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LAR, DOCE LAR
Sem planos de aumentar a família, Ana Paula e Roberto Rodrigues
compraram um apartamento de um quarto e apostam na valorização dele 

Nas grandes metrópoles do mundo, onde a falta de espaço é crônica e o preço do metro quadrado beira a estratosfera, os imóveis pequenos são a regra. Só os muito ricos conseguem morar nas áreas nobres e centrais da cidade em amplos apartamentos, com vários quartos, dependência de empregada e varanda gourmet. Essa tendência está chegando ao Brasil. Em São Paulo, a casa própria – sonho de dez entre dez brasileiros – está cada vez menor. Desde 2007, a área média dos imóveis diminuiu 30% (caiu de 102,33 m2 para 71,58 m2) e o mercado de apartamentos de um quarto explodiu. Enquanto as vendas no setor cresceram 46% comparando-se o primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2012, no segmento de um dormitório o salto foi de 330%, segundo dados do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). A expectativa é de que sejam comercializadas entre 7,5 mil e 8 mil unidades este ano, um recorde.

O principal motivo do boom dos compactos é financeiro. Como as aplicações têm apresentado menor rendimento, as pessoas estão recorrendo aos imóveis para fazer o dinheiro render, seja pela valorização, seja pela locação. “Nesse segmento, 90% das unidades são adquiridas por investidores”, diz Bruno Vivanco, vice-presidente comercial da Abyara Brasil Brokers. Mas a demanda por apartamentos diminutos também é motivada pelo estilo de vida de quem mora nos grandes centros urbanos, onde as pessoas preferem viver perto do trabalho, de eixos de transporte coletivo e em áreas onde está disponível uma vasta gama de serviços. “Além disso, as famílias diminuíram e são formadas mais tarde”, diz Maria Lucia Refinecci Martins, professora da área de planejamento urbano e regional da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com ela, o quadro atual do mercado imobiliário é outro fator importante para impulsionar esse mercado. “O preço do metro quadrado subiu muito nos últimos anos; com isso as pessoas só conseguem pagar imóveis menores”, diz ela.

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De olho nesse filão, as construtoras multiplicam a oferta de compactos. “Hoje eles representam 30% dos nossos lançamentos em São Paulo, é uma participação muito maior do que no ano passado”, diz Fátima Rodrigues, diretora-geral de vendas e lançamentos da imobiliária Coelho da Fonseca. O fenômeno é mais visível na capital paulista, mas outros centros urbanos também começam a vivenciar essa situação, como Rio de Janeiro, Distrito Federal e Goiânia. O Rio, no entanto, tem uma particularidade. Embora exista demanda, a oferta ainda é escassa. No primeiro semestre de 2013, foram lançadas apenas 151 unidades residenciais de um dormitório na cidade, enquanto os demais somaram 5.755 unidades. “Percebemos que há um grande interesse pelos apartamentos menores. Mas ainda há certa resistência em relação aos de um quarto”, afirma Leonardo Schneider, vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-RJ). A cultura imobiliária da cidade, segundo ele, é de associar espaços menores a construções antigas.

O aquecimento do setor também vai influenciar outras áreas do consumo, como a de móveis adequados a espaços diminutos. Dono da empresa Mobili Inteligente, que importa móveis transformáveis, Jr. Pimenta percebeu esse novo mercado há dois anos. “Vi muitos lançamentos de 30 m² e 40 m² e concluí que os móveis tradicionais não caberiam nos ambientes. Resolvi investir”, afirma ele, que aposta num forte crescimento em 2014. Do catálogo da Mobili, Pimenta destaca o sofá que vira beliche. “É fácil de usar e economiza espaço.”

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Sem planos de aumentar a família tão cedo, o vendedor Roberto Rodrigues Medeiros, 25 anos, optou por comprar um apartamento de um quarto para morar com a mulher, Ana Paula Todisco, 24, depois do casamento. A aquisição ocorreu em 2010, e o imóvel, na Grande São Paulo, custou R$ 147.900. “Era o que podíamos pagar”, conta Medeiros. O casal vive no imóvel desde setembro do ano passado. Para Ana Paula, a compra foi também um investimento. Ela afirma que o apartamento deve valer atualmente cerca de R$ 270 mil.

Raciocínio semelhante seguiu o advogado Flavio Rocchi Júnior, 33 anos. Em março, ele comprou um apartamento de um quarto na planta no Pacaembu, na zona oeste, por R$ 800 mil, onde pretende viver com a namorada, Ariane Longo, 32 anos. “Gostamos do prédio e da localização, é perto do metrô e dos nossos trabalhos”, explica Rocchi. No futuro, eles pensam em alugá-lo e se mudar para uma casa mais ampla. “Apartamentos maiores, hoje, têm um público restrito. Para os compactos há mais interessados”, afirma ele, que é um investidor do mercado imobiliário.  

Fontes: Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO) e Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS)


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