A história de João Alberto e Mirtes é um conto de fadas em alta rotação. Eles se conheceram em 1987, no Ceará, onde João, um estudante de Direito, fazia bicos como guia turístico e Mirtes passava férias. Do primeiro papo à beira-mar nasceu a paixão fulminante. Dias depois, porém, Mirtes retornou a Minas Gerais. Para sua surpresa, recebeu pelo correio um par de alianças de noivado. Em seguida, quem apareceu em Montes Claros foi João, em carne e osso, avisando: "Vim aqui para casar." Foram morar em Fortaleza, mas as perspectivas não eram das melhores. Depois de ler um anúncio recrutando profissionais liberais para Tocantins, resolveu vender tudo, até seu adorado Ford Landau 80 e seguiu para Palmas, que completou dez anos em junho registrando o maior crescimento entre as capitais. Segundo índices de 1997, esse crescimento foi de 28,7%. João e Mirtes são de certa forma o exemplo de uma aposta acertada numa terra que continua oferecendo oportunidades.

Idealizada à imagem e semelhança de Brasília, só que em proporção menor, trata-se da última cidade planejada a ser construída neste século e o maior orgulho do governador do Estado recém-criado, Tocantins, o cearense Siqueira Campos. "Temos o projeto de urbanização mais moderno do País", assegura ele. A poeira que incomodava os pioneiros literalmente baixou. Atualmente 80% das ruas da capital, hoje com 110 mil habitantes, estão asfaltadas e, para Siqueira, a cidade, onde ainda há muito a se fazer em todos os setores, é uma das alternativas para quem se cansou dos problemas das grandes cidades. "As metrópoles frustram as expectativas das pessoas, geram muita desesperança e oferecem uma qualidade de vida zero. A saída está aqui", diz.

Palmas tem ares de cidade do interior, com grandes áreas a serem ocupadas, e obras públicas surgindo por todos os lados. Quem chegou lá há quase dez anos passou apertado. João, por exemplo, morou com a mulher e os dois filhos recém-nascidos num quarto com banheiro coletivo. Hoje é procurador do Ministério Público e professor universitário. Mirtes trabalha como assistente social. A renda do casal é superior a R$ 5 mil por mês, bem acima da renda per capita da cidade, que está em torno de US$ 4,5 mil anuais – um pouco abaixo da média do Brasil. Palmas, porém, não é só facilidades.

Siqueira Campos circula num Opala Diplomata 86, seis cilindros a álcool. O carro reforça a imagem populista do velho cacique político de 70 anos que fez até greve de fome para que Tocantins fosse criado. Mas Siqueirão, como ele é mais conhecido, não é homem que se importa com as aparências, como aliás a grande maioria dos habitantes de Palmas. Siqueira Campos, como boa parte dos seus eleitores, teve uma origem humilde. Foi office-boy do líder comunista Luiz Carlos Prestes – um dos seus ídolos e cujo Memorial está sendo erguido próximo do Palácio do Governo –, além de seringueiro e operário em tecelagens. "Sou um homem simples. Sei que nem preparado estou, sou um burro de carga que não pode ter fraquezas na subida", costuma dizer de si próprio.


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