Enquanto aumenta o desemprego no Brasil – em São Paulo já atinge 20% da população –, trabalhadores estrangeiros estão ocupando espaço no mercado brasileiro. No ano passado, 9.260 receberam autorização para trabalhar no País. Mas, segundo sindicalistas, o total poderia ultrapassar 28 mil. Somente em São Paulo teriam sido contratados 11 mil estrangeiros, diz Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical. "Queremos comprovar se esses números são reais, mas o Ministério do Trabalho não nos fornece a relação dos contratados", reclama. Centenas deles também estariam entrando como turistas e trabalhando ilegalmente. Agora, a PF começa a investigar multinacionais, que são apontadas como as responsáveis por essa avalanche estrangeira.

Dois dos principais alvos da investigação da PF são a Telefônica – que assumiu o controle da principal empresa de telefonia de São Paulo – e o consórcio Tenenge-Daip, responsável pela construção de trechos do gasoduto Brasil–Bolívia. Esse consórcio contratou uma subempreiteira, a argentina JB Coll, para atuar em parte da obra. A JB teria admitido 300 trabalhadores estrangeiros, entre soldadores, montadores e encanadores. Segundo dados do Ministério do Trabalho, a JB Coll foi autuada e obrigada a pagar uma multa de cerca de R$ 27 mil. Onze trabalhadores argentinos contratados irregularmente tiveram de voltar. A direção do consórcio confirmou apenas que 31 técnicos estrangeiros estariam trabalhando na construção do gasoduto e responsabilizou a empresa argentina pelas contratações. "A JB Coll é que responde por essas admissões. Eles trouxeram argentinos que tinham experiência em gasoduto porque não encontraram outros profissionais qualificados. Os brasileiros especializados estavam trabalhando em outro trecho da obra", justificou o consórcio. A Telefônica, que assumiu também o controle da Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações, foi multada em Porto Alegre porque cinco trabalhadores que prestavam serviços para o grupo estavam em situação irregular. Através de sua assessoria, a Telefônica garantiu que, num universo de 22 mil funcionários, mantém apenas 122 estrangeiros e deverá receber mais 18, todos executivos.

ISTOÉ teve acesso a uma listagem de 462 estrangeiros contratados para trabalhar em multinacionais instaladas no País, entre janeiro e maio. Suspeita-se que isso seria apenas uma fração de um universo de milhares de trabalhadores de outros países aqui instalados. Somente a empresa sueca Ericson trouxe ao Brasil 62 funcionários. A maioria – 51 – tem em comum o fato de não possuir vínculos com a empresa e de ter tido o seu visto aprovado na mesma data, 17 de maio de 1999. A Volkswagem trouxe 50 empregados – três da Bélgica e o restante da Alemanha – e a Telefônica 20, três do Peru e os demais da Espanha. Vinte e dois franceses foram contratados pela Alstom Automação Ltda., todos também sem vínculos com a empresa.

A verdade é que, entre 1993 e 1998, houve um aumento de 321% no número de estrangeiros que entraram no Brasil com visto de trabalho. Pulou de 2.196, em 1993, para 9.260 em 1998. "Isso é um escândalo. Num país com tanto desempregados, damos incentivos fiscais para empresas estrangeiras e elas trazem os seus trabalhadores", reclama Paulo Pereira da Silva. O ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, engrossa o coro dos descontentes. "Faltou bom senso", disse o ministro, ao analisar o número de vistos de trabalho concedidos nos últimos anos. Dornelles decidiu, então, demitir o coordenador-geral de Imigração da Secretaria de Relações do Trabalho, Léo Frederico Cinelli. Ele era um coronel do Exército da linha dura. Isso nos anos 70.