivalidade, perda. “Na maioria das vezes se mata por ciúme. O apaixonado não tolera ser rejeitado, não consegue lidar com a frustração de ter sido posto para trás”, diz a psicóloga Magdalena Ramos, da PUC de São Paulo. “Neste caso ainda havia o ingrediente da diferença de idade. Não se pode desprezar 30 anos”, completa.

 

A tese parece correta, mas gera outra dúvida: por que alguns lidam melhor com a perda, a traição, o ciúme? Ou seja, por que só alguns apaixonados matam, agridem enquanto outros simplesmente se recolhem ao seu sofrimento? Segundo o psiquiatra José Alberto Del Porto, da Universidade Federal de São Paulo, esse comportamento é, de fato, um ponto de interrogação. “Por incrível que pareça, o doente mental é pacato. Paradoxalmente, as pessoas normais são as que mais cometem homicídio”, afirma ele.

Ações irracionais e apaixonadas como esta, portanto, inquietam a alma. Afinal, se alguém como Antonio Pimenta Neves foi capaz de matar, qualquer um de nós também seria. “Foi como disse Caetano: de perto ninguém é normal”, compara o psicanalista Jorge Forbes, de São Paulo. “Nada garante o bom comportamento humano. Mas quando um crime é cometido por alguém diferente da maioria, seja por atitudes anteriores ou pelo nível social e econômico, isso choca. Costuma-se, preconceituosamente, dizer: ele é um animal”, completa Forbes. Ele vai mais longe. “Se uma pessoa importante vira, de um dia para o outro um assassino, para se justificar a sociedade tenta encontrar uma explicação para essa atitude. A loucura é uma delas.” Forbes acredita ainda que ninguém, a não ser um especialista que acompanha o paciente de perto, é capaz de prever que a pessoa vai matar. “O eu previa, eu sabia não existe. Se sabia e não tomou atitude, é cúmplice”, sentencia o psicanalista.

 

Quem pelo menos desconfiava que Pimenta poderia se tornar um assassino, com certeza hoje está arrependido. Mas não tanto quanto ele. “Em geral quem comete um ato desses se arrepende depois. Antes de matar, ele não pensa”, atesta a psicóloga paulista Renata Aleotti. O maior sintoma de arrependimento seria o desejo de morrer. Para os especialistas, a tese de que ele teria tentado se matar com uma dose excessiva de calmantes é perfeitamente aceita. A psiquiatra Alexandrina Meleiro conta que 30% das pessoas que cometem homicídio tentam se matar logo após o assassinato. Outros 30% querem acabar com a vida quando “cai a ficha”. Em geral, eles usam o mesmo método do assassinato. Mas talvez Pimenta não soubesse que a dose ingerida de calmante (três caixas) não é suficiente para matar. Para morrer é necessário muito mais do que isso.

 

Carla Gullo

TRAIÇÃO, CIÚME E HUMILHAÇÃO: OS PRETEXTOS MAIS COMUNS

 

A MORTE DA PANTERA
Doca Street matou a mulher Ângela Diniz com quatro tiros, em 30 de dezembro de 1976, depois de uma discussão no chalé do casal em Búzios. Alegando defesa da honra, Doca tentou provar que a socialite tinha um caso com uma alemã que desapareceu após prestar depoimento. Condenado a dois anos de prisão, Doca se livrou por meio de habeas-corpus. Em 1981, grupos feministas protestaram, houve um novo julgamento e a pena aumentou para 15 anos. Doca cumpriu apenas cinco, parte em regime aberto, até obter liberdade condicional.

 

 

 

 

MARIDO TRAÍDO MANDA MATAR
O escritor León Eliachar (foto) foi assassinado com um tiro na cabeça em sua casa no Rio de Janeiro, no dia 1º de junho de 1987. O mandante do crime foi José Alberto Araújo, vereador e fazendeiro em Palmas, no interior do Paraná. Marido de Vera Bini Araújo, com quem Eliachar mantinha um caso amoroso, era também uma pessoa influente em sua cidade. José Alberto contratou dois pistoleiros para o crime. Eles usaram uma mulher loira para atrair o jornalista e chegar até seu apartamento.

 

 

 

 

ATRIZ OFENDIDA MANDA BALA
A atriz Dorinha Duval matou o marido, o publicitário Paulo Sérgio de Alcântara, com três tiros, em 5 de outubro de 1980. Durante uma discussão, Paulo Sérgio a chamou de velha e disse que não tinha mais desejo sexual por ela, o que despertou a ira da atriz. Ele era 16 anos mais novo que ela, que tinha 51 anos na época. Em 1983, Dorinha Duval foi julgada e condenada a 18 anos de prisão. O veredicto foi anulado em 1989 e a pena caiu para seis anos em regime semi-aberto. A atriz cumpriu mais oito meses de pena.

 

 

 

 

 

O CIÚME DOENTIO DE LINDOMAR
Eliane Aparecida de Grammont e Lindomar Castilho foram casados por um ano. O cantor desconfiava que a mulher tinha um caso com o primo dele, Carlos Randhal. Eliane, que também era cantora, foi assassinada com cinco tiros em março de 1981, no palco de um café em São Paulo. Na ocasião, Lindomar também feriu Randhal. O cantor alegou legítima defesa dizendo que fora agredido pelo primo antes de atirar, mas não convenceu. Foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão. Cumpriu a pena toda.

DRAMA REAL
O casal Guilherme de Pádua e Paula Thomaz matou a atriz Daniella Perez em 28 de dezembro de 1992 com 18 golpes de um objeto semelhante a uma tesoura, que a polícia não conseguiu encontrar. Daniella e Guilherme formavam o par romântico da novela De corpo e alma. A defesa de Pádua alegou que ele tinha um caso com a atriz, motivo que teria levado Paula a matá-la. No entanto, ambos foram condenados em 1997. Guilherme pegou 19 anos de prisão e Paula, 18 anos e meio. Hoje, estão em liberdade condicional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

UM CASO SEM SOLUÇÃO
Em 4 de junho de 1998, a advogada Patrícia Aggio Longo, grávida de três meses, foi assassinada na porta de um condomínio em Atibaia, no interior de São Paulo. As suspeitas recaíram sobre seu marido, o promotor Igor Ferreira da Silva, que ficou em prisão preventiva e foi libertado em 42 dias. O Órgão Especial do TJ entendeu que não havia provas suficientes para incriminá-lo. Os pais de Patrícia acreditam na inocência do genro, garantindo que o casal vivia feliz. O processo ainda tramita na Justiça.