infográfico: Alex Silva

Nas duas guerras mundiais, era comum o uso de fortificações subterrâneas para se proteger dos ataques. Eram os bunkers. Hitler mandou construir o mais célebre deles abaixo da chancelaria, em Berlim. Lá, de acordo com os registros históricos, teria se matado com sua mulher, Eva Braum, e a cachorra Blondie ao fim da Segunda Guerra, em 1945. O magnata e ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, autoridades soviéticas, albaneses, o terrorista Osama Bin Laden e o ditador iraquiano Saddam Hussein aderiram depois à idéia. Nos dias de hoje, versões luxuosas dessas estruturas começam a ser adotadas por milionários brasileiros como alternativa de segurança doméstica. Construídos embaixo de casas de luxo, esses abrigos são equipados com banheiro, cozinha, sala, DVD, televisão e um estoque de água, comida e remédios para até 30 dias, renovado a cada duas semanas. Levam em média um ano para ficar prontos e resistem a explosões moderadas, incêndios e até ao desabamento da casa superior. A estrutura é feita com um concreto especial utilizado em pontes e viadutos. As paredes têm de 40 centímetros a um metro de espessura (leia quadro).

Há oito anos existiam apenas nove bunkers no País. Hoje, 110 famílias, 82 delas em São Paulo, já contam com esse tipo de fortaleza para se proteger. “É uma medida extrema, com uma certa dose de exagero em 95% dos casos”, afirma o especialista em segurança Ricardo Chilelli, da RCI Consultoria, responsável pela construção de 71 desses bunkers e pela proteção de 52 das mais ricas famílias do País. Ele alerta para a necessidade de uma análise de risco para avaliar se o investimento compensa. “Não adianta construir um bunker se o criminoso puder abordar a vítima na área externa da propriedade”, esclarece.

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O bunker é um apartamento fortificado de um único nível, localizado a cinco metros de profundidade. Há banheiro, quartos, sala, aparelhos eletrônicos, telefone e um circuito interno de tevê com visualização completa da casa principal, até mesmo no escuro. Em geral, fica embaixo do jardim, já que no subsolo da casa ficam concentrados os encanamentos e vigas de metal. Não há janelas. O sistema de ventilação tem canos duplos camuflados no jardim na forma de fontes ou de estátuas. Há um sistema de circulação com filtros de limpeza, para os casos de inserção de gases tóxicos. Para as emergências, estão disponíveis máscaras de ar para cada um dos usuários do bunker. O interfone é conectado com a empresa de segurança, vizinhos e empregados. Fora da casa há uma antena de celular camuflada, conectada a três celulares pré-pagos com cobertura na região. Esses aparelhos podem ter conexão via satélite ou com a internet. Alguns mais sofisticados possuem saída de emergência alternativa de 10 a 50 metros de extensão. A saída do bunker de um grande empresário brasileiro é numa discreta capela.

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O custo varia de R$ 100 mil (os de 40 a 50 metros quadrados) a R$ 2 milhões (os de 200 metros quadrados). Mas há alternativas mais baratas para quem deseja se sentir mais seguro. Uma delas é o quarto do pânico, um dormitório convencional equipado discretamente com botões, portas de travas múltiplas, quadro de senhas e chaves especiais de tecnologia de ponta. As paredes, portas e janelas são protegidas contra arrombamento e à prova de balas, menos as de fuzis. Cerca de 554 brasileiros já desembolsaram de R$ 40 mil a R$ 200 mil para ter um. É o cidadão investindo pesado para tentar garantir a segurança que o Estado não oferece.