Edward, 34 anos, o caçula da rainha Elizabeth, nunca foi um grande príncipe. Universitário medíocre, teve uma passagem modesta pelas Forças Armadas, de onde saiu bruscamente em 1987. "Não quero fazer parte da elite, só quero ter uma vida normal", reivindicava ele na época, como se isso fosse compatível com o sobrenome Windsor. Ele ainda tentou ser ator, mas tudo o que conseguiu foram comentários irônicos. Não faltou, é claro, quem soprasse que Edward é gay e, por isso, nunca namorava. Edward não é nenhum campeão, mas a bela Sophie Rhys-Jones, considerada uma competente relações-públicas, é uma mulher pragmática. Aos 34 anos, tratou de dizer seu sim – e até de jurar obediência ao marido – diante de cerca de 600 convidados, na capela de St. George, no Castelo de Windsor, sábado 19. Como sabe a atual condessa de Wessex, os príncipes encantados andam escassos.

Não é um segredo exclusivo. No sussurro das conversas de escritório, no bate-papo dos bares, em confidências pelo telefone, por toda parte essa queixa percorre as conversas de mulheres de todas as idades: os homens interessantes simplesmente sumiram! Aquele cara charmoso, inteligente e interessado num relacionamento duradouro virou espécie em extinção. Em temporada de caça há muito, poucas mulheres conseguem agarrar a presa ideal. Só encontram sujeitos chatos e sem graça, que buscam, com cantadas ridículas, a oportunidade de ir para a cama por uma noite e tomar rumo próprio no dia seguinte. E a reclamação vem de mulheres bonitas, de alto-astral, daquelas que ninguém chamaria de "encalhadas". A maioria delas até encara os romances de curtíssima duração, mas poucas estão satisfeitas com esse tipo de amor fugaz.

A engenheira carioca Heloísa Barros, 28 anos, não dá beijo na boca há três anos. A irmã Alexandra, três anos mais velha, já vai para o quarto ano sem ter com quem comer pipoca no cinema. A última vez que Alexandra foi pedir conselhos a Heloísa, recebeu uma resposta pra lá de fatalista. "Você tem duas opções: ou se mata ou vira lésbica", recomendou Heloísa, que tem dificuldade para entender essa situação. "Quando a gente chega perto dos 30 é difícil encontrar alguém. Os homens da minha idade ou preferem menininhas ou já têm mulher e querem só se divertir. Eu queria fidelidade, companheirismo. Fico preocupada porque quero ter filhos e acho que já estou passando da idade", diz Heloísa.

Ao contrário do que prega o folclore, no entanto, o Brasil não é um país de dez mulheres para cada homem. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1997, mostram que, se a diferença em números absolutos até impressiona, a proporção média da população acima de 18 anos é de 1,08 mulher para 1 homem. Não há distorção maior nem na faixa de 18 a 39 anos, na qual há 1,05 mulher para cada homem. Mesmo na região Centro-Oeste, onde a população masculina com mais de 40 anos supera em 24.034 a feminina, o equilíbrio se mantém porque há uma compensação na faixa etária de 18 a 39 anos. A proporção é de 1,02 mulher para cada homem. Onde foram, afinal, parar todos esses cavalheiros?

Ele saiu com outro Especialista em relacionamentos amorosos, o psicólogo Aílton Amélio da Silva, do Departamento de Psicologia Experimental da USP, informa que cerca de 90% dos homens de 30 anos já se casaram. Dos 10% restantes, 30% são gays. Algumas mulheres supervalorizam essa porcentagem como a fonte de suas dificuldades. A promotora de eventos Juliana Niehues, 25 anos, encontrou há seis meses numa festa um tipo raro, bonito, inteligente e sedutor. Conversaram a noite toda, tomaram drinques… O rapaz era só elogios. Lá pelas tantas, o moço disse que ia ao banheiro e sumiu. Ela foi achá-lo aos beijos com outro homem num canto da casa. "Tenho 90 cm de busto, 63 de cintura e 92 de quadril. O problema não é comigo. Falta homem de verdade", afirma Juliana, há três anos sem namorado. Sua conclusão é radical: "No Rio, a maioria dos homens é homossexual ou bi", decreta.

É claro que os chamados "homens de verdade" ainda existem, mas uma série de comportamentos dificulta o encontro. Alguns deles têm a ver com o tempo em que as mulheres eram classificadas em duas categorias: a das fáceis, que faziam sexo, mas não arranjavam namorado, e a das difíceis, que ficavam virgens e capturavam maridos. "O namoro foi esvaziado. Hoje pode-se beijar e agarrar alguém sem namorar. Isso corrói as possibilidades de um relacionamento fixo", diz o psicólogo Aílton Amélio. "E quem fica mais prejudicado são as mulheres. Em qualquer tipo de relacionamento amoroso elas buscam mais comprometimento que os homens", avalia. A liberação sexual, embora irreversível, ainda reforça velhos preconceitos. Nas mulheres herdeiras da idéia de que o amor é proporcional à dificuldade de acesso, produz temores. A administradora de empresas carioca Fernanda Tubino, 25 anos, acha que as mulheres não se valorizam. "A facilidade de ‘ficar’, de trocar carícias só por algumas horas, deixa as coisas banais. Eles podem escolher, não querem optar por uma", diz ela. Habitué de bares e danceterias, Juliana Barbosa, 28 anos, observa: "Hoje, as mulheres não esperam ser conquistadas. Acho até que exageram e os homens se assustam."

Agora exigentes Mas, ironicamente, a dificuldade de encontrar par tem a ver também com uma nova segurança feminina. Como hoje a maioria das mulheres de classe média pode existir socialmente sem o sobrenome ou a conta bancária de um parceiro, elas ficaram exigentes e isso reduz ainda mais a cota masculina. Uma pesquisa on-line de ISTOÉ mostra que as mulheres rejeitam os burros, os infiéis e os chatos (nessa ordem). Elas não se incomodam de amar um feio (só 3,3% rejeitam essa hipótese), mas ele tem de ser romântico, carinhoso, sincero e culto. "O homem tem de saber conversar e ouvir, não basta ser bonito", diz a analista de sistemas paulista Maria Regina Masson, 39 anos. "Hoje em dia você vai jantar com um cara e ele não consegue manter uma conversa interessante nem por duas horas. Fala de trabalho o tempo todo ou fica querendo mostrar o que tem", critica Regina. Há casos piores. A arquiteta Kristine Leinemann, 25 anos, estava dançando com cinco amigas e um amigo na cervejaria Dado Bier, em São Paulo, na quarta-feira 16. Quando ela se sentou, logo F.B., 23 anos, assessor de imprensa se aproximou.

– Por que você está sentada?, perguntou ele.

– Porque estou cansada.

– Então por que você não vem descansar aqui no meu colinho?, sacou o rapaz, para a decepção da arquiteta.

As mulheres querem homens inteligentes, articulados e, como se não bastasse, fiéis. "Os únicos caras interessantes que eu encontro são galinhas, não levam nada a sério. Só os ‘malas’ querem compromisso. Mas aí eu prefiro ficar sozinha", diz Cláudia Ferreira de Carvalho, há um ano e meio sem namorado. A infidelidade provoca arrepios de horror em homens e mulheres. "É muito raro achar uma mulher fiel", reclama Eric Thomas, 26 anos, dono do bar Lollapalooza, em São Paulo. "Também está difícil para os homens encontrar uma parceira", diz. Hoje há menos complacência com infiéis, mas nem por isso, menos infidelidade. Gilberto Franco, um dom-juan de 29 anos, aluno de pós-graduação na Fundação Getúlio Vargas, é um perfeito exemplo do tipo. Sai com quatro garotas e comemora: "O mercado de mulheres está farto." No último ano, dormiu com 15 ou 20 mulheres. "As vezes que só ‘fiquei’ não dá nem para contar", diz com orgulho.

Competição Há quem enxergue uma disputa de poder por trás de atitudes assim. Para o psiquiatra Carlos Briganti, que está lançando o livro Psicossomática entre o bem e o mal – reflexões sobre a identidade, o homem lida mal com os sentimentos, escamoteia e parte para uma agressão velada. "O homem sufoca o afeto e promove a ruptura entre amor e sexo", afirma. Na opinião de Briganti, os homens mal toleram mulheres independentes. Ao vê-las se destacar no espaço público, tentam denegrir sua imagem e, assim, podar-lhe o acesso ao poder. Outro especialista, o psicólogo Sócrates Nolasco, autor de O mito da masculinidade, aponta diferenças entre o racional e o emocional: "Afetivamente os homens sonham com o modelo da avó, de dedicação exclusiva."

Já que o amor é um campo minado, é mais seguro buscar um par entre pessoas que já se conhecem ou que foram apresentadas por amigos. Segundo um estudo de Ailton Amélio, em quatro cidades brasileiras, 69% das relações começam assim. O pesquisador aponta que a probabilidade de acerto é maior porque o encontro começa com uma base de confiança e de afinidade. Isso impede, por exemplo, que surpresas iniciais sejam mal interpretadas. A atual namorada do empresário Antônio Vicente Canalli, por exemplo, era a amiga da namorada do amigo. Canalli a viu em festas na casa de amigos. Após algumas investidas malsucedidas, ele a convidou para sair. Ela surgiu envolta num casaco longo e lhe disse, sorridente: "Me dá um abraço." Ele se aproximou, a moça abriu o casaco e… surpresa! Ela estava só com uma calcinha mínima e de botinhas. "Levei um choque. Mas depois aproveitamos bem", conta ele. O empresário adorou a ousadia.

Noite da coleira A noite é considerada um mau lugar para relações duradouras. Renata Martins, 21 anos, ex-relações-públicas de uma casa noturna em Belo Horizonte, desiludiu-se: "A geografia da noite já está desenhada. A gente já sabe quem vai ficar com quem e a maioria só quer transar e tchau", reclama. Mas uma das exceções a essa crítica está lá mesmo em Belo Horizonte, num evento criado há oito meses pela casa noturna Swingers Dancing, com o objetivo de aproximar as pessoas. Chama-se Noite da Coleira e acontece às quartas-feiras. Fitas de cetim coloridas, entregues na entrada, dão a senha; verde para os solteiros, amarela para os "enrolados" e vermelha para os indisponíveis. As fitas são amarradas no pescoço ou no punho. Das 800 pessoas que comparecem, cerca de 70% são mulheres. Frequentadoras, como as amigas Tatiane e Wendrea, ambas de 25 anos, adoram a fórmula. "A fita abre o diálogo. Os caras morrem de medo de tomar um fora e aí esse toque facilita. Tenho várias amigas que saíram daqui namorando e estão firmes até hoje" atesta Wendrea, com sua fita verde no pulso.

as o espaço de paquera que mais cresceu, nos últimos três anos, é a Internet, onde os navegadores se desarmam e soltam as fantasias. Os usuários da Internet no Brasil são hoje quatro milhões e o número dobra ano a ano. O UOL (Universo On Line), o provedor mais utilizado no Brasil, com cerca de 400 mil assinantes, recebe por dia cerca de 200 mil visitantes. "Com certeza, muitas dessas conversas acabam em paquera e namoro", calcula Caio Túlio Costa, diretor-geral do UOL. Foi numas dessas salas que nasceu o mais recente namoro da psicóloga Alessandra Olinger, 28 anos, que durou um ano. Mas a distância atrapalhou. "Ele morava no Rio, eu em São Paulo e ninguém quis mudar." Uma relação que começou na Internet mudou a vida da paulista Roberta Rizzo, 33 anos. Ela morava em São Paulo, era casada e dava aulas de Educação Física. Agora, mora no Rio e namora há dois anos um internauta. Pesquisadora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, escreveu o livro Sedução na Internet e está acabando outro sobre o mesmo tema. "A Internet começa a fazer parte do dia-a-dia, pelo menos no trabalho. Uma hora, a gente entra na rede e acaba conhecendo outras pessoas", comenta Roberta.

Mas nem todos os homens interessantes estão escondidos atrás de um computador. O médico Joaquim de Almeida Claro, 38 anos, não tem medo de se deixar fisgar. "Todos buscam um par, eu não sou diferente", diz o médico, para quem a vida agitada facilita a solidão. Às sete ele já está operando, passa as tardes no consultório e até ao clube vai com tempo cronometrado. "Não sou mais um garoto com tempo para badalação", lamenta o médico, que em dez anos só teve dois namoros sérios, depois de um casamento relâmpago. Há quatro semanas, namora uma moça que conheceu no trânsito. "Eu de moto, ela de bicicleta. O farol fechou e trocamos algumas palavras. Depois nos telefonamos e combinamos de sair", conta.

 

Milagre Como se vê, o amor que cai do céu, é raro, mas acontece. Depois de anos de namoricos curtos, Renata Miozzo, 26 anos, também encontrou seu par de modo fortuito. Andava por uma rua de São Paulo quando tropeçou em um cavalheiro chamado Hollinger, alemão, 35 anos. Como num anúncio, eles trombaram, olharam-se nos olhos e se apaixonaram. Hollinger, funcionário da Volkswagen, estava no Brasil a trabalho. Depois de conseguir sua transferência para cá, chega esta semana para morar na casa de Renata. "Já tenho quem me aqueça neste inverno, graças a Deus", comemora Renata.

 

Colaboraram: Alan Rodrigues (BH), Bruno Weis (SP), Clarisse Meireles e Valéria Propato (RJ) Produção: Luciane André/Maquiagem: Rosita Jimenez/Modelo: Vivian Zanlochi/Agradecimentos: Bayard