Morreu no Rio de Janeiro na semana passada, de câncer e aos 87 anos, o carnavalesco Fernando Pamplona. Professor da Escola Nacional de Belas Artes e sambista branco da alta classe média, dele podia-se esperar o reforço dos temas dos Carnavais moldados pelo Estado e herdados da era Vagas no chamado “samba exaltação”: o nativismo acrítico na idolatria ao índio, a eterna vitória-régia, as personagens da literatura. Pamplona atravessou esse ritmo: denunciou na avenida a desigualdade social em evoluções impecáveis e assim deu o primeiro título à sua Acadêmicos do Salgueiro com o enredo “Quilombo dos Palmares”. Era o Carnaval carioca de 1960. Um bom abre-alas para quem se interessar por sua biografia: quando em 1989 seu aluno Joãosinho Trinta viu-se na iminência de ser preso no comando da Beija-Flor de Nilópolis ao pôr no sambódromo um Cristo Redentor fantasiado de mendigo, Pamplona gritou ao microfone da extinta TV Manchete: “Evolui na avenida, João! Eu vou preso com você!”.