O prefeito de Guarulhos, Jovino Cândido (PV), acredita em sinais. Há 27 anos, recebeu um. Ator, participou de um filme onde encarnava um padre de araque que entrava numa empresa com uma arma escondida dentro da Bíblia. Ele foi usado num assalto que não deixou um centavo. O nome da película era profético: O instrumento da máfia. Recentemente, Jovino transformou-se no protagonista de uma novela do mal na vida real, com direito a chantagem, propina, assassinatos, tudo que faz um filme de bandidagem dos bons. O esquema de corrupção denunciado pelo prefeito é de deixar o cabelo em pé.

Estima-se que R$ 27 milhões dos cofres guarulhenses vão para o ralo da corrupção a cada ano. Vereadores são acusados de tentar achacar o poder municipal de maneira desabrida, exigindo polpudas mesadas que chegam a R$ 50 mil mensais, fora extras de até R$ 200 mil, em troca de apoio aos interesses do Executivo em comissões. De acordo com depoimento sigiloso prestado por Jovino a promotores e delegados, cuja transcrição foi obtida por ISTOÉ, pelo menos 13 dos 21 integrantes da Câmara Municipal teriam sido explícitos na exigência de agrados, na forma de dinheiro e cargos.

Desde setembro de 1998, quando assumiu o lugar do prefeito Néfi Tales (PDT) – afastado pela Justiça por ter engordado seu patrimônio pessoal em R$ 4,5 milhões, segundo o Ministério Público –, Jovino conta que vinha sendo pressionado. Num escabroso relato feito aos promotores na quarta-feira 14, ele afirma que até o presidente da Câmara, Osvaldo Celeste Filho (PPB), estaria no esquema e "intermediava os interesses financeiros da empresa Transcar" e teria pedido R$ 40 mil mensais para hipotecar, literalmente, apoio político. "Me diziam: tem que seguir o curso do rio. Vá ganhar dinheiro. Mantenha nosso esquema."

Jovino afirma que sua cabeça está a prêmio. Informantes lhe contaram que o traficante Rogerinho, que comanda uma favela na cidade, já teria recebido um adiantamento de R$ 20 mil de um total de R$ 80 mil para trazer do Rio de Janeiro as armas que seriam usadas na execução. Guarulhos tem uma história política permeada pela truculência. Há dois anos, o secretário de Finanças, Manoel da Silva, foi assassinado depois de começar a investigar as contas municipais. O suspeito do crime também foi morto meses depois. No sábado 10, o vereador Toninho Magalhães (PMDB), um dos acusados de cobrar propina, foi encontrado baleado na cabeça, morrendo seis dias depois. Exames encontraram resíduos de metal nas mãos do vereador, o que pode ser considerado indício de que se matou. "Ele estava desequilibrado. E se algumas pessoas achassem que ele poderia falar demais no depoimento que prestaria aos promotores", indaga Jovino, lançando a suspeita de queima de arquivo. O prefeito garante que tem conversas gravadas com oito vereadores, três empresários e um deputado estadual com pedidos. "Elas são meu seguro de vida."


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