Numa semana galvanizada pelo julgamento dos embargos na Ação Penal 470, o fato político mais importante foi o desembarque do PSB, aliado histórico do PT, do governo Dilma. A decisão do partido, com a entrega dos cargos na máquina pública federal, torna praticamente irreversível a candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos, sobre a qual ainda pairavam dúvidas. Agora, não mais. Campos é e será candidato, a menos que ocorra uma hecatombe, como, por exemplo, a eventual volta de Lula, que parece cada vez mais improvável.

Com números ainda tímidos nas pesquisas, Campos sabe que tem potencial para crescer. Seu discurso de que “é possível fazer mais” conta com a simpatia de empresários – e não afronta o eleitor que, nas últimas três eleições, votou no PT e não compra a ideia de que tudo no Brasil vai mal. Ou seja: é uma candidatura que prega a continuidade, e não a ruptura, mas com avanços.

Durante muito tempo, o governador pernambucano foi assediado por lideranças petistas que lhe prometiam um “negócio da China”, tão sedutor quanto inviável. Se apoiasse Dilma, em 2014, teria assegurada a possibilidade de disputar a presidência, em 2018, com apoio do PT. Como, na política, ninguém é capaz de garantir o que acontecerá nos próximos quatro meses, o que dizer, então, de quatro anos.

Saindo do governo agora, e pela porta da frente, Eduardo Campos não tem nada a perder. Seu plano A, no qual ele acredita, evidentemente é vencer a disputa. Passar para o segundo turno também seria uma grande vitória, que o fortaleceria para 2018. Num terceiro cenário, mesmo que não vá para a rodada final, seu apoio será crucial para qualquer um dos postulantes. Basta lembrar que, em 2002, quando Lula se elegeu, seu primeiro programa eleitoral no segundo turno foi feito para saudar a adesão de Ciro Gomes, que havia concorrido justamente pelo PSB.

Ou seja: Campos entrega seus ministérios já no fim do primeiro governo Dilma e terá todas as condições de recuperar seus espaços, talvez até melhores, depois de 2014. Por isso mesmo foi tão cauteloso na saída, sem a impulsividade do avô Arraes. Foi mais mineiro e menos pernambucano. Do mesmo modo, Dilma também foi mineira – e não “gaúcha”. Deixou a porta entreaberta para o aliado histórico, apostando que, como na fábula do menino pródigo, “o bom filho à casa torna”.