Depois de quatro meses sem chegar a nenhuma conclusão, a investigação que apura a morte do calouro Edson Hsueh, na piscina da Associação Atlética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, cercou-se de trapalhadas. Trapalhada da polícia, que se precipitou em pedir a prisão do sextoanista Frederico Carlos Jana Neto, conhecido como Ceará, baseada em uma fita de vídeo em que o estudante confessa o assassinato embalado por tulipas de chope. E, finalmente, trapalhada do próprio Frederico, que se referiu à morte do colega em tom jocoso e acabou indo parar na cadeia temporariamente. Assim que viu a fita na tarde da terça-feira 29, o delegado Marcelo Damas, que cuida do caso, resolveu trancafiá-lo. Ceará pode ter realmente matado Edson, mas a fita não era motivo para a prisão. A família de Edson comemorou. "Estou aliviado", disse o engenheiro Feng Ming Hsueh, o pai. Chorando muito, Frederico disse na cela que tudo não passou de uma brincadeira. "Essa atitude de chacota foi inadmissível e não é isso que a faculdade espera de seus alunos", reconheceu o procurador-geral da USP, José Alberto Del Nero. No mesmo dia em que Ceará foi em cana o nome dele também era apontado pela sindicância interna da faculdade, junto com outros três alunos, por ter sido um dos veteranos que mais se excederam no trote. A promotora Eliana Passarelli não descarta a possibilidade de a confissão ter sido uma brincadeira, como alega o advogado de Ceará, Guilherme Battochio. Na visão do presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, Luiz Flávio Borges D’Urso, a fita não pode ser considerada uma admissão de culpa porque foi feita em um ambiente festivo cercado de bebidas. Brincadeira ou não, o fato é que o calouro morto, que não sabia nadar nem bebia, não se jogou sozinho na piscina, ainda mais de óculos. Dois dias depois da prisão, o delegado ainda não tinha ouvido Ceará porque tentava reunir provas que o comprometessem no homicídio. "Ele não é nenhuma criancinha de cinco anos e sabia o que estava dizendo", afirma, para justificar sua atitude. Contra Frederico, além da suposta admissão contestada tecnicamente por juristas, o delegado tem uma carta em que o aluno de Medicina Paulo Camiz da Fonseca Filho relata os excessos de Ceará no trote e um telefonema anônimo que cita o suspeito da polícia de ter sido violento na recepção aos calouros. Até agora, porém, o próprio delegado reconhece que nenhuma das 150 pessoas ouvidas afirmou ter visto Ceará na piscina aplicando caldos nos novatos ou, mais especificamente, no calouro morto. O laudo oficial do Instituto Médico Legal revelou que Edson morreu afogado vítima de asfixia. Uma novidade é a suposição de que o calouro teria sido morto fora da piscina e depois jogado na água. Isso porque o delegado Damas recebeu esta semana a declaração de um policial do Corpo de Bombeiros de que Edson estava com as mãos cruzadas sobre o peito quando foi retirado por ele da piscina. "Isso, no mínimo, é estranho porque ninguém que se debateu na água como mostrou o laudo fica no fundo da piscina todo arrumadinho", disse.