E la é a grande revelação do golfe mundial. Filha de coreanos, traz os olhos puxados e o jeito tímido dos orientais estampados no rosto. Mora desde os oito anos nos Estados Unidos, fala inglês fluentemente e é chamada de “Golden Girl” (Menina de Ouro) pelos jornalistas esportivos americanos. O nome dela é Angela Lee Park e, acredite, ela é brasileira. “É realmente uma surpresa para todos quando ficam sabendo. Meus pais são coreanos, e, claro, pareço uma coreana. Mas faço questão de lembrar, sempre, que sou brasileira”, diz a jogadora, que nasceu em Foz do Iguaçu (PR) e mudou-se para São Paulo ainda bebê.

 

Com apenas 18 anos, Angela conquistou no domingo 1º o vice-campeonato do Aberto dos Estados Unidos, um dos quatro mais importantes torneios femininos do mundo, realizado na Carolina do Norte. Foi o maior feito em todos os tempos de um golfista do Brasil, país sem tradição no esporte. “Não costumo colocar muitas expectativas antes dos torneios, mas confesso que fiquei um pouco surpresa com meu desempenho”, admite ela, que chegou a liderar a disputa nos primeiros dias de competição e teve reais chances de vencer até os três últimos buracos. A pontuação obtida fez Angela disparar na liderança entre as estreantes – ela tem mais que o dobro da pontuação da vice-líder – e galgar 17 colocações no ranking geral (agora é a 23ª colocada). Neste ano, já faturou mais de US$ 640 mil – só no domingo, embolsou US$ 270 mil.

Os pais da jogadora, Kyung Wok Park e Kyung Ran Lee, vieram para o Brasil na década de 80, quando abriram uma confecção em São Paulo. Caçula de quatro irmãos, Angela cresceu nas ruas do Brás, bairro comercial e industrial próximo ao centro da cidade, e a família costumava passar as férias em Santos, no litoral. Em casa, o português era freqüentemente falado apenas pelas crianças – pai e mãe preferiam usar o coreano, especialmente na hora das broncas, para se comunicar. Hoje, Angela fala o idioma natal com dificuldades – na entrevista para ISTOÉ, ela falou inglês o tempo todo.
A família e ela deixaram o País rumo à Califórnia quando a garota tinha oito anos. Os pais queriam que os filhos estudassem nos Estados Unidos. E foi lá que, após as aulas, junto com um dos irmãos, Angela começou a dar suas primeiras tacadas em um minicampo próximo à escola. E não parou mais. Atualmente, a jogadora mora apenas com o pai na Flórida e, quando está de folga das competições, vem ao Brasil para rever a mãe, que mantém a confecção em atividade em São Paulo, e outros parentes que vivem na cidade, como avós, tios e primos. Sua mais recente visita foi em dezembro do ano passado. “Engordei cinco quilos. Adoro a comida brasileira, é tudo tão saboroso, não consigo resistir. Como pastel no café da manhã, almoço em restaurantes por quilo e janto em churrascarias. E sempre quero sobremesa!”, diverte- se ela, que também é fã de feijoada e pão de queijo.
Com planos de ter sua própria casa em São Paulo e, no futuro, dividir seu tempo entre o Brasil e os Estados Unidos, Angela diz que gostaria de ser famosa no país onde nasceu. “Não sei como as pessoas estão reagindo ao meu resultado, mas tenho um grande prazer em representar o Brasil. Eu adoraria ser reconhecida nas ruas”, afirma. Se continuar sua meteórica ascensão, Angela poderá realizar o sonho e distribuir autógrafos para os conterrâneos já na próxima visita.