Na capa da revista "The Economist", para muitos a bíblia dos mercados internacionais, o Brasil já foi um foguete, na forma do Cristo Redentor, rumando para as alturas. Isso foi há quatro anos. Agora, na mesma publicação, essa nave apontava para baixo, numa representação gráfica de inevitável colapso. Será essa a atual imagem internacional do País? Ou será a da frustração do mais ambicioso de nossos empresários, Eike Batista, ao confirmar na semana passada que não honraria uma dívida de R$ 100 milhões em juros referentes ao dinheiro que captou para impulsionar a OGX, uma petrolífera que chegou a ser apontada como símbolo de um novo momento nacional, o da sua afirmação como potência global? O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que juntamente com os bilhões de Batista derreteu parte da reputação do nosso empresariado, já que, de forma injusta, quem olha de longe costuma ver o todo a partir de um único mau exemplo. É assim que agem as agências de classificação de risco como a Moody’s, que rebaixou de “positiva” para “estável” a avaliação dos títulos brasileiros. A coincidência de fatos negativos carrega o Brasil para dentro de um nevoeiro. Nessas horas, para se enxergar bem, é preciso ir a fundo nas avaliações.

É o que costumam fazer grandes empresas ao analisar futuros investimentos produtivos. A julgar pelo número de anúncios recentes de apostas no mercado brasileiro, talvez o tal foguete que decolou anos atrás não tenha feito a trajetória que a revista inglesa sugere agora. A indústria automobilística, para citar um exemplo, fez do País o cenário de uma corrida das notícias positiva. Montadoras como Audi, Volkswagen, Mercedes e BMW confirmaram a construção e ampliação de fábricas. No varejo, marcas como Gap, Forever 21 e Top Shop, que costumam atrair dólares brasileiros no Exterior, abrem aqui lojas em busca de reais. Que imagem têm do Brasil? Para eles, abaixo da névoa financeira há um país que produz e consome, cujo interior agroindustrial avança em ritmo chinês. Se leu a bíblia dos mercados, a turma da produção parou no oitavo parágrafo do texto da “The Economist”. Ali está descrita uma imagem do Brasil real: “Graças a seus fazendeiros empreendedores e eficientes, é o terceiro maior exportador mundial de alimentos. Mesmo se o governo tornar seus processos mais lentos e custosos do que deveriam, o Brasil será um grande exportador de petróleo em 2020. Possui uma série de joias industriais e desenvolve uma base de pesquisas de classe mundial em biotecnologia, ciências genéticas e na tecnologia de exploração de petróleo e gás em águas profundas. Suas marcas de consumo, que cresceram juntamente com a classe média em expansão, estão prontas para ir para o Exterior. Apesar dos recentes protestos, o País não tem divisões sociais e étnicas que tumul­tuam outras economias emergentes, como Índia ou Turquia.”