Na semana passada, Guido Mantega, nosso ministro da Fazenda, salvou o capitalismo de sua maior crise desde 1929. Duvida? Pois tudo começou no domingo, em Washington, quando ele presidia o encontro do G-20, o grupo dos principais países emergentes. Lá pelas tantas, George W. Bush invadiu a reunião e trouxe seus dois principais assessores econômicos: o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke. Bush não escondia seu cansaço; Paulson e Bernanke pareciam perdidos. Ao lado deles, numa foto que correu o mundo, havia um Guido Mantega cheio de si, que transbordava de alegria. Consta até que naquele encontro Bush pediu conselhos ao ministro – Mantega teria recomendado a adoção de políticas anticíclicas, como juros baixos e mais gastos públicos. Um dia depois, quando os mercados reabriram, após uma seqüência trágica de pregões, Nova York subiu 11% e São Paulo disparou 15% – as bolsas voltaram a cair, mas isso não vem ao caso agora.

Aquela imagem de Mantega ao lado de Bush, num dos momentos mais tensos da história dos Estados Unidos, foi tão inusitada que é impossível não associá-la à de Forrest Gump. Para quem não viu o filme, que recebeu 13 indicações ao Oscar e levou seis estatuetas em 1995, Gump era aquele herói anônimo e desastrado que estava sempre no lugar certo, na hora certa – ainda que por acaso. Interpretado por Tom Hanks, Gump ensinou Elvis Presley a rebolar, quando tentava dançar com suas muletas contra a paralisia infantil. Gump também indicou ao ex-presidente americano Richard Nixon o hotel Watergate para uma operação secreta. E foi ele quem inspirou John Lennon a compor a canção Imagine. São cenas hilariantes de um filme que mistura ficção e realidade, para transmitir a idéia de que personagens menosprezados também podem mudar o mundo.

Muito antes daquela foto histórica, que saiu na primeira página de publicações como o The Wall Street Journal e o Financial Times, Mantega já era uma espécie de Forrest Gump. De todos os ministros da Fazenda que o Brasil já teve, nenhum foi tão subestimado quanto ele, sempre visto como um regra-três que chegou lá por acidente. Os gênios da PUC do Rio de Janeiro, que mandaram no País na era FHC, ainda o tratam com desdém e ironia. A diferença é que todos eles entraram no FMI pela porta dos fundos, com o Brasil quebrado e sem reservas. Mantega chegou pela porta da frente e com US$ 200 bilhões no cofre. Talvez tenha sido sorte. Mas ter estrela não faz mal a ninguém.


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