Atribui-se ao general De Gaulle a afirmação de que o Brasil não é um país sério. Exageros à parte, os franceses agora têm dúvidas se pelo menos um produto genuinamente verde-amarelo que começa a invadir aquelas bandas é adepto da seriedade. A França está preocupada com o expansionismo da Igreja Universal do Reino de Deus – que atrai grandes levas de africanos aos seus templos naquele país – e com o fato de a igreja de Edir Macedo prometer curas como a da Aids. Classificada como seita por uma comissão parlamentar da França, a Universal não se intimida. Acaba de comprar um cinema em Paris, o Le Scale – com capacidade para 1.200 pessoas – e vai inaugurar outras sedes em Lyon e Marselha. Por isso, uma equipe da TV France 2, o maior canal da televisão estatal francesa, passou seis meses no Brasil investigando as atividades da Igreja Universal. O jornalista, fotógrafo e cineasta franco-argentino Alexandro Valenti conheceu os templos gigantescos da Universal no Rio e em São Paulo, entrevistou a bancada de deputados-pastores em Brasília e examinou dossiês sobre os negócios de Macedo. O resultado desse trabalho será mostrado no próximo dia 10, em horário nobre, no Enviado Especial, o programa jornalístico de maior audiência na França, com cerca de sete milhões de telespectadores. Ele também é exibido em outros 20 países. No documentário, Valenti aborda ainda as transformações na Igreja Católica, com o predomínio hoje dos carismáticos e o sucesso dos padres cantores – mudança ocorrida justamente para combater o avanço dos pentecostais. Para a tevê francesa, isso vai influenciar a religião no resto do mundo. "Esse fenômeno religioso não se repete em outros países", constata Valenti

Cineasta premiado
Profissional experiente, Valenti, 45 anos, tem viajado pelo mundo acompanhando guerras e movimentos sociais. Trabalhou na rede americana NBC, como correspondente na Europa, na África, no Líbano e em Israel. Entre outros trabalhos, fez um documentário sobre a guerra do Afeganistão, vista pela ótica dos soviéticos. "Contei o conflito através das cartas que os soldados mandavam a seus familiares, durante dez anos", relata. Valenti também mostrou pela primeira vez a rota da heroína, na fronteira entre o Irã, o Paquistão e o Afeganistão. Cada um de seus documentários custa em torno de US$ 180 mil. Já recebeu 18 prêmios internacionais, entre os quais dos festivais Internacionais de Cinema de Houston e de Montecarlo, da Unesco e Comunidade Européia. O último, em novembro, foi o do Festival de Grande Reportagem da França, com um documentário sobre medicina humanitária no Quênia e na Tanzânia.