Embora ainda não tenha assumido o cargo de secretário de Estado do Vaticano – a posse será em outubro –, o arcebispo italiano Pietro Parolin já fala com a altivez de quem compõe a direção da nova Igreja Católica sob o papa Francisco. Em entrevista ao jornal venezuelano “El Universal”, o próximo número 2 da Santa Sé, que ainda atua como núncio apostólico no país, não escondeu sua veia progressista quando foi questionado sobre o celibato. “Não é um dogma da Igreja e pode ser discutido, porque é uma tradição eclesiás­tica”, afirmou, sobre a regra que proíbe padres de se relacionarem de forma conjugal. “É possível falar, refletir e aprofundar esses temas que não são de fé definida e pensar em algumas modificações.” Modificações que vão além do carro do papa, que ganhou um Renault 1984 na semana passada.

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PROMESSA
Pietro Parolin (acima), o novo secretário de Estado do Vaticano.
O papa Francisco (abaixo) observa o Renault 1984, que ganhou de um padre italiano

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Embora o celibato, desde sua instituição no primeiro século, seja regra e não dogma, portanto passível de questionamentos, é incomum ver religiosos em altos cargos da hierarquia católica tratando o assunto de maneira tão aberta. “O tom faz sentido dentro do contexto de abertura proposto pelo novo papa”, diz o padre Marcio Fabri dos Anjos, professor emérito da Faculdade de Teo­logia Nossa Senhora da Assunção. “A regra agora é não fechar diálogo em pontos que são dialogáveis.”

A discussão é oportuna em um momento como o que se vive atualmente, de escassez de vocações. Estima-se que, hoje, no Brasil, haja 22 mil padres para 48 mil centros de atendimento religioso, segundo dados da própria Igreja. Um déficit, portanto, de pelo menos 20 mil sacerdotes. Enquanto isso, tornar-se sacerdote não é tarefa fácil. O candidato estuda, em média, oito anos – quatro de filosofia e mais quatro de teologia – e ainda deve abrir mão de um projeto de vida conjugal. “Mas rever o celibato não será tarefa fácil”, diz Fabri dos Anjos. “Envolve um repensar de toda a organização da Igreja.” Alguém em cargo tão alto pelo menos pensando nessa possibilidade já é um avanço.