Uma esponja de banho com cabo de mais de um metro de comprimento ou uma presilha para a mão, de couro, com uma fenda onde se encaixa um garfo, podem parecer apetrechos estranhos ao consumidor em geral. Para pessoas portadoras de deficiências físicas, entretanto, tais equipamentos são sinônimo de autonomia na realização de tarefas prosaicas, como lavar os próprios pés ou alimentar-se sem auxílio de ninguém. Foi com a finalidade de facilitar a vida dessas pessoas que a artista plástica e publicitária Iara Cristina Adler e sua filha Tatiana inauguraram em São Paulo a loja Special Store, no SP Market, um dos poucos shoppings térreos da cidade. Nas prateleiras da loja não se vêem próteses supereletrônicas e outros milagres de tecnologia avançada, mas estão dispostos cerca de 200 itens, importados de vários países, que se aplicam às necessidades diárias de portadores de deficiência física, visual ou auditiva. "É uma loja com produtos especiais para pessoas com necessidades especiais", define Iara, 46 anos.

Ela pesquisou os artigos ao longo de uma vida marcada por incidentes que a obrigaram a utilizar equipamentos especializados. Tatiana, 24 anos, sua filha mais velha, perdeu a audição ao nascer, por conta de uma dificuldade no parto. Desde então Iara virou uma espécie de mãe garimpadora de acessórios que tornassem o cotidiano da filha o mais normal possível. Há dez anos, depois de sofrer um violento assalto e ser baleada, ela mesma ficou paraplégica. E não desistiu de adotar uma rotina independente. "Sobrevivi a uma saraivada de tiros e hoje entendo que não foi à toa, quero compartilhar minha experiência", explica.

 

Deficientes Além da loja, aberta graças a empréstimos de amigos e familiares, Iara pretende montar uma consultoria para informar aos portadores de deficiências sobre os produtos disponíveis e dar cursos profissionalizantes. "Fiquei com as mãos parcialmente paralisadas durante anos, mas graças à fisioterapia hoje faço embalagens para presentes, perfumes e outros artesanatos", diz. Suas criações, junto com as de outros portadores de deficiência, têm um cantinho na loja, sob uma placa em que se lê: objetos produzidos por DEficientes.

Por ser importada, a parafernália específica não sai por pechinchas. Uma presilha manual onde se encaixa uma caneta, por exemplo, custa R$ 72,93. Mas trata-se de um investimento que vale a pena. "Minha letra fica quase perfeita", festejava na semana passada a estudante de direito Claudia Vidigal, 32 anos, que ficou paraplégica há quatro anos, num acidente de trânsito. Internauta, ela também adorou o adaptador de pulso, que permite a digitação em teclado comum. Nesse segmento há algumas sugestões que também podem ser usados por idosos ou obesos, como a bengala-banquinho e as hastes para pegar objetos. Aos portadores de deficiência visual há quase 40 itens. Alguns exemplos úteis são a calculadora que "canta" os números, o relógio que "fala" as horas e o termômetro que anuncia a temperatura. Ainda, agenda e chaveiro em braile além do básico, como a bengala dobrável que cabe numa bolsa pequena.

 

Teste caseiro Quem testou e aprovou os equipamentos para deficientes auditivos foi Tatiana. Casada com um rapaz portador da mesma deficiência, ela cuida sozinha da filha Amanda, dois anos. Um dos utensílios que mais utiliza é a babá eletrônica, que emite uma luz intermitente ao menor sinal de choro da criança e possui uma peça vibratória que, colocada sob o travesseiro, a desperta durante a noite. Como desenvolveu a fala, graças à assistência fonoaudiológica, Tatiana também utiliza o Tel Ring, aparelhinho que avisa quando o telefone toca e a variação que, através de sinais luminosos, mostra quando a campainha toca ou quando alguém bate à porta. Mãe e filha incluem em seus planos de expansão uma pequena fábrica onde querem produzir boa parte dos equipamentos para barateá-los. "Depois que comprei todos os itens, levei um susto com as taxas de importação", justifica Tatiana.