O presidente Fernando Henrique costumava dizer que não se muda o estilo de um homem que está beirando os 70 anos. Mas depois de seis meses de crises uma após a outra, em que a sequência de escândalos, trapalhadas e brigas entre os aliados políticos estilhaçou sua autoridade, parece que ele está disposto a dar uma virada. No Palácio do Planalto, a nova ordem é acabar com a guerrilha interna e não deixar críticas sem respostas. Para demonstrar que o modo vacilante de governar foi abandonado de vez, FHC, na última semana, deu pitos em ministros por falarem demais, bateu de frente com o empresariado paulista e demitiu funcionários de terceiro escalão. "A democracia implica a compreensão do outro, mas a minha tolerância chegou ao limite", advertiu na segunda-feira 21, durante discurso em que deu a senha sobre o novo ânimo que impera no gabinete presidencial.

Logo no dia seguinte, apareceu a oportunidade para FHC mostrar que a sua disposição de pôr ordem na casa não é só retórica. À revelia do conselho interventor do Banco Central, a diretoria do Banespa, que está sob administração federal, havia conseguido liminares na Justiça para não pagar a CPMF. Depois de ter sido informado da situação, FHC mandou que todos os diretores fossem demitidos. A volta do estilo bateu, levou significou também o disparo de torpedos contra alguns velhos amigos do presidente. Na terça-feira 22, o empresário Paulo Cunha, que quase foi ministro, fez críticas pesadas à política econômica. "O governo cometeu tantos equívocos que o Brasil se tornou um país sem esperança", atacou Cunha. Dois dias depois, o empresário recebeu o troco. "As oligarquias industriais e financeiras estão chorando por um passado que não vai voltar. Subsídios, taxas de juros protetoras, reserva de mercado, Estado guarda-chuva, lucros fáceis são coisas de uma época que já passou", revidou.

A mudança de estilo coincidiu com o fim do inferno astral do presidente. Na sexta-feira 18, ele completou 68 anos. Depois de passar um fim de semana tranquilo no Rio na companhia de Ruth Cardoso, FHC escolheu o delegado Agílio Monteiro Filho para o comando da Polícia Federal no lugar de João Batista Campelo. Superada a encrenca da sucessão na PF, que quase provocou a demissão de Renan Calheiros, da Justiça, Fernando Henrique quer agora acertar o prumo do governo com uma reforma ministerial até o dia 15 de julho. FHC quer fazer as mudanças, no entanto, sem traumas e alarde. Na última semana, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, disse que o presidente concluiu as conversas sobre a reforma, mas que ela não atingirá os ministros Malan e Pimenta da Veiga. Paulo Renato avançou o sinal e acabou recebendo uma bronca presidencial. Será de fato um novo FHC?