O papel cada vez mais dominante das companhias numa comunidade, diante da ineficiência do Estado, é um fenômeno que ocorre em vários países e que exige em contrapartida uma ação da iniciativa privada também na defesa do bem-estar das pessoas. Foi com esse discurso que o executivo americano Robert Dunn, presidente da Business for Social Responsability (BSR), entidade que reúne 1,5 mil empresas, desembarcou na quarta-feira 9 em São Paulo para discutir com 350 empresários a responsabilidade social das companhias. O evento, organizado pelo Instituto Ethos, que tem a mesma finalidade e conta com 167 associados no Brasil, discutiu ações educativas, de prevenção ao crime e de assistência social. Nesta entrevista, Dunn nega defender um Estado mínimo, mas uma atitude mais consciente das companhias diante dos problemas que as cercam. Inclusive para garantir mercado.

ISTOÉ – Para que existe a BSR?
Robert Dunn – Para promover o intercâmbio entre empresas socialmente responsáveis. A entidade foi criada há cinco anos por um pequeno grupo de 50 líderes empresariais. A experiência deu certo e hoje a BSR tem sócios como BankBoston, American Express, General Motors, The Walt Disney Company, Time-Warner e Coca-Cola. Os empresários apresentam seus projetos de ação social e aprendem com os colegas questões como ética na produção, valorização dos trabalhadores e programas para a comunidade de suas cidades.

ISTOÉ – O Estado atende na Europa e nos Estados Unidos a maioria da população, mas no Brasil está longe de suprir as necessidades básicas. Ações empresariais não enfraquecem a cobrança junto aos governos?
Dunn – Esse é um problema na maioria dos países. Nós não queremos substituir o governo. Mas acontece que o Estado é muito grande e ineficiente e nos últimos anos o setor privado cresceu tanto que passou a ter a obrigação de fazer o que o Estado não consegue realizar, como garantir famílias saudáveis. Poluição e congestionamento são problemas que também envolvem as companhias. É inclusive interesse delas realizar ações sociais, já que sem uma sociedade próspera não existe consumo e sem trabalhadores com saúde não há empresa competitiva. Uma companhia não pode crescer se estiver cercada pela miséria.

ISTOÉ – Cite alguns exemplos de ações sociais.
Dunn – A Federal Express e a Cruz Vermelha dos Estados Unidos têm um acordo para garantir rapidez na entrega de mantimentos em caso de desastres. No Estado de Minnesota, empresas se uniram ao governo e às igrejas para reduzir a criminalidade, dando educação a jovens carentes e também cursos para trabalhadores. No Paquistão, a Reebok fez uma parceria com a Nike para eliminar o trabalho infantil. A responsabilidade social atrai inclusive investidores: 10% dos US$ 10 trilhões do mercado acionário americano estão aplicados em companhias com essa preocupação.

ISTOÉ – O ditado Não dê o peixe, mas ensine a pescar é muito difundido no Brasil. O sr. concorda com ele?
Dunn – Bem, pode-se querer ensinar a pescar, mas se as pessoas estiverem morrendo de fome talvez nem consigam segurar a vara. É preciso ajudá-las a fazer a transição. Dando o peixe e a vara.

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