Como se não bastasse o bug do milênio, tempestades solares previstas para o começo do próximo ano também poderão atormentar a moderna tecnologia terrestre. Quer dizer: o ano 2000 pode começar no escuro e com o celular mudo. Navios e aviões que dependem de satélites para sua navegação também poderão enfrentar problemas.

Os meteorologistas cósmicos prevêem que o Sol está para entrar na fase eruptiva mais violenta do seu ciclo de 11 anos. O pior é esperado para o início de janeiro, quando labaredas e erupções solares colossais – explosões equivalentes a um milhão de bombas atômicas de 100 megatons – mandarão grandes ondas de energia para a Terra capazes de causar blecautes, bloquear comunicações por rádio e tirar os satélites de suas órbitas.

A boa notícia é que o ápice do ciclo solar será mais fraco do que os registrados anteriormente. E pela primeira vez haverá um alerta antecipado, graças ao satélite Soho, que detecta as explosões solares e avisa com uma hora de antecedência a chegada da tempestade cósmica. O aviso, que será veiculado pela Internet, dará tempo às distribuidoras de energia elétrica – atenção, Eletrobrás – de evitarem danos em suas redes, enquanto os operadores de satélites poderão desligar os equipamentos ou enviar sinais para correção de curso.

Os cientistas já estudaram 23 ciclos solares, mas o atual pode ser o mais prejudicial da história devido à vulnerabilidade da tecnologia de comunicações utilizada hoje em dia, a qual nunca esteve exposta a uma atividade solar máxima. As explosões solares podem provocar uma descarga elétrica na superfície dos satélites, disparando sinais fantasmas capazes de colocá-los fora de órbita. No ciclo anterior, em 1989, pequenos foguetes propulsores de um satélite funcionaram repentinamente, tirando-o de sua posição. Outro foi perdido quando seus giroscópios falharam.

Os telefones celulares são vulneráveis porque usam a ionosfera (a zona de gases eletricamente carregados da atmosfera superior) para transmitir sinais de rádio – e as explosões solares afetam bastante a ionosfera. A navegação marítima e aeronáutica depende do sistema de posicionamento global (GPS), uma rede de 27 satélites que também pode ser avariada. E este talvez seja o maior risco que correremos, pois muitos aviões estão voando com auxílio do GPS.

O fluxo eletromagnético vindo do Sol pode provocar fortes ondas de descarga elétrica nos cabos de transmissão de força, causando curtos-circuitos e queimando o equipamento. Em 1989, uma tempestade solar fez toda a província canadense de Quebec ficar no escuro, enquanto as bobinas de uma estação transformadora em Salem, Nova Jersey, se derreteram e pegaram fogo, provocando um blecaute na área.

É provável que o aquecimento global não seja provocado pela queima de combustível fóssil, mas pelo Sol. Pesquisas sugerem que o fluxo magnético que vem da estrela mais que dobrou neste século. Como este magnetismo está relacionado com a atividade das manchas solares e a intensidade com que a luz do Sol atinge a Terra, esse aumento poderia ter causado o aquecimento mundial do clima.

 

Vento solar A evidência surgiu de uma nova análise do campo magnético existente entre os planetas, feita pelo Laboratório Rutherford Appleton, da Inglaterra. Este campo é provocado pelo vento solar, uma corrente de partículas lançadas pelo Sol e que enche o sistema solar. Os cientistas descobriram que desde 1964 o campo magnético interplanetário aumentou em 40%. Pistas recolhidas antes da era espacial sugerem que o campo magnético está duas, três vezes mais forte do que em 1901. Os cientistas não têm dúvidas de que o aumento do campo magnético é devido à atividade solar, mas não sabem quais os efeitos desse aumento na Terra.

A pesquisa foi publicada pela Nature e na mesma edição da revista o professor Eugene Parker, do Laboratório de Astrofísica e Pesquisa Espacial da Universidade de Chicago, diz que um desses efeitos poderia explicar o aquecimento global. Ele nota que o aumento da atividade solar ocorre paralelamente ao aumento de dióxido de carbono na atmosfera terrestre – e isso pode não ser uma simples coincidência. Segundo ele, o aumento da atividade do Sol faz a temperatura da Terra aumentar, esquentando os oceanos. Aquecidos eles absorvem menos dióxido de carbono da atmosfera, fazendo com que o ar do planeta acumule mais gases do chamado "efeito estufa".