Quantos rapazes de 19 anos já leram Ulisses, de James Joyce, são fãs de José Saramago e Friedrich Nietzsche e, no aparelho de som, preferem jazz e música erudita ao pop tradicional? Não muitos, com certeza. O ator paulistano Caio Blat, o angelical Thiago da novela global Andando nas nuvens, é um deles. Por trás daqueles cachinhos negros e dos lábios carnudos que o alçaram a campeão de cartas na Rede Globo em seu segundo trabalho na emissora – o primeiro foi na minissérie Chiquinha Gonzaga – esconde-se um ator com mais de dez anos de carreira, que nem de longe troca uma biblioteca por uma academia de ginástica. "Por sempre ter convivido com gente mais velha, não me sinto com a idade que tenho. Mas é bom pensar que ainda posso fazer muita coisa", diz, com uma sinceridade quase ingênua a quem se surpreende com seu lado cabeça. "Cuido da mente em detrimento do corpo."

Enquanto o corpo magrinho se contenta com algumas peladas esporádicas, a mente não pára. Blat é poeta e escritor nas horas vagas e baterista de uma banda de nome exótico, Todos Nós Contra Nada Aparente Tocando Para Ninguém, cuja principal influência são os Mutantes. Sua estréia como autor teatral deverá ser no segundo semestre, no Rio de Janeiro, com a peça Ciranda das sete notas, adaptação de um conto do escritor e compositor Fernando Lobo, pai de Edu Lobo, que assina as músicas do espetáculo. Filho de um médico e de uma dentista – a "família plano de saúde", como ele brinca –, Caio Blat entrou na profissão por acaso. Aos oito anos acompanhou as irmãs a uma agência de modelos infantis e acabou sendo selecionado. Dos sets de publicidade, rapidamente passou para a televisão onde estreou em 1991 no programa Mundo da lua, da Rede Cultura. No ano seguinte, na peça Tietê menino, pisava no palco pela primeira vez. Entre um trabalho e outro, estudava os textos e tudo o que podia a respeito dos personagens e sua época. Assim, criou o hábito de ler compulsivamente.

Até na hora de escolher que faculdade cursaria, no final de 1997, o gosto pela leitura foi determinante. "Fui fazer Direito na USP não somente pelo curso, porque nunca pensei em ser advogado, mas pela história do Largo de São Francisco, onde estudaram alguns de meus poetas preferidos como Castro Alves e Fagundes Varela", conta. Frequentou a faculdade durante um ano até que surgiram os convites da Globo, que o obrigaram a trocar São Paulo pelo Rio de Janeiro. No início, a mudança foi bastante sofrida. "Sou do frio", diz ele, que logo que chegou, no auge do verão, vivia enfurnado no ar-condicionado. Morando de frente para a praia da Barra, o ator conta nos dedos as vezes em que desceu para dar um mergulho. Nas folgas, prefere passear pelo centro histórico e sair para jantar, um dos poucos momentos nos quais sente saudade de São Paulo. "O Rio ainda tem muito o que aprender nesta área." Mas confessa que está apaixonado pela cidade e já pensa em se mudar para uma casa maior. Outra distração frequente do jovem galã, que está sem namorada, é o cinema. Mas nunca para ver os chamados filmes-pipoca, aqueles de pura distração. Caio Blat gosta mesmo é de Woody Allen. Garotas, se liguem!