Embora desgastado e com a popularidade em baixa, o ex-prefeito Paulo Maluf deu mais uma demonstração de força ao garantir total controle sobre seu partido, o PPB, e a bancada da Câmara Municipal de São Paulo que apóia o prefeito Celso Pitta (sem partido). Através de uma articulação comandada pelo fiel escudeiro Calim Eid, Maluf conseguiu, em primeiro lugar, esvaziar e acabar com a CPI da Máfia da Propina, que investigava denúncias de corrupção nas administrações regionais da prefeitura paulistana. Em seguida, "salvou" Pitta, o ex-aliado, do impeachment pedido pelo PT e pelo PSDB. Finalmente, para tentar melhorar a imagem de seu partido e mostrar à população que o escândalo da máfia da propina não terminaria em pizza, Maluf mandou os pepebistas votarem pelas cassações do vereador Vicente Viscome (também expulso do PPB), na segunda-feira 28 na Câmara, e do ex-vereador e deputado Hanna Garib, na Assembléia Legislativa, na terça-feira 29. As expectativas são de que mais dois governistas envolvidos na máfia da propina sejam "sacrificados": Maeli Vergniano (sem partido) e José Izar (PFL). Na semana passada, Pitta também deu o sinal verde para a cassação de Viscome após reunião com a bancada do governo.

Antes, para bombardear a CPI, Maluf e Calim insuflaram a campanha do PT e do PSDB pelo impeachment. Assim, tiraram os holofotes das investigações na Câmara. Em seguida, os vereadores governistas começaram a ser chamados um a um para conversar. Foram alertados das dificuldades que teriam sem o apoio da máquina pública para atender as reivindicações de seus eleitores. Temendo o fim de seus feudos políticos, os vereadores acabaram com a articulação do impeachment, acalentado, entre outros, pelo vice-prefeito, Régis de Oliveira, que foi afastado do cargo de corregedor da prefeitura. A negociação, no mínimo, ficou muito mais fácil, revela um malufista histórico, preservando-se no anonimato. Além de reuniões no escritório de Calim, assessores malufistas foram a campo conversar com os vereadores aliados. Essa missão ficou a cargo de três assessores da tropa de choque malufista: Jesse Ribeiro, Sinésio Gobbo (que também teve seu nome envolvido nas denúncias da máfia da propina) e Paulo Nery. Os três trabalharam na coordenação das últimas campanhas de Maluf e Pitta em São Paulo. Criador e criatura, no entanto, continuam brigados e não se sentam mais à mesma mesa. Mas os dois fazem parte do mesmo dominó. Se uma pedra cair, o jogo acaba.

Apesar do êxito nessa operação, Maluf sofreu um forte revés na terça-feira 29: o Tribunal de Justiça do Estado suspendeu por três anos os seus direitos políticos e o obrigou a devolver aos cofres públicos o dinheiro gasto, quando era prefeito, para enviar cartas a um milhão de eleitores divulgando um projeto de isenção do IPTU. Seu partido também continua definhando. Na Câmara Municipal, o PPB chegou a ter 21 vereadores, caiu para 16 e pode ficar com apenas 11. Na bancada federal, perdeu cinco dos 11 deputados eleitos e na Assembléia diminuiu de 11 para 9. No meio do tiroteiro, Maluf está consciente de que a Presidência da República é cada vez mais um sonho impossível.

 

Viscome cassado: por que só eu?

Preso há mais de 90 dias, o ex-vereador Vicente Viscome sugeriu, em entrevista a ISTOÉ, que seja feito nas 26 administrações regionais e em outros órgãos da administração de São Paulo o mesmo tipo de investigação feito na regional da Penha, que ele comandava. "Será que não é o mesmo tipo de receita para todos?", indaga. Segundo o vereador cassado, a corrupção nas regionais sempre existiu e continuará existindo.

ISTOÉ O sr. admite o esquema de cobrança de propina na regional da Penha?
Vicente Viscome O que acontece nas regionais vem desde o tempo de nossos avós. Não é de hoje. Vem de funcionários antigos. Como eu estava crescendo politicamente, os políticos antigos acharam que eu estava atrapalhando e armaram para mim. Me pegaram como boi de piranha. Esse esquema existia e vai continuar existindo. E o responsável é o administrador regional, não eu. Minha atuação era política.

ISTOÉ Esse esquema existe em outras áreas da administração?
Viscome Em qualquer setor público existe. Isso vem da idade de Cristo. O Ministério Público já detectou esse tipo de problema no PAS (Plano de Atendimento à Saúde), na educação, em quase todos os setores. Você observa que a cada dia acontece uma. E o único que está preso é o Vicente Viscome porque acharam que tinham de fazer uma limpeza. Agora, já que foi para fazer uma limpeza, que investiguem todos os órgãos.

ISTOÉ E o que podemos encontrar lá?
Viscome – Não sei. Eles não acharam na Penha? Façam a mesma coisa que fizeram na Penha nos outros órgãos. Nós temos 27 administrações regionais. Até agora, pagaram o pato duas, a Penha e a Sé. Faltam 25. Será que não é a mesma receita para todas as regionais e órgãos públicos? Eu soube que o PAS do Ipiranga teve um superfaturamento de R$ 1 milhão. Será que não é o mesmo esquema dos 14 PAS de São Paulo? E todos eles eram controlados pelos vereadores.

ISTOÉ Membros da CPI também controlavam regionais, como o vereador Milton Leite (PMDB). Houve problemas nessas áreas?
Viscome Se é para ter uma cidade limpa, vamos investigar tintim por tintim. Como fizeram com a Penha. Lá, não pegaram um documento falso. Na Lapa encontraram um caminhão de documentos falsificados. E eu estou preso. Você acha que no Largo 13, em Santo Amaro, os ambulantes que trabalham estão lá porque são bonitinhos? Não posso dizer nada de colega. Mas façam a mesma coisa que fizeram comigo: investiguem. Se o vereador lá comanda a regional… É só ir lá e ver se os ambulantes têm licença de funcionamento…

ISTOÉ O prefeito, Celso Pitta, e o ex Paulo Maluf teriam pedido sua cassação? O que o sr. acha disso?
Viscome Eu nunca precisei deles. Nunca pedi uma faixa a eles. Minhas campanhas foram feitas com minhas economias. Um dia a consciência deles vai doer. Mas eles podem dormir tranquilos porque eu nunca vou falar nada.