Os benefícios que a terapia com animais traz às pessoas são conhecidos. A interação com cachorros e cavalos ajuda a resgatar movimentos, habilidades e qualidade de vida de centenas de pacientes. Agora, começam a ser usados nesta tarefa outros personagens do mundo animal. São coelhos, papagaios, tartarugas, calopsitas (um tipo de papagaio), canários e até escargots. Eles estão contribuindo para a recuperação de crianças e adultos, a maioria com hiperatividade e déficit de atenção, transtornos de aprendizagem, paralisia cerebral e síndrome de Down. “É inegável os ganhos que esses animais proporcionam”, afirma a psicopedagoga Liana Santos, do Grupo de Abordagem Terapêutica Integrada, especializado em zooterapia (nome deste tipo de tratam e n t o ) . “Eles interferem positivamente no rendimento escolar, aprimoram a coordenação motora e ajudam a estabelecer limites”, completa.

Um bom exemplo do sucesso da terapia é o estudante Pablo Pires, 27 anos, vítima de paralisia cerebral. Desde criança ele se utiliza da zooterapia e mais recentemente teve contato com essa nova fauna. “Pablo melhorou a coordenação motora e até a fala”, relata Maria das Graças Pires, mãe do jovem. Uma das peculiaridades de lidar com os animais menores – diferentemente de usar cavalos, por exemplo – é a facilidade de manuseio que eles permitem. É simples pegar um coelho ou uma calopsita na mão, como faz Pablo. Esse contato estreito possibilita o desenvolvimento de capacidades como a da observação – detalhes da anatomia, entre outras características. Além disso, os cuidados do dia-adia ficam mais tranqüilos. Isso estimula o doente a tomar decisões e a organizar melhor o tempo. “Eles têm de alimentar, limpar a casinha e levar o animal para passear”, conta Liana. À medida que percebem que são capazes de cumprir as atividades, as crianças passam a confiar mais em si mesmas.

O contato possibilita outras conquistas. Basta ver o projeto Dr. Escargot, criado por Maria de Fátima Martins, da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, em Pirassununga. Ela usa o caramujo como ferramenta de inclusão nas escolas públicas da cidade. “O escargot é um animal diferente. Isso permite que os professores discutam com os alunos temas como preconceito e diferenças”, diz. “Explicamos que, assim como as pessoas, os animais são diferentes uns dos outros, mas vivem em harmonia entre eles”, diz.

Efeito semelhante observou a psicóloga americana Lorin Linder. Ela recorreu à simpatia e à inteligência dos papagaios para tratar veteranos das guerras do Iraque. A maioria apresentava quadros de stress pós-traumático e buscava refúgio nas drogas e no álcool. “Os pacientes se derretiam diante dos papagaios. Ficavam mais relaxados e tranqüilos. Isso ajudava a criar um clima de confiança, acabando com a sensação de isolamento e revolta”, afirma Lorin. “Muitos recomeçaram a vida longe do álcool e das drogas”, afirma a psicóloga.