Ronald Shanabarger não foi o único na semana a ser condenado por assassinar o próprio filho nos Estados Unidos. Outra aberração do gênero aconteceu na cidade de Filadélfia (Pensilvânia). Na terça-feira 29, Marie Noe, uma senhora de cabelos brancos, com jeito de vovó, foi condenada a 20 anos de prisão por admitir ter matado oito de seus dez filhos num período de quase 20 anos. Ela está em regime de liberdade vigiada e seus movimentos estão sendo monitorados por um controle eletrônico. "Acredito que seja uma pena justa para o caso", disse o advogado de defesa de Marie, David Rudenstein. Marie só escapou da pena de morte porque a lei que autoriza a pena capital no Estado da Pensilvânia foi aprovada depois dos crimes.

Ao contrário do operário Shanabarger, Marie, 70 anos, foi obrigada pelos juízes a realizar um tratamento psiquiátrico. Os crimes aconteceram entre 1949 e 1968. No tribunal, Marie confessou que nesses 19 anos sufocou no berço oito crianças (entre 13 dias e 14 meses de idade) que aparentemente gozavam de excelente saúde. Todos os crimes ocorreram longe da presença de seu marido, Arthur, que até o último momento apelava por sua defesa. "Esta mulher seria incapaz de fazer isso. Ela não faria mal a um inseto", garantia Arthur. Antes de matar seus oito filhos, Marie havia realmente perdido duas crianças no hospital. Durante duas décadas, ela alegou que suas dez crianças foram vítimas da chamada "síndrome de morte súbita". Com as sessões de terapia, o advogado de defesa afirma ter a esperança de um dia descobrir os reais motivos que levaram a senhora de cabelos brancos a cometer os assassinatos. "Quando Marie confessou, ela não soube dizer por que fez aquilo", diz o promotor responsável pelo caso, Charles F. Gallangher. "Minha impressão é de que ela é uma mulher normal, mas, frente às crianças, apresentava sérios distúrbios", acredita o advogado Rudenstein.

O neuropediatra brasileiro Erasmo Casella, do Instituo da Criança de São Paulo, define a "síndrome da morte súbita": é quando "não se sabe a causa da morte repentina de uma criança. É um fenômeno que acontece quando entre um mês e um ano de idade e sem nenhum mal prévio aparente a criança morre durante o sono." Segundo Casella, são inúmeras as especulações para as mortes que vão desde a cardiopatia, a apnéia (a criança pára de respirar) até erro no metabolismo, este último muito raro de acontecer.

Os investigadores da Filadélfia resolveram estudar o caso dos bebês de Marie no ano passado quando foi lançado o livro The death of the innocents (A morte dos inocentes) de Richard Fistman e Jamie Talan. O livro levanta a hipótese de histórias de homicídios encobertas pela síndrome da morte súbita e cita a história de Marie, que ficou famosa em todo território americano. Em 1963, a revista Life fez um especial com ela, contando o drama de uma mãe que perdeu seus filhos com a "morte de berço". "Nossa esperança é de que o fato de ela ter sido considerada culpada venha a mostrar para os médicos desse país que é necessário estar muito mais atento às circunstâncias em que morrem nossos bebês", afirmou o promotor Gallangher.