Os caloteiros contumazes que se preparem: podem estar com os dias contados, a julgar pelo pacote que está sendo preparado no governo. "O bom cliente não pode continuar assumindo a conta da inadimplência provocada pelo mau cliente", avisa o diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, que quer dar mais poder aos bancos para executar as dívidas vencidas e não quitadas. O governo está incomodado com a influência dos devedores sobre os juros finais, que passam de 120% ao ano. A taxa básica da economia está em 21% e deve cair gradualmente a 12% em 2001, pelas projeções oficiais. A caçada à turma do pendura é uma das linhas do plano destinado a reduzir o custo do dinheiro para a população. "Os juros na ponta não podem continuar nesse nível", reclama Figueiredo.

O que vem por aí promete gerar muita polêmica. Uma das regras que encarecem o cheque especial, por exemplo, é a que determina a aplicação de 70% dos depósitos à vista em empréstimos agrícolas. O governo quer acabar com esse direcionamento e dar liberdade aos bancos para aplicar o dinheiro em outros setores. "Somos contra. Se hoje já está difícil conseguir crédito, imagine sem essa regra", ataca o deputado Augusto Nardes (PPB-RS), coordenador da bancada ruralista no Congresso e um dos negociadores das dívidas agrícolas, que somam R$ 24 bilhões. Apesar do apelo, alguns bancos preferem mesmo manter o dinheiro parado no BC, sem rendimento, a emprestar para o setor rural e correr o risco de perder tudo. "Aqui, pelo menos o principal está garantido", lembra Figueiredo.

As regras do BC para aplicação de recursos diminuirão tanto quanto as impostas pela Receita Federal para o recolhimento de tributos. IOF, CPMF e IR são siglas que enchem os cofres do Tesouro, mas, cobradas desordenadamente, aumentam os custos bancários e os juros sobre os correntistas. Lance mais ousado virá na reforma tributária, que está no Congresso. O governo pretende extinguir todos os impostos sobre as operações financeiras. A expectativa é de que a redução dos custos ajude a diminuir o calote. "A inadimplência no comércio e nos bancos estabilizou-se num nível muito alto e isso precisa ser revisto", alerta o economista Marcel Solimeu, há 35 anos analisando o risco de crédito para a Associação Comercial de São Paulo. Na briga para baixar os juros, o BC dá sinais de que não pode só ficar usando instrumentos aristocráticos, mudando a taxa básica de juros e aguardando sua repercussão no resto da economia. Agora, se for preciso, vale até sair no tapa.