As fãs da maquiagem podem ficar satisfeitas. Se os efeitos visuais que ela provoca já são pura mágica, as consequências do seu uso para a pele também começam a não fazer feio. Graças à moderna tecnologia da indústria cosmética, os batons, bases, pós e sombras, longe de ressecar o rosto, estão se transformando em mais uma ajuda para melhorar a pele, contribuindo para sua proteção contra agentes externos como o sol e a poluição, e para retardar o envelhecimento. Esse apelo terapêutico – uma tendência que começou há cerca de dois anos – está cada vez mais forte. Recentemente em São Paulo, durante a HBA South America, a principal feira de tecnologia no setor cosmético da América Latina, ficou evidente que a grande preocupação da indústria, além de fazer produtos que durem mais, com um efeito mais natural, é adaptar o maior número possível de ingredientes disponíveis nos cremes de tratamento antienvelhecimento às fórmulas da maquiagem.

Entre os ingredientes da maquiagem e que têm ação comprovada estão as novas gerações de ceramidas. Essas moléculas possuem a capacidade de formar uma espécie de filme sobre a pele, impedindo que ela desidrate. Isso porque as ceramidas retêm a água que seria perdida durante a transpiração e, dessa forma, mantêm a hidratação natural. E pele hidratada é pele mais protegida. Na linha da maquiagem hidratante também está confirmada a ação dos peptídeos, das moléculas de colágeno e da elastina. Todas essas substâncias funcionam porque também formam uma capa protetora sobre a pele.

Os filtros solares são outros componentes que começam a ser incluídos cada vez mais nas receitas das maquiagens. A vantagem é que eles funcionam como neutralizadores contra os raios ultravioleta, que danificam a derme e levam ao envelhecimento precoce. Mas é importante lembrar que a maquiagem com protetor solar não substitui o filtro propriamente dito. "Mulheres muito claras precisam de fator de proteção solar elevado, como o 30 ,e não há pó ou base com essa fotoproteção", lembra a farmacêutica bioquímica Maria Valéria de Paola, da Universidade de São Paulo. Esse tipo de maquiagem mais sofisticada foi um avanço que a manequim Elizabeth Matsuura, 45 anos, adotou. "Uso maquiagem todos os dias, e as bases antigas ressecavam muito. Agora, percebo que a pele fica até mais macia", constata.

Outras vedetes das novas maquiagens são as vitaminas. Mas a inclusão das vitaminas A, C e E, como maneira de acrescentar uma função antioxidante (que previne o envelhecimento) nesses produtos ainda gera polêmica. Há uma grande estratégia de marketing embutida nesse produto. É aquela que faz a consumidora acreditar, por exemplo, que uma pincelada de sombra com a adição de vitamina E levaria, além de cor ao redor dos olhos, uma pitada de poção antienvelhecimento precoce da pele. No entanto, nada está provado. "A medicina ainda não demonstrou que a maioria dos antioxidantes funciona sequer tomados via oral", lembra o cirurgião plástico Maurício de Maio. Também não se sabe se a quantidade de vitamina contida nesses produtos seria eficaz. "Pela lei, a indústria é obrigada a declarar todos os componentes que utiliza, mas não tem que explicitar em que concentrações", explica Maria Valéria.

Enquanto o dilema prossegue, a tecnologia não pára. Também estão sendo lançados o Raffermine, espécie de firmador da pele que ajudaria a prevenir rugas, do laboratório Galena, e uma categoria de pigmentos que disfarçam rugas, como os produzidos pela Merck. Contidos nas bases, esses pigmentos em forma de microesferas preenchem as depressões que caracterizam a ruga, proporcionando um efeito ótico de pele lisa. Nos próximos meses, deverão estar também no mercado nacional os cosméticos à base de lactobacilos – qualquer semelhança com o Yakult das crianças não é mera coincidência. A Yakult Cosmetics pretende introduzir uma linha de produtos biotecnológicos, embora não possa dizer ainda que efeitos teria esse tipo de maquiagem.