Enquanto o ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, dispõe de verba de R$ 1 milhão para ajudar entidades vinculadas a aliados políticos – caso do convênio firmado com a Fundação Luís Eduardo Magalhães –, muita gente que depende do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fica à míngua. O pintor de paredes José Vicente de Menezes, 48 anos, que o diga. Há um ano, ele tenta conseguir um benefício depois de ter a perna esquerda amputada em razão de problemas causados por diabetes. Na semana passada, José – que mora sozinho em um quarto no Jardim Maia, extremo leste de São Paulo – recebeu em sua casa um comunicado informando-o de que o pedido foi negado por "conclusão médica contrária". Para receber o "amparo assistencial" teria de ser comprovada a existência de deficiência física, "o que não ocorre no caso em questão", segundo documento do posto do INSS no bairro da Penha. "Se alguém que não tem uma perna não é deficiente, o que é ser deficiente então? Será que eu tenho de perder o pescoço", questiona José, indignado.

O que não dá para entender é como os médicos do INSS vendo à sua frente uma pessoa sem a perna e usando muletas puderam dizer que o pintor não tem deficiência física. "Alguém enlouqueceu ou isso só pode ser fruto de alguma imbecilidade burocrática", acredita o ortopedista Marco Guedes, especializado em amputados e que cuidou do iatista Lars Grael. José foi examinado pelo menos duas vezes. "Quando perguntei ao primeiro médico, ele foi grosso comigo e disse que eu ia receber a resposta em casa. O outro perguntou quanto eu queria ganhar." Nem a assessoria de comunicação do INSS soube dar explicações. Inicialmente, informou que José não conseguiu o benefício porque "deve ter algum outro tipo de rendimento na família". Informada de que o pintor não recebe nenhum salário ou ajuda – é separado e os dois filhos que trabalham já são casados –, o INSS revelou que "avaliações como essa podem ocorrer". Depois, foi sugerido a José que pleiteasse novamente o benefício. Só que o comunicado oficial garante não caber mais recursos contra a decisão.

Doente, o pintor corre o risco de ficar também sem a perna direita. "Sinto muitas dores e não tenho força nela." Seus problemas começaram há um ano e três meses, quando sofreu uma queda no trabalho e arranhou o tornozelo. O ferimento não cicatrizou. Hoje, precisa de cerca de R$ 100 ao mês só para remédios. José trabalhou desde os 14 anos e por mais de 15 teve registro em carteira. Baiano da cidade de Serrinha e em São Paulo desde a infância, se diz revoltado com o INSS. "O nosso dinheiro vai sempre para os poderosos. E quem precisa de ajuda, realmente, nunca tem."


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