O Brasil refém do caos aéreo, com cidadãos aprisionados nos aeroportos – numa espécie de seqüestro do seu direito inalienável de ir-e-vir – é o retrato direto da inabilidade administrativa, da presunção política e da hesitação decisória que toma conta do governo. Ato contínuo do descaso com a crise aérea que se arrasta há seis meses, com as autoridades esticando a corda além do limite, sem saber o que fazer, sem plano nem alternativa, deu-se o impensável: o motim, uma rebelião dentro da instituição cujo princípio elementar de funcionamento é a disciplina e o zelo pela ordem. Em outros tempos, a cena de militares aquartelados, num levante contra superiores, cruzando os braços, seria sinal de guinadas graves no País. Foram insubordinações do tipo que descambaram lá atrás na longa estiagem democrática. A experiência e as conseqüências do período de ditadura ainda estão bem frescas na memória dos brasileiros. Por isso, inconcebível que o chefe da Nação tenha dado guarida a esse movimento impedindo prisões disciplinares e cedendo a negociações paralelas que só provocaram mais revoltas. Quebrada a hierarquia, foram a seguir os próprios chefes do comando da FAB que desistiram de seguir adiante no controle aéreo. O governo, rendido, fez outra guinada. Voltou atrás e, de erros em erros, de idas e vindas, mostra que não compreendeu a natureza do problema.

O presidente Lula, o ministro da Defesa (que não sai do papel de coadjuvante), os órgãos responsáveis pelo setor – da Anac à Infraero – levaram adiante a falsa percepção de que o caos na aviação se esvaziaria por si só, se resolveria sem que nenhuma medida concreta ou atuação mais incisiva fosse apresentada para o problema – que traz ingredientes de todo tipo, desde profissionais mal pagos a equipamentos precários e estrutura deficitária. É o governo que está em apagão, sem ação. Aos olhos do País e do mundo, o que ocorreu na fatídica sexta-feira 30 foi inacreditável, inconcebível em economias civilizadas. O Brasil parou no ar, passageiros se desesperaram em terra e as autoridades seguiram nas nuvens. Onde está o comandante?


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias