Do ponto de vista meramente simbólico, a decisão da presidenta Dilma de cancelar a visita ao colega americano Barack Obama – quando teria direito a baile de gala e tratamento especial – pode ser vista como louvável. Afinal, a afronta à soberania nacional, classificada pela diplomacia como “fato atentatório grave”, realmente merecia uma resposta à altura. Mas, no campo prático, o Brasil, com essa decisão, vai lamentavelmente colher ônus de imagem e prejuízos concretos junto ao vizinho. O distanciamento que já não é de hoje entre os dois países tem sido responsável por uma sensível queda nos negócios e acordos comerciais nesse eixo bilateral. Os americanos já responderam pelo maior pacote de compras de mercadorias nacionais. A posição foi encolhendo, ano a ano, para patamares bem aquém do desejável, na mesma proporção em que a dependência do Brasil para com a China crescia. Os EUA, todos sabem, são o maior mercado do mundo e o que mais importa.

Principalmente produtos de valor agregado. Desde o governo Lula, as relações brasileiras com esse parceiro diminuíram sensivelmente e atingiram níveis que podem ser considerados alarmantes no mandato de Dilma. Com o distanciamento em curso, há poucas chances de uma virada nesse sentido. Obama, por sua vez, parece mais interessado em entabular conversas e contratos com nações europeias e já assinou até um termo de intenções de criação de um bloco comum com a zona do euro, carregando consigo aliados tradicionais como o México e o Canadá. O movimento certamente diminui as perspectivas de latinos como o Brasil – que parece, cada vez mais, preso em um “abraço de afogados” com os aliados do Mercosul, que pouco o respeitam. Nesse contexto é que a visita de Dilma a Obama se revestia de uma importância nada desprezível. O reencontro entre os dois chefes de Estado poderia ser, por assim dizer, um marco na tentativa de reaproximação. O plano está agora temporariamente adiado. Não cabem queixas à decisão política em virtude das circunstâncias, mas há de se lamentar as consequências inegavelmente negativas na área econômica no momento em que o País estava precisando de toda ajuda possível para voltar ao trilho do desenvolvimento. 


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