A estratégia de invadir, ocupar e produzir, tradicionalmente adotada pelo MST, acaba de ganhar uma faceta inusitada no centrão do Paraná. Como reflexo do recrudescimento dos conflitos agrários na região, na semana passada o MST retirou de uma fazenda invadida 567 cabeças de gado e, depois de percorrer 35 quilômetros com os animais, soltou-os no parque de exposições da cidade de Ivaiporã. Em seguida, avisou que se o dono da fazenda não retirar o resto do rebanho até o final do mês, as cercas da propriedade serão derrubadas para que o gado se espalhe pelas estradas. Com o protesto e as ameaças, o MST pretende pressionar o Incra e o governo do Paraná a assentarem as quase 700 famílias que, desde abril de 1997, ocuparam a Fazenda Corumbataí. Conhecida como Sete Mil, devido a suas antigas dimensões, a propriedade tem vocação pecuária e hoje soma 5,8 mil alqueires, o que equivale a 14 mil hectares. "Só posso aguardar uma solução pacífica para o impasse, mas jamais vou desistir da fazenda, que é produtiva e foi comprada com o produto de meu trabalho, há mais de 40 anos", afirma o dono da Sete Mil, Flávio Pinho de Almeida.

Embora tenha o mandado de reintegração de posse de suas terras, desde a época da invasão Pinho de Almeida não pode entrar na Sete Mil, onde ainda tem mais de quatro mil cabeças de nelore. Em contrapartida, os sem-terra afirmam estar dispostos a resistir a qualquer tentativa de desocupação e consideram o gado um risco às plantações que pretendem começar em agosto. Para marcar posição, acenam com outra ameaça, que já foi adotada em outras ocasiões pelo MST: a invasão de prefeituras. No caso, as sedes da administração de Ivaiporã e das cidades vizinhas Jardim Alegre e Godoy Moreira, que também abrigam terras da Sete Mil. "É bom que os governantes saibam que a palavra despejo não faz parte do nosso dicionário", ameaçou um dos coordenadores regionais do MST, Vilmar da Silva, durante protesto promovido em frente ao parque de exposições de Ivaiporã.