Um drible circense é o pivô da maior polêmica do futebol atual. Na quarta-feira 19, o zagueiro Luiz Alberto, do Fluminense, falou que “arregaçaria” o colega de gramado Kerlon, do Cruzeiro, se ele usasse o “drible da foca” para fintá-lo. Conhecido como Foquinha, o atacante cruzeirense é famoso por passar pelos adversários equilibrando a bola com a cabeça. “Inventar dribles com o pé é comum, mas com a cabeça eu nunca vi”, atesta Roberto Rivelino, campeão mundial em 1970, que desconcertava defensores com o elástico, um drible raro na época. “Não sou contra a jogada do Kerlon. Está dentro da regra e ele a faz em direção ao gol, sem querer humilhar.”

No domingo passado, Kerlon lançou mão do drible da foca quando o Cruzeiro vencia o rival Atlético pelo Brasileirão. O defensor atleticano Coelho, visivelmente irritado com o lance, aplicou- lhe um jogo de corpo violento, xingou- o e foi expulso após um tumulto generalizado. Jogadores de Seleção, como o lateral Kléber, e Leão, ex-goleiro e técnico do Atlético, enxergam provocação na jogada de Kerlon. “O número de artistas do futebol diminuiu muito. Aí, quando aparece alguém fazendo algo diferente, quem faz o arroz com feijão se incomoda”, opina o comentarista esportivo Flávio Prado. “O Foquinha é arte, tem de ser preservado.”

Craques como Robinho, hoje no Real Madrid, da Espanha, e Falcão, o malabarista do Futsal, eleito o melhor do mundo pela Fifa em 2004, também foram penalizados por seus marcadores por dribles plasticamente empolgantes. Robinho por causa da “pedalada” e Falcão, pela “lambreta”, na qual levanta a bola com o calcanhar e encobre o adversário. Ídolo de Kerlon, Falcão aconselha o fã a utilizar o drible da foca perdendo, empatando ou ganhando o jogo: “Ele tem de fazer sempre, para que todos saibam que joga assim”, diz Falcão, que ganhou respeito por repetir seu drible característico.

Kerlon não chegou nesse nível. Mas está dentro da regra e tem sobre a cabeça um recurso que motiva o torcedor a ir ao estádio. E melhor: praticamente “imarcável”. “Jamais vou deixar de fazer a jogada por medo de me machucar. Meu sonho é fazer um gol ou sofrer um pênalti desse jeito”, diz Kerlon.