Aaron Alexis, 34 anos, precisou apenas de um crachá e três armas para chamar a atenção de toda a população dos Estados Unidos. Como funcionário terceirizado de tecnologia da informação da Marinha, Alexis entrou sem problemas no complexo da instituição em Washington, a menos de oito quilômetros do Pentágono, na segunda-feira 16. Apesar dos seguranças armados e dos detectores de metal, abriu fogo na lanchonete. Era o horário do café da manhã. No tiroteio sem alvo, matou 12 pessoas e feriu oito antes de ser atingido por policiais. Ex-reservista da Marinha, o assassino é uma incógnita. Ainda não está claro qual foi o motivo que o levou a cometer o massacre. Num momento em que seu país se vê envolvido em escândalos de espionagem de outras nações e ameaças de terroristas em represália a uma – por enquanto, adiada – ação militar na Síria, o atirador mostra que o maior perigo aos americanos pode estar mesmo dentro de suas próprias fronteiras.

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PERTURBADO
Aaron Alexis sofria com alucinações e ataques de fúria

No discurso em homenagem às vítimas, todos funcionários da instalação militar, o presidente Barack Obama afirmou: “Eles conhecem os perigos de servir no Exterior, mas hoje encararam uma violência inimaginável que não esperariam aqui em casa.” Esse foi o quinto grande massacre provocado por homens armados desde que Obama chegou à Casa Branca, há cinco anos. O presidente também foi para a frente das câmeras depois dos tiroteios em Fort Hood (novembro de 2009), Tucson (janeiro de 2011), Aurora (julho de 2012) e na escola Sandy Hook em Newtown (dezembro de 2012). Neste último, que chocou o mundo com a chacina de 20 crianças entre 6 e 7 anos, Obama levou ao Congresso uma campanha bipartidária para endurecer o controle da venda de armas. Entre suas propostas estão ampliar a verificação de antecedentes para os compradores, já que hoje muitos podem obter armas pela internet sem passar por essa checagem, e banir os rifles de assalto. O projeto, contudo, foi rejeitado pelo Senado americano em abril e nada mudou para o mercado que movimenta cerca de US$ 30 bilhões por ano, de acordo com a National Shooting Sports Foundation.

O direito de possuir uma arma faz parte da cultura americana desde sua fundação, mas os violentos massacres em locais públicos estão se tornando cada vez mais comuns. “Ninguém mais se surpreende”, ridicularizou o parlamentar russo Alexei Pushkov após o tiroteio da segunda-feira 16. “É uma clara confirmação do excepcionalismo americano.” Segundo levantamento do site Huffington Post, houve ao menos 17 assassinatos em massa (com quatro ou mais vítimas, de acordo com a definição do FBI) só em 2013. Desde o episódio da escola de Newtown, mais de 24 mil pessoas morreram por armas de fogo no país. Nos EUA, o número de armas nas mãos de pessoas comuns – 88,8 a cada 100 habitantes, em média – é o maior tanto entre países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. Na Alemanha, essa proporção é de 30,3. Em Israel, de 7,3, de acordo com pesquisa do Instituto de Graduação de Genebra.

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LOCAL DO CRIME
Funcionários evacuam o prédio da Marinha, enquanto repórteres
se aglomeram do lado de fora (abaixo)

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Mais do que bater na tecla da regulação, o debate que tomou o país na semana passada tocou num ponto bem menos controverso: a prevenção e o tratamento de doenças mentais. Aaron Alexis, o atirador de Washington, sofria com alucinações, paranoia, ataques de fúria e insônia. Um relatório da polícia de Newport, em Rhode Island, expôs que ele ligou para os oficiais no mês passado porque sentia que três pessoas o estavam perseguindo. Além disso, elas estariam mandando “vibrações” para seu corpo. Em uma única noite, ele passou por três hotéis diferentes para fugir de vozes estranhas. “É preciso descobrir o que estava por trás do ato, porque sempre há uma razão, mesmo que ilógica”, disse à ISTOÉ Louis Schlesinger, professor de psicologia forense no John Jay College of Criminal Justice, de Nova York. Alguns amigos disseram à imprensa que ele passava por dificuldades financeiras. O pai do atirador revelou que Alexis sofria de estresse pós-traumático desde que ajudou nos resgates às vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001. Depois disso, se alistou à reserva da Marinha, em passagem marcada por sua insubordinação e uma dispensa honrosa em 2011, e foi preso três vezes, duas delas em episódios que envolviam armas. Mesmo assim, seu caminho para a compra delas continuou livre.

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