Se o impacto da Internet parece mais visível na infinidade de lojas que passam a oferecer seus produtos pela rede, ela é muito mais poderosa nas entranhas das empresas. Mesmo gigantes multinacionais, como o grupo Volkswagen, começam a refazer sua forma de atuação para se ajustar a este novo meio de fluxo de informações. "Desde 1996, trabalhamos com uma rede privada para fazer as encomendas junto aos fornecedores. Isso eliminou os contatos pessoais e reduziu o tempo de fechamento de contrato de oito semanas para até dois dias. Agora vamos passar a trabalhar com a Internet", declara Sergio de Macedo, gerente de tecnologia da Volkswagen no Brasil (www.volkswagen.com.br). A vantagem é que a rede mundial de computadores permite que fornecedores de qualquer país participem das concorrências, enquanto a privada limita a companhia às 700 fábricas de autopeças cadastradas. Em 1998, a filial brasileira gastou R$ 4 bilhões em encomendas.

O exemplo da Volks explica por que a venda para o consumidor final deverá movimentar menos dinheiro do que as transações entre empresas. Estima-se que atinja cerca de US$ 1,1 trilhão no mundo todo em 2003 contra cerca de US$ 200 bilhões do comércio eletrônico. Para entrar neste universo, as empresas precisam dominar novas tecnologias para gestão de seus negócios. Todas utilizam como base as redes de computadores. Há outras duas variações além da Internet: a Extranet (que tem acesso limitado e exige senha) e a Intranet (que está restrita aos funcionários da corporação). "Elas interagem e exigem uma estratégia de ação bem definida da empresa", explica Celso Castro, diretor da filial brasileira da Nedecon, empresa finlandesa que desembarcou em março por aqui para justamente planejar e desenvolver projetos para a rede. "No final das contas, tudo isso significa redução de custos, aumento de competitividade, barateamento de produtos", resume Castro. Muitas companhias estão de olho nisso. Os Correios (www.correios.com.br), por exemplo, dependem do projeto de lei de reforma do setor postal, que está no Congresso e, além de eliminar de vez o monopólio do envio de cartas e telegramas, vai permitir que a empresa se transforme numa S/A e fique mais ágil. "Os Correios seguem com seu papel social de levar serviços a localidades remotas, mas compensará estes custos com ganho de competitividade", afirma Wagner Moreira dos Santos, gerente do projeto. Não por acaso a empresa criou novos serviços, como cartas e telegramas via Internet, que atendem a quem, na outra ponta, ainda não tem computador. Começa a ganhar espaço com a entrega de encomendas do comércio eletrônico por Sedex e vai estar na Fenasoft. O interesse das empresas brasileiras é tamanho que a IBM mudou o nome de seu evento anual, antes chamado de e-business. No final de junho, reuniu mil executivos no Fórum e-ritmo. "Sentimos que os negócios começam a ganhar ritmo, o mercado amadurece", justifica a diretora Lilian Picciotti. "As empresas precisam se reposicionar", aconselha. Assim como fez a própria IBM, que em crise na metade dos anos 90 deixou de focar exclusivamente a produção de computadores para investir no conceito de e-business. Em 1998, faturou no mundo US$ 3,3 bilhões com produtos relacionados com Internet e, somente no primeiro trimestre de 1999, já alcançou US$ 2,5 bilhões. "Este processo é irreversível. É água morro abaixo", define Augusto Pinto, presidente no Brasil da SAP, empresa que faz software de gestão empresarial e é uma das parceiras da IBM.

 

Onde o Brasil põe banca

Quem só conhece a imagem austera do Bradesco, encravado na Cidade de Deus, em Osasco, para ser o maior banco privado brasileiro, não faz idéia de que ali está um exemplo de modernidade. Quando o assunto é Internet, ele é apontado como um fenômeno que extrapola as fronteiras do Brasil. Até Bill Gates já o elogiou publicamente. "Nós somos melhores do que os americanos na área de bancos", diz com orgulho Odécio Gregio, diretor de informática. Os números do BradescoNet (www.bradesco.com.br) são impressionantes: 650 mil clientes cadastrados, 3,7 milhões de acessos em junho. E a tendência é crescer: deve fechar o ano com 850 mil usuários e alcançar 1,2 milhão no final de 2000.

Além de reduzir custos e ajudar a esvaziar as agências, a Internet serve para multiplicar e agilizar as possibilidades de negócios do Bradesco. A mais recente novidade é o Shopinvest, um shopping de investimentos. Nele, o correntista tem acesso a uma enorme gama de aplicações: ações, imóveis, previdência, fundos, títulos de capitalização, poupança. Lançado em março, ele movimentou R$ 18 milhões dois meses depois. Os imóveis que o banco obtém através da execução da garantia de devedores, em vez de irem a leilão, são oferecidos na rede. Resultado: vendas mais rápidas, muitas delas com financiamento do próprio Bradesco. Novos negócios, novos investidores. Dos dois mil compradores de ações via Internet, 81% são novatos, como a gerente aposentada Vera Lúcia Pioto, 47 anos. "O Shopinvest deu acesso ao pequeno investidor, que não tem muito dinheiro e, ao mesmo tempo, precisa de informações bem didáticas", avalia.