"Não entra nessa sala porque o povo está todo fora do corpo!" Quem aterrissa por engano no sexto andar do edifício 572, na movimentada avenida Visconde de Pirajá, em Ipanema, zona sul do Rio, leva um susto daqueles. É que ali se reúnem os seguidores de uma figura para lá de esquisita chamada Waldo Vieira. Por preços que variam de R$ 16 a R$ 65, Waldo, 67 anos, promete técnicas milagrosas aos interessados em abandonar por alguns minutos esse mundinho insípido e aventurar-se em dimensões mais palpitantes da existência. Ele é o ideólogo e criador do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia. Veste-se de branco, tem olhos penetrantes, uma longa barba branca e fala sem parar. Diz ter saído do corpo mais de 60 vezes e escreveu dois tratados sobre o assunto recheados de palavras inventadas, incompreensíveis até para um gênio da raça.

Formado em Medicina e Odontologia, pós-graduado em Plásticas e Cosméticos, Waldo afirma que a consciência vive várias vidas e se manifesta em várias dimensões. Por isso, segundo ele, sair do corpo é um atributo natural do ser humano. Basta praticar. O objetivo? Perder o medo da morte e ter insights sobre a própria evolução. O professor carismático também sustenta que há milhares de seres extrafísicos em outras dimensões. Do contato com um desses seres, chamado Serenão, teria saído sua mais importante teoria. "O modelo evolutivo da humanidade é o Homo sapiens Sereníssimo, um verdadeiro fulcro de serenidade, holomaturidade consciencial e discernimento cosmoético." Sacou?

No estágio mais avançado do programa, o Técnicas Projetivas I e II, estão matriculados 15 alunos. A curiosidade em experimentar o outro lado da vida é tanta que se submetem a qualquer sacrifício. Um deles é tentar ficar deitado e imóvel por intermináveis duas horas. Até uma coceirinha na ponta do nariz deve ser evitada. O ambiente é sinistro: um salão escuro, silencioso e sem uma fresta de ar. "Mantenham a mente lúcida. Não devaneiem nem criem expectativas. Façam a energia circular velozmente pelo corpo", orienta o professor nissei Nário Takimoto.

Depois desses exercícios energéticos, passa-se à técnica. Há um monte de opções. Uma, é ficar o dia inteiro sem beber água. O indivíduo vai dormir com sede e imagina, antes de fechar os olhos, que foi até a geladeira. Dizem que é batata. Durante o sono, o espírito sedento se desloca até a cozinha. O professor Takimoto aplica a técnica da respiração. Inspira-se contando até 12 e prende-se o ar por 48 segundos. Se não morrer no meio do caminho, o candidato está a um passo do paraíso.

Os projeciologistas explicam que ausência de oxigênio no cérebro leva a estados alterados de consciência e facilita uma expansão do corpo físico. A mentalização durante os exercícios é fundamental. A parapsicologia também trabalha com o tema. "Quando as frequências cerebrais são muita lentas, o sujeito deixa o campo tridimensional e passa a sintonizar com um campo de ondas mentais. Você está onde você pensa", assegura o parapsicólogo paulista Sidney Scandiuzzi. Numa dessas aulas, o técnico em comunicação Wagner Francisco Gomes, 38 anos, conta que acabou incorporando um espírito ao invés de sair do corpo. Na sua opinião, era um estagiário do Além. "Ele precisava ter um contato experimental com um corpo físico. Fiquei fora do ar", explica Gomes. Ele revela que costuma se projetar para fora do corpo durante o sono e já foi até o inferno.

O objetivo do curso é fazer os alunos se projetarem quando estão acordados e lúcidos. Detalhe: assegura-se que ninguém perde o caminho de volta. O espírito estaria ligado ao corpo por um cordão energético. Para a ciência tradicional tudo isso é balela. "Até agora não existe nenhum método científico que tenha demonstrado que a consciência está associada a uma alma e pode se desligar do corpo", afirma o psiquiatra gaúcho Rogério Aguiar, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.