Nos últimos anos, terroristas nascidos e treinados em países como Afeganistão, Paquistão, Arábia Saudita, Egito e Argélia produziram alguns dos atos mais cruéis perpetrados pelo homem contra o seu semelhante. Agora, um novo país parece ter ingressado de vez no mapa do terror. Há quase uma década são conhecidas as ações do grupo islâmico Al-Shabaab, da Somália, mas ele não parecia forte e suficientemente organizado para assustar o mundo. Os ataques que provocaram a morte 62 pessoas no luxuoso shopping Wastgate, em Nairóbi, no Quênia, mostraram que essa impressão é equivocada. Filiado à rede Al-Qaeda, o Al-Shabaab conta com uma força de combate estimada em mais de cinco mil homens, que estão sendo meticulosamente preparados para causar estragos de repercussão internacional. Mais impressionante ainda: o Al-Shabaab cooptou integrantes até nos Estados Unidos, segundo declaração de Ben Rhodes, vice-conselheiro americano de segurança nacional. “Já nos preocupamos há algum tempo com as tentativas do grupo de recrutar americanos para ir à Somália”, disse Rhodes.

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MEDO
Quenianos e turistas tentam escapar do ataque ao shopping de luxo de Westgate:
pior atentado terrorista, liderado pelo grupo Al-Shabaab (abaixo), no país desde 1998

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Embora sem confirmação oficial até a quinta-feira 26, investigações preliminares apontam que havia americanos e britânicos entre os terroristas que atacaram o shopping. Se a informação for confirmada, significará que o Al-Shabaab de fato estendeu seus tentáculos em uma rede internacional de criminosos. Para especialistas, eles teriam conquistado adeptos graças principalmente à ineficiência das autoridades. De acordo com a professora do International Center for Study of Terrorism, Mia Bloom, os órgãos de espionagem eliminam facilmente um suspeito quando ele não tem características de um cidadão do Oriente Médio. “Homens e mulheres de todo o mundo se envolvem em ações terroristas sem que os serviços de segurança percebam”, diz ela. “Muitas vezes, as mulheres acabam participando de grupos formados dentro de casa, o que dá origem a uma espécie de empresa familiar do terror.” É o caso de Samantha Lewthwaite, apontada como o cérebro por atrás dos ataques em Nairóbi (leia quadro).

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O Al-Shabaab vem promovendo uma série de ataques desde 2011, quando tropas quenianas entraram no sul da Somália para combater ações terroristas do país vizinho. Os soldados quenianos são a maioria na força de paz da União Africana, que tenta dar alguma governabilidade a uma nação ferida há 20 anos por uma guerra civil. O ataque ao shopping, frequentado por diplomatas e autoridades do governo queniano, revelou como é frágil o sistema de segurança do país – descobriu-se que parte do armamento usado pelos criminosos estava escondida em um depósito do próprio Westgate. Nesse terreno fértil para conflitos, militantes do Al-Shabaab fizeram novas ameaças caso o Quênia não retire as tropas do território somali. “O ataque ao shopping é apenas uma amostra do quanto ainda vamos matar”, ameaçou Ali Mouhamed Rage, porta-voz do grupo.

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Viúva branca, a mulher mais perigosa do mundo

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Samantha Lewthwaite: depois de 2005, ela começou a estudar
o Islamismo e se aproximou da rede terrorista Al-Qaeda

Samantha Lewthwaite é provavelmente a mulher mais perigosa do mundo. Apontada como o cérebro por trás do ataque terrorista ao shopping Westgate, em Nairóbi, Samantha teve na quinta-feira 26 uma ordem de captura internacional emitida pela Interpol. Britânica de nascimento e filha de um soldado, Samantha levou uma vida convencional até aos 15 anos, idade em que se apaixonou pelo jamaicano Jermaine Lindsay.

Com ele, aprendeu a manusear armas e explosivos. Em 2005, Lindsay foi um dos homens-bombas que explodiram um metrô em Londres, provocando a morte de 52 pessoas. Samantha, porém, ludibriou as autoridades. Afirmou aos investigadores que condenava veementemente a ação e se declarou aterrorizada pelas atroci-dades praticadas pelo marido. Foi aí que ganhou o apelido de viúva branca. Agora, ao 29 anos e mãe de três filhos, é acusada de fazer parte da rede terrorista Al-Qaeda. Para a professora Mia Bloom, da International Center for the Study of Terrorism, cada vez mais organizações recrutam mulheres para atos criminosos. “Elas são especialmente perigosas pelo efeito inspirador que causam nas gerações mais novas”, diz Mia. “Para muita gente, essas mulheres são heroínas.”


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