Na quarta-feira 25, uma Dilma Rousseff pragmática discursava em Nova York, num evento voltado para investidores internacionais, e fazia uma defesa enfática do seu programa de concessões na área de infraestrutura. Dizia que, mais do que os recursos, o governo brasileiro buscava a gestão do setor privado, diante dos enormes entraves do setor público. E sinalizava ao mercado não ter nenhum viés estatizante. Apenas afirmava algo óbvio e ululante: nem todas as estradas são atrativas para conciliar a taxa de retorno exigida pelos empresários com um pedágio socialmente aceitável. Nesses casos, haveria duas escolhas: a obra governamental ou a parceria público-privada.

O início desse programa, com dois lotes leiloados, foi alvo de uma enxurrada de críticas porque um dos trechos não atraiu interessados. No entanto, houve outro com oito concorrentes. Caso típico de copo “meio cheio, meio vazio”, mas a leitura de alguns analistas, como tem acontecido frequentemente no Brasil, foi contaminada por interesses eleitorais. Se há erros, eles podem ser ajustados. Como, por exemplo, pode vir a acontecer na disputa pelos aeroportos.

Na semana passada, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmou que o governo aceitará a determinação do Tribunal de Contas da União, caso o órgão avalie ser conveniente retirar dos editais uma cláusula que limita a 15% a participação de empresas que venceram as três primeiras concessões: as de Brasília (DF), Viracopos (SP) e Guarulhos (SP), onde, segundo Dilma afirmou em Nova York, os progressos são “visíveis”. Estranhamente, o modelo de privatização limita a concorrência, ao impedir que os grupos que venceram essas disputas entrem nos leilões de Confins (MG) e Galeão (RJ), como se houvesse concorrência entre aeroportos e quem voa por Confins, por exemplo, pudesse mudar sua rota para Guarulhos. Aeroportos são quase monopólios naturais que devem ser regulados por agências reguladoras eficientes.

E, ao governo, deveria interessar a maior disputa possível, sem transferir a responsabilidade para o TCU. Ainda que haja eventuais pontos a serem corrigidos, a direção parece correta. No entanto, um dia depois do discurso de Dilma, a cada vez mais suspeita revista “The Economist” publicou uma capa sobre o Brasil com um Cristo Redentor, que antes disparava como um foguete, empinado para baixo. O problema é que a revista inglesa vem quando a economia brasileira já está voltando. Todos os indicadores recentes apontam dados positivos: inflação em queda, PIB em alta, mercado de trabalho numa situação de quase pleno emprego e retomada da confiança.

Não por acaso, uma pesquisa do Ibope, divulgada na quinta-feira à noite, apontou crescimento de Dilma, de 30% para 38%, e queda de todos os seus concorrentes. Para a “The Economist”, os brasileiros praticamente não têm motivos para reeleger Dilma. Mas faltou combinar com o Ibope, que saiu horas depois de sua capa catastrofista sobre o Brasil. 

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