Como toda nova tecnologia, a Internet ameaça profissões bem estabelecidas – alguns agentes de viagens, por exemplo, já estão preocupados em se adaptar aos novos tempos. Temem que a venda direta de passagens, feita pelas companhias aéreas, devore parte de seus clientes. A United Airlines faturou online US$ 200 milhões em passagens aéreas nos Estados Unidos em 1998 e quer tornar este serviço disponível também para os brasileiros. Mas o inimigo pode se tornar aliado. Depois de trabalhar durante oito anos como free lancer para agências de turismo, a goiana Juliana Dias decidiu, em outubro passado, montar um escritório próprio em casa. Tornou-se uma franqueada da operadora Flytour. "Fico ligada à Internet para fazer as reservas nas companhias aéreas e nos hotéis. O trabalho é compensador, mas às vezes bastante desgastante, porque não tem hora para terminar", conta. Em média, seu faturamento mensal é de R$ 120 mil. O que significa uma comissão final de R$ 3,5 mil. A idéia deu tão certo que a Flytour (www.flytour.com.br) vai franquear todos os seus free lancers e já abriu inscrições para cursos de agente de turismo por R$ 3 mil. Recebeu mais de 60 inscrições.

Por enquanto, em vez de ser um risco para o agravamento do desemprego no Brasil, a Internet tem se mostrado uma solução. Segundo a Associação dos Provedores de Acesso, o setor já emprega mais de 100 mil pessoas por aqui. Além de criar novos campos de trabalho, como designers de sites e webmasters (aqueles que cuidam da tecnologia por trás das páginas), se tornou um grande diferencial para quem batalha uma vaga entre a legião de mais de cinco milhões de desempregados espalhados pelos grandes centros do País. Centenas de empresas vêm abolindo o antigo sistema de receber currículos impressos e estão abrindo vagas via Internet. "Há oito meses aceitamos pedidos de emprego apenas através de e-mails. Mesmo os oficce-boys e as recepcionistas devem saber manejar a Internet, pois trabalhamos com um plano de carreiras muito ágil", declara Sofia Refinetti, responsável pelo recrutamento da indústria de softwares Microsiga (www.microsiga.com.br), de São Paulo. A cada mês, 20 vagas são abertas pela empresa.

O mercado de empregos tem se voltado cada vez mais para a Internet e os profissionais devem estar atentos. O grupo Catho (www.catho.com.br), uma das maiores companhias de recolocação de trabalhadores, começou há dois anos e meio a publicar na rede mundial de computadores as vagas disponíveis de empresas e currículos de profissionais. "Antes a gente tinha uma média de 500 empregos disponíveis. Agora, o número saltou para 15 mil", declara Thomas Case, presidente do grupo. Quem procura emprego precisa pagar R$ 30 por mês ou R$ 15, se buscar vaga para estagiário, para ter seus dados online. A contadora Solange Waileman arriscou e se deu bem. Insatisfeita com o trabalho que tinha em uma companhia de laticínios, queria se empregar em uma multinacional. Chegou a contratar pessoalmente, durante seis meses, uma empresa de recolocação. E nada. Entrou na Internet, enviou o currículo para o site da Catho e em quatro semanas estava na multinacional alemã de robótica e automação industrial Kuka, de São Bernardo do Campo. "Fiquei impressionada com a rapidez do processo. Hoje ganho 35% a mais e tenho mais campo para crescer profissionalmente." Outra agência de emprego virtual é a Precisa-se (www.precisa-se.com.br), da editora Guia 2000, de Santos, que possui mais de mil vagas e 430 currículos disponíveis.