Com apenas 12 anos, o paulistano Roberto Minczuk já se destacava na Orquestra Sinfônica Municipal tocando trompa, um dos instrumentos mais difíceis de execução. Menos de uma década depois, já se fazia ouvir pelo respeitadíssimo maestro Kurt Masur, atual regente titular da Filarmônica de Nova York. "Foi uma ascensão rápida", admite ele. E que ascensão. Ao longo da carreira, Minczuk ganhou prêmios e concursos importantes, estudou na Alemanha e na prestigiada Juliard School nova-iorquina, mas acabou deixando o instrumento de lado para trilhar a regência. Hoje segura com firmeza a batuta de maestro assistente da Filarmônica de Nova York. Embora admita a relativa pouca experiência de seus 32 anos para assumir a titularidade daquela orquestra, depois que Masur se aposentar em breve, Minczuk pode ser cogitado para substituir o maestro alemão. "Francamente, eu acho que esta possibilidade é muito remota", disse ele, modestamente, em entrevista a ISTOÉ. No momento, Roberto Minczuk também acumula as funções de diretor artístico adjunto de John Neschling na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e de regente titular da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto. Na quinta-feira 15 e no sábado 17, apresenta-se com a Osesp na moderna e belíssima Sala São Paulo, recém-inaugurada na capital paulista (leia reportagem à pág. 82), e na terça-feira 20 estará à frente da FNY regendo um concerto ao livre, no Central Park.

ISTOÉComo aconteceu esta sua aproximação com o maestro Masur?
Roberto Minczuk – Ela se deu em 1987. Tinha 20 anos quando fui apresentado ao Masur e toquei para ele. Eu era trompista naquela época. Fiz uma audição para o maestro e também para a Orquestra Gewandhaus, de Leipzig. Eles estavam em turnê pelos Estados Unidos, eu era bolsista em Nova York, e depois de um ensaio deles no Carnegie Hall fiz a audição. Após a apresentação, fui convidado para tocar naquela orquestra. Meses depois, quando me formei, fui me juntar à orquestra em Leipzig.

ISTOÉPoderia explicar um pouco como acontece o processo de escolha de um maestro assistente para a Filarmônica de Nova York?
Minczuk – A escolha se dá através de votação. Quando concorri existiam mais cinco candidatos. Havia um regente alemão, dois americanos, um coreano, um francês e eu. Todos regemos a orquestra, sempre com as mesmas músicas. Depois de encerrada a audição, a orquestra toda e mais o maestro Kurt Masur fizeram a votação baseados em fichas com observações sobre a atuação de cada regente. A orquestra tem 107 músicos e geralmente nestes concursos estão presentes cerca de 95. Depois, a comissão artística da orquestra se reuniu com o maestro Masur e discutiu as performances dos candidatos. Em seguida fomos chamados e o maestro comentou a atuação de cada um. Felizmente, fui o escolhido.

ISTOÉMuitos imaginam que agora existam boas possibilidades de você passar a ser regente titular da Filarmônica de Nova York, já que, em breve, o maestro Masur retornará definitivamente para a Europa.
Minczuk – Francamente, eu acho que esta possibilidade é muito remota. A Filarmônica de Nova York está entre as melhores do mundo. Uma orquestra que teve como regentes Arturo Toscanini, Gustav Mahler, Leonard Bernstein exige mais do que uma pessoa talentosa. Precisa mais do que um supermúsico. O regente tem de ser até mais que um gênio.

ISTOÉDesde pequeno você estudou nos Estados Unidos e trabalhou na Europa. Qual foi, então, a contribuição do Brasil na sua formação?
Minczuk – Foi essencial. Apesar das carências brasileiras, tive o privilégio, em São Paulo, de sempre estar perto dos melhores profissionais do País. Aos 12 anos já trabalhava profissionalmente. Para a grande maioria dos músicos brasileiros, isso é uma catástrofe. Mas no meu caso sempre levei muito a sério meus estudos e encontrei modos para superar o problema. Na verdade, me deu uma enorme experiência. Tanto que quando cheguei em Nova York reparei que havia muita gente talentosa na Juliard School, mas nenhum dos meus colegas tinha um décimo da minha experiência. Isto é algo que o Brasil me deu como instrumentista. E agora como maestro a história se repete. Tanto que comecei a me dedicar exclusivamente à regência em 1993 e um ano depois já tinha minha própria orquestra.

ISTOÉPor que você voltou para o Brasil depois de estar tão bem estabelecido na Alemanha?
Minczuk – Eu estava na Alemanha há dois anos e comecei a me sentir muito só. Havia saído do Brasil aos 14, que é justamente a época em que a pessoa começa a desenvolver suas idéias, a se politizar e entender melhor o país, sua gente, sua cultura. Passei muito tempo longe da minha família e do meu país. Estava na Alemanha Oriental, jovem brasileiro, neto de imigrantes russos, que passara a adolescência quase toda nos Estados Unidos. No final das contas não me sentia nem brasileiro, nem russo, nem americano e muito menos alemão. Senti que tinha de voltar para São Paulo, para minha família, para minha igreja e meu povo.

ISTOÉVocê já disse não acreditar que venha a ser chamado para o comando da Filarmônica de Nova York. Quem será, então, o próximo regente titular?
Minczuk – Não existem muitas pessoas para substituir Kurt Masur. Ele tem 71 anos, já fez todo o repertório importante e, além disso, tem muito carisma. Existem no máximo três ou quatro com experiência e reputação deste nível. Talvez Riccardo Muti seja um dos nomes com grandes chances. Sempre digo que maestro é como vinho: vai ficando melhor com o amadurecimento.

ISTOÉMas pode ser que a Filarmônica de Nova York goste também de um bom vinho verde, não é?
Minczuk – É. Pode ser. Tudo é possível.