Elas não ficam mais à espera da iniciativa dos parceiros para espantar o tédio na vida sexual. Quando a temperatura esfria no relacionamento, as mulheres tratam de ir às compras. Hoje, o público feminino que frequenta as 25 lojas da Ponto G, maior rede de sex shop do Brasil, passou de 10% para cerca de 50% do total em dois anos. A mudança coincide com a abertura de lojas mais frenquentáveis, com um visual menos agressivo. Para observar como as mulheres se comportam como consumidoras de produtos eróticos, uma repórter de ISTOÉ passou uma semana do lado de trás do balcão de uma das lojas da rede, no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, antigo reduto de uma conservadora militância feminina. Essa filial, com 90% de mulheres em sua clientela, é um perfeito laboratório de pesquisa sobre essa desinibição recente.

A atração começa pela vitrine. Impossível não dar uma olhadinha. Com uma aparência menos explícita que a das sex shops antigas, ali se pode apreciar sem se sentir um pecador no Dia do Juízo Final. Na entrada, um grande arsenal de lingeries. Algumas são ousadas – têm furos, zíperes e até rabinhos. Mas há calcinhas e sutiãs tão sofisticados e elegantes quanto os de qualquer outra loja. As mulheres geralmente chegam em grupos de amigas. Analisam as peças e se encorajam para explorar as prateleiras. Na seção de vibradores e "consolos" (pênis que não vibram), elas debatem, a princípio timidamente, sobre o comprimento e a espessura. Pegam, apertam, dão risadas e perguntam: "É macio? Não machuca?"

A descontração acaba imediatamente se chega alguém conhecido. Duas mulheres na faixa dos 30 anos, colegas de trabalho, de tailleur azul-marinho, procuravam lingeries, numa tarde de terça-feira. Bem no momento em que chegam aos vibradores, um colega do trabalho entra na loja. Elas ficam acanhadíssimas. A vendedora as ajuda a disfarçar. Mas o colega está curioso. Depois de quase meia hora zanzando decide-se, enfim, por um óleo de massagem e vai embora. Só então uma delas pode se decidir por um vibrador. As mulheres preferem ser atendidas por vendedoras. São muito mais decididas e desinibidas que os homens. As mais tímidas chegam sozinhas, andam pela loja e vão embora sem falar com ninguém. Voltam no dia seguinte e compram rapidamente o que escolheram. Nenhuma deixa a loja sem dar pelo menos uma espiadinha na pequena seção sadomasoquista. Brincam com chicotes, mas, apesar da inspiradora Tiazinha, raramente compram. Quando vão acompanhadas do parceiro, o comportamento muda um pouco. Se o casal é mais jovem, geralmente alega que as compras são para amigos. E são generosos com os supostos amigos. Um desses casais gastou mais de R$ 200. Se os dois são mais maduros, a mulher toma a dianteira e resolve logo o que vai ser usado. O marido mantém um confortável silêncio.

Elas mencionam as mesmas queixas: não conseguem atingir o orgasmo antes dos parceiros ou eles não as procuram mais para o sexo. "Elas querem melhorar o relacionamento e vão à luta", diz o gerente da loja, César Dau. As mulheres abrem o coração com a vendedora e voltam ou telefonam para dizer se o produto comprado funcionou. "Tem gente que vem só para conversar", relata a vendedora Giovana Dau. Ela recorda uma dona de casa de seus 29 anos, tímida e ingênua, que procurou a loja. Disse que, embora o marido não quisesse mais fazer sexo, sabia que não a estava traindo. A vendedora sugeriu uma lingerie e que trocasse de roupa na frente dele. Ela levou um espartilho e uma micro-calcinha. Contou depois que, quando a viu, o marido perguntou se tinha bebido, de tão diferente que estava. Mas adorou. E a moça ficou cliente.

 

Elas não se escondem Os homens são consumidores mais reservados e menos conversadores. Talvez por isso busquem com tanta frequência o abrigo das cabines de peep-show, em lojas de frequência masculina, como a Ponto G do centro de São Paulo. Uma ficha de R$ 1,30 dá direito a sete minutos de filme pornô, longe de olhos curiosos. Em plena tarde de uma segunda-feira, às 14 horas, seis das 13 cabines da loja estavam ocupadas, todas por homens. Para levar para casa, um dos produtos mais procurados é um tubo de sucção destinado a aumentar o pênis. Junto à clientela feminina da loja de Santana, os campeões de venda são as fantasias de odalisca, de enfermeira e de empregada, os vibradores e os cosméticos que prometem intensificar o prazer. Na cota dos encalhes irremediáveis figuram vibradores muito grandes ou grossos demais e de coloridos bizarros. A julgar pelo livro-caixa da rede Ponto G, as mulherers não compartilham da convicção masculina de que tamanho é documento. O vibrador mais procurado é um modelo de 14 centímetros.