Quando o mundo debate perplexo as transformações ambientais e a busca de novos sentidos para futuro da sociedade, voltar a Beuys é elucidativo. Crítico mordaz do capitalismo e dos “caprichos e esquizofrenia” desse sistema econômico que julgou exploratório, o artista alemão Joseph Beuys (1921-1986) foi um militante da ideia de que a arte pode mudar o mundo. Sua escolha para comemorar os 17 anos do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, portanto, aponta para a relevância e atualidade de suas ideias políticas, ambientais e humanitárias.

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PARA MUDAR O MUNDO
Beuys integrou arte, vida e política

A exposição “Joseph Beuys – Res-pública: Conclamação para uma alternativa global” está dividida nos cinco tópicos que concentraram sua ação política e artística: Criatividade individual e liberdade; Escultura social – ensino e educação; Meio ambiente e energia; Xamanismo e espiritualismo material e Democracia direta – política. Dispostos no espaço expositivo circular do edifício projetado por Oscar Niemeyer, esses eixos se autoinfluenciam continuamente, dando a exata dimensão da interpenetração dessas áreas da vida.

Quando o mundo ainda não havia descoberto o furo na camada de ozônio e ecologia não era um tópico da agenda de debate global, Beuys já afirmava que só seria possível salvar o mundo através das forças da natureza. Assim, nos anos 1970, plantar árvores e participar da origem do Partido Verde na Alemanha fizeram parte de sua estratégia artística.

No segmento atribuído ao meio ambiente, estão situadas as obras feitas com mel, cobre, feltro, gordura e cera, elementos que indicam produção de energia, calor e movimento, segundo o artista, qualidades necessárias para a restauração da vida humana e dos valores da sociedade.

O espaço em que as 100 obras de Beuys está inserido é determinante: a importância que o artista atribuía à natureza e à vida social tem ressonância direta no valor que Oscar Niemeyer deu à potencia da paisagem natural, construindo o museu como um fórum de debates e como um observatório da grandeza da paisagem natural do Rio de Janeiro. O diálogo espacial ­Beuys – Niemeyer, portanto, é engrandecedor, jogando luz à dimensão política da arquitetura de um e à arte do outro.