Os Jogos Pan-Americanos Rio 2007começam na sexta-feira 13, mas alguns atletas brasileiros já podem ser considerados vencedores apenas por estarem numa importante competição internacional. Nascidos em famílias de baixo poder aquisitivo, eles tiveram de ultrapassar muitas barreiras, bater recordes de resistência, acertar o alvo sem direito à segunda chance e nadar contra a maré para chegar lá. Atletas como Sandro Rodrigues, que garantiu sua participação no atletismo, a tenista Teliana Pereira ou a mesatenista Ligia Santos Silva são alguns exemplos de perseverança e disposição para lutar contra as adversidades e brilhar no esporte.

Teliana, que completa 19 anos no próximo dia 20, é descendente de índios da tribo fulni-ô e nasceu na pobreza de Pernambuco, onde o pai era bóia-fria. Em busca de uma vida melhor para os nove filhos, o sertanejo mudou-se com a família para o Paraná. Teliana teve acesso ao tênis pela porta dos fundos: era uma das crianças que recolhiam as bolinhas jogadas pelos sócios da Academia Paranaense de Tênis. Apaixonou-se pelo jogo e, nas folgas, tentava praticar. Hoje, com títulos conquistados em importantes quadras do mundo, é considerada uma das principais promessas do Pan. Sempre emocionada com as portas abertas pelo esporte, a tenista agradece ao técnico Didier Alexis o estímulo maior. "O apoio dele foi fundamental para chegar até aqui.

Além de ensinar técnica, arrecadou dinheiro para que eu pudesse participar das competições", disse.

Ao contrário do tênis, o atletismo é uma pista aberta para muitos atletas de poucos recursos. Foi casualmente que o amazonense Sandro Rodrigues Viana, 30 anos, abraçou o esporte. Desempregado, ele resolveu começar a correr depois de ver o ídolo, Claudinei Quirino, treinar em Manaus. Seu bom desempenho foi surpreendendo em disputas amadoras até que começou a se destacar em competições mais sérias. Sem dinheiro para bancar os treinos, usou a criatividade: "Passei a ‘estudar’ pela televisão; eu vias os atletas e tentava aprender." Migrante social graças ao esporte, Sandro retribui com muito suor. "Nunca deixei de lutar. Treinei no Natal, no Ano-Novo, aos domingos", diz, recompensado. Ele compartilha com seu treinador, Katsuhico Nakaya, a certeza de que o maior reconhecimento de esforços, para um atleta, é a pole position. "Na vida, ele é um vencedor porque teve determinação e se tornou um atleta da seleção brasileira. Mas a coroação será a medalha", diz o técnico.

Para Ligia dos Santos Silva, 26 anos, jogar pingue-pongue no colégio público de Manaus (AM), onde nasceu, era apenas uma brincadeira. Dessa época aos dias de hoje, em que é mesatenista de categoria internacional e estará no Pan, ela contou com ajuda e sorte. Aos 17 anos, numa disputa em jogos escolares, conheceu o treinador Ricardo Bolacha, que a levou para treinar em Santos (SP). De família humilde, ela não tinha como manter-se na cidade e morou num "puxadinho" – um cômodo agregado – na casa do treinador. "Não é agradável morar de favor, mas fiz tudo pelo esporte porque vi uma oportunidade de mudar minha vida", disse ela. Seu empenho levou-a a integrar o Santos F.C. e a total falta de dinheiro foi resolvida em 2005, quando foi contemplada com uma Bolsa- Atleta de R$ 2,5 mil mensais. "Só tenho a agradecer e trabalhar mais para manter os meus resultados", resume ela, que já disputou duas Olimpíadas e estará pela terceira vez num Pan- Americano.

Bolsa-Atleta incentiva talentos
Não tão famoso quanto o Bolsa-Família, o Bolsa- Atleta é um programa do governo federal que apóia competidores de modalidades individuais que não têm patrocínio e apresentam alto rendimento em suas respectivas categorias. Para muitos, é um divisor de águas entre morrer na praia ou chegar ao ouro. Entre os brasileiros que disputarão os Jogos Pan-Americanos, 39 foram contemplados pelo programa do Ministério do Esporte. São distribuídos incentivos em quatro categorias: Estudantil, que repassa R$ 300 mensais, Nacional, de R$ 750, Internacional, de R$ 1,5 mil, e Olímpica e Paraolímpica, com R$ 2,5 mil por mês. A inscrições são feitas até 31 de março pelo site www.esporte.gov.br, por meio do ícone do Bolsa-Atleta.