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NO ATAQUE
Paulo André, zagueiro do Corinthians, é o líder do movimento de
atletas que querem mudar a maneira como o futebol brasileiro é gerido
 

Batizado de “O Interminável”, o campeonato gaúcho de 1994, ano da Copa dos Estados Unidos, começou em março e só terminou em dezembro. O Internacional ficou com o título. Já o arquirrival Grêmio, além da quinta colocação, registrou um fato histórico: em um mesmo dia, 11 de dezembro, o time jogou três partidas. Hoje técnico da Seleção, Luiz Felipe Scolari, que dirigia o time naquela ocasião, comentou: “Sentei no banco às duas da tarde e só saí às dez da noite!” Duas décadas depois, o calendário do futebol vai ficar apertado novamente por causa do Mundial no Brasil. Não deveremos assistir absurdos como os de 20 anos atrás. Mas da forma que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu, a bomba vai estourar no colo dos atores principais: os jogadores. Seria assim se 75 deles não se levantassem contra a maneira como o futebol é gerido pela confederação e lançassem um movimento batizado de Bom Senso F.C.

Nesta semana, a liderança do movimento deverá se reunir e pedir formalmente uma reunião com a CBF, que decidiu pelo retorno dos campeonatos estaduais dia 12 de janeiro, quatro dias depois da volta das férias dos atletas. Isso significa ter apenas quatro dias de preparação para correr 90 minutos a cada três dias, em pleno verão. “Todos falavam da força que os atletas teriam se um dia se reunissem para fazer parte das decisões importantes do esporte. Em pouco tempo percebemos que é verdade”, diz o zagueiro Paulo André, do Corinthians, 30 anos. Politizado e bom de oratória, foi ele quem começou a costura do movimento, antes de a CBF fixar o calendário. Hoje, treinadores, comissões técnicas, clubes e até o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, se posicionam a favor do Bom Senso F.C.

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Desde 1987, quando o Clube dos 13 tentou tirar o campeonato brasileiro das mãos da CBF, não se via um levante em prol de tornar o negócio mais justo para quem compete, dirige, torce e patrocina. “Os jogadores estão dando um passo importante. E não só eles, mas todos nós que trabalhamos com futebol queremos fazer algo para melhorá-lo”, diz o técnico Dunga, do Inter-RS. Mais do que enxugar um calendário historicamente inchado, os atletas querem sentar com os cartolas para discutir férias, pré-temporada e o que chamam de “fair-play” financeiro, para que os clubes não fechem o ano devendo aos funcionários. Essa negociação terá de envolver os direitos de transmissão para tevê, o que é mais factível de acontecer em 2015. Na Europa, onde os jogadores voltam a campo em partidas oficiais ao menos 60 dias depois do término da última temporada, a vida útil de um atleta é maior. Aqui, a conta a ser paga por causa de jogos em excesso é grande. Jogadores extenuados, aumento de contusões, partidas sem qualidade e fuga de torcedores são alguns dos ônus. “A CBF, com esse calendário, está em busca de um cadáver. Esses caras podem pifar!”, protesta o comentarista esportivo Paulo Calçade, da ESPN. Por isso, toda essa revolta dos craques.

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