Pic_PauloLima.jpg

Uma praia com areias brancas e águas cristalinas, rodeada de florestas tropicais, cachoeiras, rios e encostas esculpidas por lava vulcânica. Ali, homens e mulheres andam nus, moram em casas sobre as árvores, plantam o próprio alimento e celebram em festas sem-fim. Sonho? O paraíso hippie existiu e seu nome era Taylor Camp, uma comunidade criada no final dos anos 60 no litoral norte da ilha de Kauai.

De 1969 a 1977, centenas de ambientalistas, ativistas de direitos civis, veteranos de guerra e surfistas vindos da Califórnia, de Nova York e da Flórida se mudaram para o local. No auge, a comunidade chegou a abrigar mais de 350 pessoas, que acabariam expulsas pelo governo para a criação de um parque estadual.

O nome Taylor Camp veio de Howard Taylor, irmão da atriz Elizabeth Taylor, que era proprietário da área em que a comunidade se estabeleceu. Irritado quando soube que o governo de Kauai iria desapropriar o terreno onde  pretendia construir uma casa, Howard emprestou a área para 13 estudantes californianos que acabavam de deixar a prisão no Havaí. Depois de 90 dias detidos por acampar em local proibido, os jovens não tinham para onde ir. Até que receberam a oferta.

Taylor Camp serviu de refúgio em um período de plena efervescência política nos EUA, com o surgimento de movimentos pacifistas, ambientalistas e de luta pelos direitos civis. “Todos em Taylor Camp estavam fugindo de alguma coisa”, conta o ex-morador Bruce Kramer no filme de John Wehrheim, autor do livro (ed. Serindia) e produtor do documentário “Taylor Camp” dirigido por Robert Stone.  Os 13 pioneiros da comunidade eram estudantes da Universidade de Berkeley, na Califórnia, que participavam das manifestações contra a guerra do Vietnã. Fugindo da repressão policial, escolheram o Havaí como destino. “A situação em Berkeley era explosiva. Era pegar em armas ou deixar o lugar. Nós decidimos sair”, conta a educadora Sondra Schaub, uma das primeiras a chegar ao acampamento de “refugiados”.

Para alguns, a temporada no paraíso foi uma forma de superar os traumas do passado. “Quando voltei do Vietnã, eu tinha muitos pesadelos. Encontrei a cura em Taylor Camp”, contou o veterano de guerra James Mitchell. Para outros, o local foi de reabilitação. “Eu poderia ter morrido de overdose se tivesse ficado no continente”, declarou Suzanne Bollin, hoje vendedora de uma loja de surf no Havaí. Em comum, todos tinham a busca por um modelo de sociedade diferente do encontrado no mundo capitalista. “Estávamos em busca de algo que não era o que as nossas famílias ofereciam. Procurávamos algo diferente e encontramos”, afirma Cherry Hamilton.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Naturalmente, vários casais se formaram ali. “Havia muita energia e tensão sexual. Porque eram todos jovens e bonitos, tantos os homens como as mulheres”, conta Teri Green. “Encontrei minha mulher, Francine, lá e estamos juntos há 35 anos. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu em Taylor Camp”, declara David Pearson, o “policial” do acampamento.

Apesar do ambiente hippie e das pessoas sem roupa, Taylor Camp não era uma comunidade de amor livre, como se poderia supor. “Andávamos pelados, mas éramos caretas nesse sentido”, diz a hoje corretora de imóveis Debi Green.

Em 1974,  a área do acampamento foi desapropriada pelo Estado para a criação de um parque. Após três anos de uma intensa batalha legal, os moradores que ainda permaneciam no local foram expulsos. “A polícia e as autoridades de Kauai chegaram ao acampamento e começaram a prender as pessoas e a queimar suas casas. Foi horrível”, lembra Francine Pierson.

Hoje não há qualquer vestígio de Taylor Camp: tirando um estacionamento, toda a área foi coberta por floresta. “Ao publicar essas fotos, minha intenção é que, daqui a décadas, elas sejam o testemunho de um momento especial na história”, diz Wehrheim.
Reportagem Lia Hama 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias