No Paraná, seu berço político, o ministro do Esporte e Turismo, Rafael Greca, é conhecido como um homem extremamente sensível. Desses que se emocionam facilmente. Nos últimos dias, essa imagem começou a ganhar dimensão nacional. Em seu gabinete, ele recebeu um telefonema de Chitãozinho, da dupla sertanejo pop Chitãozinho & Xororó. Conversaram por alguns minutos e o cantor lhe encaminhou um fax com a letra de uma moda de viola (leia quadro) chamada 500 anos, assinada por Paulo Bettio e Paulo Rezende. Era a resposta caipira a um pedido feito pelo próprio Greca, em março passado. O ministro leu a letra e não conteve as lágrimas. Ficou tão emocionado que resolveu chamar a imprensa para divulgar os 43 versos sertanejos, que ganharam música da dupla e serão faixa de seu próximo álbum previsto para ser lançado em outubro. Ao agir mais com a emoção do que com a razão, Greca acabou colocando os artistas no meio de uma arena. Políticos e artistas não tardaram para disparar suas farpas. Um dos primeiros foi o deputado estadual Chico Alencar (PT-RJ). "A música é ufanista demais", disparou.

Na letra lida ao ministro, o sertanejo recitou: "O meu país é uma arena gigantesca/onde eu bebo água fresca/nas cacimbas do sertão." O deputado retrucou ironizando: "Meu país não vai me chamar de besta/acabou a água fresca/nas cacimbas do sertão." Segundo Alencar – que é professor de História e está escrevendo um dos volumes de A redescoberta do Brasil –, a canção apresentada ignora completamente a "renovação que está ocorrendo no conhecimento histórico do Brasil". Tratando a canção de Chitãozinho & Xororó como um hino dos 500 anos, o ministro Greca também provocou reações iradas entre os compositores. Tom Zé, Gabriel O Pensador, Aldir Blanc e outros questionaram a letra e o gênero. Paulo César Pinheiro foi taxativo. "De Pixinguinha até hoje há ótimas composições para se comemorar a data. O mais natural seria um concurso."

Semana passada, o ministro tentou colocar os pingos nos is. Reconheceu que se emocionou, admitiu ter adorado a letra e foi enfático ao afirmar que não se trata de um hino e nem exclui que outras canções sejam apresentadas. "Ninguém pagou nada pela música. Logo, ela não pode ser tida como hino ou canção oficial", disse Greca a Istoé. "Que venham todos os sambas, frevos, raps e maracatus. Será muito bonito se os poetas maiores da Bahia, Gil e Caetano, Gal e Bethânia, Daniela, Armandinho, Carlinhos Brown e tantos outros revoguem da música do Chitão o título de única." Afinadíssimo com o ministro, Chitãozinho faz a segunda voz. "Vou divulgar nossa música e os demais que divulguem o que fizerem. O povo irá cantar o que preferir na comemoração dos 500 anos", enfatiza. "Apenas atendemos a um pedido do ministro, que é nosso admirador. Isso nos enche de orgulho e talvez incomode algumas pessoas."

Colaborou Isabela Abdala (Brasília)