Emoção e torcida não serão privilégio apenas da Copa do Mundo da Alemanha. Abaixo da linha do Equador, a eleição para a Presidência da República do Brasil promete lances espetaculares até que se estabeleçam as regras, os candidatos e as coligações. Pesquisa ISTOÉ/Ibope, a primeira do ano eleitoral, mostra, em sete cenários de primeiro turno, que a disputa só está começando, ou seja: nas preliminares. O estudo feito pelo Ibope junto a 2.002 eleitores em 143 municípios – com margem de erro de dois pontos porcentuais para mais ou para menos –, aponta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na frente e os números indicam que a melhor perfomance dentro do PMDB é, de longe, a do ex-governador do Rio de Janeiro. Anthony Garotinho, que se consolida como uma terceira via para aqueles que não querem votar no PT de Lula, tampouco no PSDB do prefeito de São Paulo, José Serra, e do governador Geraldo Alckmin.

No PMDB, apesar da pressão da ala governista e dos que pretendem erguer uma ponte que una o maior partido do País às pretensões da candidatura tucana de Serra, o cenário político está montado para que a legenda tenha um candidato próprio ao Planalto. Garotinho, que já apresentou suas credenciais e trabalha para costurar um forte apoio a seu nome, deve disputar com o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Ele lançou na quarta-feira 18, em Brasília, sua candidatura às prévias do partido em março.

No entanto, Rigotto, que defendeu que “o PMDB não pode ficar a reboque dos outros partidos” e assegurou que sua candidatura “vai incendiar o Brasil”, precisa ganhar musculatura junto ao eleitorado. Um dos melhores cenários para Lula, se as eleições fossem hoje, é justamente tendo Alckmin como candidato do PSDB e Rigotto pelo PMDB. O presidente alcança 41% das intenções de voto, contra 18% do tucano e 3% do governador gaúcho. Já no cenário em que se troca Alckmin por Serra, o petista vai a 38%. O prefeito de São Paulo marca 32% e Rigotto perde um ponto porcentual, passando para 2%. Na região Sul, num cenário em que o candidato do PSDB é Alckmin, Rigotto tem a preferência de 13% dos 3% que optaram por seu nome em todo o País. Quando a simulação é feita com Serra, esse porcentual cai para 8%, ao contrário de Garotinho, seu principal adversário no partido. O ex-governador carioca chega a ter 18% (no cenário em que empata tecnicamente com Alckmin na preferência nacional) no Sul.

Outro gaúcho que já demonstrou intenções de disputar o Planalto, o presidente do STF, Nelson Jobim, também patina nos números. Uma vez que não definiu seu partido, embora acene para o PMDB, em simulação na qual disputa Garotinho e Alckmin, o ministro empata tecnicamente com o candidato Cristovam Buarque (PDT), com 1%, e seu desempenho no Sul também deixa a desejar (2%). Analistas políticos acreditam ainda que, optando por candidatura própria, a estrutura partidária do PMDB tem condições de alavancar a postulação de Garotinho, que vem trabalhando junto às bases e os caciques do partido a fim de costurar seu nome com um nó que evite distensões durante a campanha.

O imbróglio tucano também promete tal como uma partida que vai para a prorrogação e que pode terminar nos pênaltis. Os números continuam favoráveis a Serra, apesar da superexposição do governador Alckmin na última semana, que se lançou oficialmente candidato. O tucano empata com Garotinho na disputa contra Lula (17% e 16%, respectivamente) e sobe apenas um ponto quando Germano Rigotto entra no lugar do ex-governdor fluminense. Segundo avalia Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, o governador tucano tem espaço para crescer quando esquentar a campanha. Seus votos estão concentrados na região Sudeste, mais precisamente no Estado de São Paulo. Mas o PSDB não parece disposto a esperar. A candidatura de Serra se respalda nos números e as outras opções tucanas, como a do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não empolgam o eleitor. Com Aécio, Garotinho vai para a segunda posição (17% contra 9% do mineiro) e, com FHC, o ex-governador do Rio empata tecnicamente (15% e 14%).

Para Márcia, a surpresa veio com os resultados obtidos por Lula. Segundo ela, o presidente deve seu desempenho a uma recuperação de prestígio junto aos eleitores do sexo masculino, entre 30 e 39 anos. Um bom desempenho também foi apontado nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste e, principalmente entre a população de baixa renda. Embora ressalte não ser possível comparar este estudo com outros feitos pelo Ibope, já que as listas de nomes são diferentes, ela disse ainda que os programas sociais como o Bolsa-Família, os pacotes de obras recém-anunciados, a publicidade oficial e a freqüente exposição na mídia, desde o primeiro dia do ano, capitalizaram a seu favor.

A pesquisa ISTOÉ/Ibope, feita entre 12 e 16 de janeiro, foi registrada no TSE sob o protocolo 236/2006