O submundo parece já ter assumido o poder. Pelo menos na região metropolitana de Belo Horizonte, onde traficantes hoje controlam várias escolas públicas. Eles vendem drogas abertamente na porta dos colégios, invadem salas de aulas armados com revólveres, ameaçam e espancam professores e até determinam mudanças em horários de cursos noturnos ao proibir moradores de circular nas ruas depois das 22 horas. Essa situação não ocorre em 100% das escolas brasileiras, mas já se enraizou em boa parte dos estabelecimentos de ensino. O professor Gilmar Brito Nunes, um ex-seminarista, ousou desobedecer o “toque de recolher” e foi morto com 16 tiros, no mês passado, em Bonsucesso, na periferia de Belo Horizonte. Ele lecionava História e Ensino Religioso na escola Raul Teixeira, em Santa Luzia, distante 30 quilômetros da capital. Nesse município de 200 mil habitantes, grande parte dos estudantes é obrigada a interromper as aulas às 21h40. O comando do tráfico chega a sinalizar com faixas o “toque de recolher”. A ousadia não pára por aí: líderes do esquema de droga chegam a intimidar professores para que determinados alunos sejam obrigatoriamente aprovados. Por outro lado, eles são chamados por diretores e professores de algumas escolas para “orientar” alunos que teriam “extrapolado os limites”. Pais também recebem conselhos dos traficantes sobre como devem se comportar. Alguns vão atrás desses chefões para que possam convencer seus filhos a não seguir o caminho do crime. Os meninos que comercializam drogas chegam a receber até R$ 3 mil por mês. “O pessoal me chama quando acontece alguma coisa desagradável ou quando quer que seu filho não siga esse caminho. Eu sei que é duro e dou o alerta. Entrar é fácil. Depois, é complicado sair. Eu, eles ouvem”, relata Ricardo Moreira (*), um dos principais líderes do tráfico na região. “Quando o menino está aprontando, vou lá e ele pára de zoar.” Recentemente, Ricardo chamou um vaporzeiro (vendedor de droga) para conversar. “Eu falei. Ele deu baixa na ficha no colégio, saiu e ficou tudo bem.”

TERRITÓRIO LIVRE – A violência na área metropolitana de Belo Horizonte não é diferente da situação em São Paulo e capitais do País. Em 1999, 89% das escolas estaduais na Grande São Paulo enfrentaram algum tipo de violência. Quarenta por cento registraram ocorrências com drogas, 50% tiveram arrombamentos e 72% foram depredadas. Os números mostram um crescimento de 41%. Em Minas, a Secretaria de Educação do Estado confirma o aumento de casos relacionados envolvendo drogas. “Estamos desenvolvendo programas de conscientização e ações integradas com várias secretarias, mas a verdade é que a sociedade não está encontrando caminhos para reagir ao tráfico”, admite José Eustáquio de Freitas, assessor de comunicação da Secretaria de Educação. Nas regiões metropolitanas, o comércio do crack, maconha e cocaína é visível nas ruas.

Traficantes como o mineiro Ricardo, que atua no bairro de Palmital, em Santa Luzia, são conhecidos pela população. A maioria sabe de sua atividade, mas não toca no assunto. A reportagem de ISTOÉ conversou com o traficante e vários de seus auxiliares durante o dia, por várias horas, num bar com mesas e cadeiras na calçada, com o gravador ligado. Fregueses entravam e saíam e ouviam o relato de suas proezas no mundo do crime – inclusive assaltos a bancos e supermercados –, sem nenhuma reação de espanto ou sinal de preocupação. Entrevistas e fotografias foram feitas em salas de aula de uma escola de primeiro e segundo graus, às quais Ricardo e seus seguidores têm acesso. O traficante é chamado às vezes para intermediar a resolução de problemas causados por jovens envolvidos com droga, para que os ânimos não se acirrem. Sem cerimônia, ele dá conselhos aos educadores. “Eu conheço muitos professores e diretores na região. Eles querem jogar muito duro, só que hoje os alunos são cabeça feita. Não adianta querer pisar com meio pé no chão. Os alunos pisam com o pé inteiro”, alerta Ricardo. “Diretora tem que dar uma moral, saber olhar o aluno do jeito que ele chega e conversar num particular.”

PASSEATA PELA PAZ – Na prática, a tarefa não é fácil. O aparente clima amistoso não diminui a onda de violência. O professor Gilmar – agora, símbolo de um movimento contra a violência em Minas – morreu quando ia levar à casa de uma ex-aluna um histórico escolar. Inadvertidamente, pisou em terreno minado. Gilmar procurava conscientizar seus alunos para mantê-los afastados do mundo das drogas. Providenciava internação em clínicas de tratamento para alguns estudantes viciados. Também arrecadava roupas e alimentos para famílias carentes. “Ele levava a gente para conhecer favelas e ajudar os pobres”, diz, emocionada, a estudante Amanda Graziele, 13 anos, durante uma passeata em favor da paz pelas ruas de Santa Luzia.

Os casos de violência relatados pelos professores mineiros se multiplicam. Em fevereiro, na Escola Estadual Reny de Souza Lima, no Palmital, traficantes chegaram atirando em meio a uma reunião de professores. No mesmo bairro, uma jovem de 17 anos foi torturada e morta, em abril. A adolescente integrava uma gangue que aterrorizava escolas na região. “Levei um soco no rosto de um aluno e eu não queria mais voltar para a escola. O agressor ainda passou a ameaçar de morte meu filho adolescente”, conta, ainda traumatizada, a professora Terezinha, de uma escola do bairro de Londrina. Kátia, 41 anos, professora do ensino fundamental, levou um chute de um aluno. “A situação fugiu do controle. Alguns traficantes oferecem festas, pipas e cachorro-quente para atrair crianças para o tráfico”, diz Kátia. A professora de Ciências Bernardete levou uma pedrada na cabeça, há três meses. Sua colega Eliana, por pouco não foi atacada com um canivete. Já a professora de História Maria Luísa advertiu um aluno e recebeu um recado: “A senhora pode morrer.” Ao saber da ameaça, um dos chefes do tráfico decidiu lhe oferecer proteção.

CÃES DE GUARDA – O professor de Educação Artística Luiz Antonio não teve esse privilégio. Ele tentou expulsar um grupo de invasores que insistia em participar de suas aulas. O objetivo real da moçada era entregar drogas. “Eu falei que não ia permitir. Aí, o grupo disse que ia me matar. Nunca mais pude voltar à escola”, conta Luiz Antonio. Computadores e telefones também são roubados de prédios escolares. No último dia 30, invasores entraram na Escola Leonina Mourthe, em Santa Luzia, e levaram tudo. O prédio foi roubado cinco vezes, em dois anos. Os diretores têm recorrido a métodos surrealistas para tentar se proteger. Na escola de Gilmar, o professor assassinado, dois cães – um rotweiller e um fila – vigiam o prédio. Desde 1997, o governo do Estado eliminou os seguranças das escolas, reclamam os professores. “Além dos péssimos salários, o governo não dá nem a garantia de voltarmos vivos para casa”, protesta a professora Maria Luísa. A Secretaria de Educação de Minas informou que tem liberado recursos para a instalação de sistemas de alarme. O governo também criou o programa de segurança Anjos na Escola, mas, ao que parece, a iniciativa não surtiu efeito.

Quem faz ameaças, não nega. Fernando, de apenas 14 anos, um dos vaporzeiros do traficante Ricardo e aluno da sexta-série, é um deles. Um dia antes de falar a ISTOÉ, ele ameaçou sentar o dedo (matar) na professora de Português, que o teria advertido. “Eu pedi emprestado o caderno do colega para fazer o exercício, mas ela me proibiu de pegar. Eu mandei ela tomar no rabo e disse que ela podia mandar lá dentro, mas fora mando eu. Fizeram ocorrência e eu peguei uma semana de suspensão. Mas eu ainda vou atrás dela”, ameaça o menino. Fernando vive com a mãe – uma auxiliar de escritório – e não conhece o pai. Começou a vender droga aos dez anos. “Fui ganhando bem, gostei e não parei mais.” Numa sala de aula, rodeado de colegas do tráfico armados com revólveres e facas, ele garante que não vai parar de estudar. A seu lado, a garota Brenda, 16 anos, aluna da oitava série, conta que começou a fazer aviãozinho (passar droga) em um dos colégios de Santa Luzia. “Tive de mudar de escola, porque queriam me internar. Minha mãe não sabe que eu vendo droga. Não quero parar de estudar, mas a gente acaba matando muita aula”. Filha de um balconista e empregada doméstica, Brenda diz que gostaria de ser veterinária. Outros seguidores do traficante Ricardo estão muito mais adiantados no mundo do crime. Marcelo, que estudou até a quinta série, e Warley, que parou na sexta série, ambos de 19 anos, são também assaltantes. “Fui expulso da escola porque dei umas cadeiradas e chutes numa professora. Depois, comecei a usar crack, cocaína e maconha e fui para o tráfico. Se eu pegar bastante papelote, ganho R$ 1,2 mil por semana, só na venda”, conta Marcelo. “Tive muito dinheiro, carro e moto. Mas gastei tudo”, afirma Warley.

SEQÜESTROS – São Paulo não fica atrás no quadro da violência. Na segunda-feira 14, uma bomba de fabricação caseira explodiu na Escola Professora Sumie Iwata, na zona leste paulistana, e destruiu um muro. No Jardim Robru, na mesma região, a professora Cleise Marisa Siqueira foi morta por uma bala perdida, durante um tiroteio, em 1995. Seu nome foi dado a um colégio estadual. Em janeiro, seu sobrinho, Jailson Siqueira dos Santos, 16 anos, aluno da oitava série, foi assassinado com três tiros em frente à escola onde estudava e que leva o nome da tia. “Os casos de violência são muito variados. Há desde depredações, brigas para demonstrar valentia ou por ciúmes e ainda acerto de contas de gangues, que às vezes até terminam em morte na frente do colégio, mas não necessariamente têm a ver com a escola”, ressalta Zilma Ramos de Oliveira, diretora de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo. No Jardim Elba, também na periferia paulistana, uma professora foi sequestrada no mês passado por um grupo de jovens envolvidos com drogas. Os professores estão apavorados. “Dizem que há uma lista de sequestráveis e eu estou nela”, teme a professora Ana Lúcia. Em Diadema, invasores derrubaram duas vezes o muro da Escola Estadual Ana Maria Popovic para usar droga no local. Professores são impedidos por estranhos de usar a quadra de esportes para as aulas de Educação Física. A persistir tal situação, só falta traficante passar a emitir o boletim escolar dos estudantes.

(*) Os nomes verdadeiros de professores e traficantes foram omitidos

Sem o capuz, o rapaz calmo e de fala mansa, 28 anos, não aparenta ser um temido traficante, que manda matar inimigos e credores, quando necessário. Ricardo Moreira é marceneiro de profissão e aprendeu o ofício com o pai. Estudou até a oitava série e começou no crime aos 17 anos. “Foi quando fumei o primeiro bagulho e fui para a sala de aula doidão”, conta Ricardo. Logo depois, entrou no tráfico. Hoje, diz ganhar cerca de R$ 8 mil por mês. Além de distribuir drogas, assalta bancos e supermercados. Já foi preso diversas vezes. Diz que ser traficante “é como ser polícia, se for preciso a gente mata a mãe”. No bairro do Palmital, em Santa Luzia (MG), é visto por alguns como herói. Cultuando a imagem de um Robin Hood do morro, certa vez parou um caminhão carregado de verduras e distribuiu a mercadoria para a população.

ISTOÉ – Como é a relação dos jovens do tráfico com a escola?
Ricardo – Tem muitos que vão para a escola para estudar. Mas 40% deles estão envolvidos com a droga. Esses estudam para desbaratinar. Isso causa um transtorno muito grande. Os professores vão falar com eles e sabem o movimento deles. Sabem e não concordam. Os meninos entram com facas e revólveres na sala de aula e os professores ficam com medo de falar. Tem de saber como chegar neles (os alunos), senão causa morte na escola.

ISTOÉ – O jovem do tráfico consegue estudar?
Ricardo – A vida do crime não funciona junto com a escola. Quem quer estudar não se mistura com isso. Quem quer vencer, chegar em primeiro lugar, não pode cair na droga. Eu digo para eles que é melhor ter uma profissão. E que não se deve misturar quem quer ter um futuro com quem não quer.

ISTOÉ – Por que crianças e adolescentes vão para o tráfico?
Ricardo – Antes, a primeira coisa que bate na cabeça dos moleques é conseguir um emprego. Só que ele vai atrás e não tem. O cara não sabe nem como vai voltar em casa e pensa: “Puxa vida, o que é que vou falar para minha mãe?” E a pressão é muito grande. Aí é que ele desvia do caminho e começa a roubar, a traficar. Eles querem dinheiro. Vêm atrás de R$ 10, depois de R$ 40 e cada vez mais. Os pais trabalham e não têm condição de dar nada ao filho. Eles querem dinheiro para sair no final de semana. Uma hora o moleque começa a ganhar até R$ 100 por dia, vendendo crack e fazendo outro tipo de transação.

ISTOÉ – Quando o menino chega pela primeira vez, o que você diz?
Ricardo – Eu pergunto se ele está com disposição para encarar a polícia, para não dar derrame (prejuízo), porque isso te leva à morte. Se der prejuízo, vai ser cobrado, vai envolver sua família. Se não tiver dinheiro para pagar, você vai morrer. A lei é curta, a lei se chama cerol (morte). Eu pergunto: quer pegar mesmo mercadoria para trabalhar e ganhar 30%, então tudo bem. Um menino de 11 anos quando chega aqui já está preparado e não decepciona. Antigamente, decepcionavam e foi aí que rolou muita morte.

ISTOÉ – Quem manda matar?
Ricardo – Se tiver de matar, eu vou na linha de frente. Ele pode passar pelo primeiro degrau, mas pelo segundo não passa. Morre por R$ 10. Não tem perdão. Posso tirar dinheiro do meu bolso, mas se não pagar ele não trabalha mais. A lei hoje é dura. Se eu paguei R$ 300 e o cara roda, ele tem de repor. Tem de vender de graça para cobrir o lucro dele. Ninguém mandou ele dar mole. Se não cobrir, ele está fora do movimento. Se insistir, é onde ocorre o homicídio. O cara quer morrer.

ISTOÉ – Por que você seguiu esse caminho?
Ricardo – Quando eu tinha 18 anos, tive uma fase muito ruim. Não acertava com o meu pai. Mas eu sempre adorei ele. Minha família é um doce mel que eu sempre tive. Mas eu vi que, na minha casa, tudo o que tinha lá era deles. Então, preferi sair e construir os meus bens. O primeiro caminho que eu encontrei foi a vida do crime. Encontrei três colegas que eram dessa vida. E batalhei muito tempo. Troquei muito tiro com a polícia. Entreguei muita droga. Fiquei recebendo dinheiro nos morros e vigiando barraco cheio de droga. De uns anos pra cá, vi que não era nada disso. Não construí nada. Tive de pagar muito pau para a polícia. Essa vida é uma grande ilusão. Você está vencendo hoje, mas amanhã você é um derrotado. Eu trouxe um grande transtorno para os meus pais, mas eles, ainda assim, me deram um grande apoio.

ISTOÉ – Como é o esquema de pagar pau para a polícia?
Ricardo – A Polícia Militar faz o seu trabalho. Mas a Civil, quando chega lá dentro, se você tá “pedido” (procurado) e chega lá no delegado de plantão e diz que tem mil e quinhentos, dois mil ‘real’, é só chamar e conversar rapidinho. E já vai para a rua. O pedágio sempre é pago. Já teve caso de um colega que teve seis meses preso, numa seccional de Belo Horizonte, pagou R$ 500 mil por uma fuga e acabou indo embora. Na última vez que rodei, que fui alcaguetado, um delegado levou R$ 9 mil para me botar na rua. Eles queriam R$ 18 mil.

ISTOÉ – E existem outros tipos de negociação?
Ricardo – Quando você é alcaguetado e não tem nota de uma televisão, de um videocassete ou de uma geladeira, eles chegam e vão levando tudo. Pegam roupa, tênis. Isso aí ocorre direto. Eles chegam na pressão e o que não tem nota eles levam embora.

ISTOÉ – Você se arrepende de estar nessa vida?
Ricardo – Com certeza. Se eu tivesse uma cabeça melhor, eu tava numa posição melhor. É que o meu pai era aquele pai rígido. Eu não entendi a orientação dele naquele momento. Mas hoje eu ajudo minha família, minha namorada, a família dela e os meus amigos que estão na rua.

ISTOÉ – Quem está acima no esquema do tráfico?
Ricardo – O movimento maior ninguém sabe. Tem gente forte. A droga, quando chega, passa na mão de muitos. Tem muita gente ligada na política. Hoje, não dá para ficar fora disso. Aqui, ela chega bem mais cara.

 

 

Ocupação é alternativa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Várias escolas da periferia de São Paulo conseguiram acabar com a violência ao abrir o seu espaço para a comunidade. O tráfico de drogas, as depredações e pichações deram lugar aos shows de rap, exibições de break (dança) e mostras de grafite. “Os jovens resgataram a cidadania e a auto-estima e se conscientizaram de seu papel na sociedade, criando novas normas e regras”, observa a pedagoga Maria Stela Graciani, do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-São Paulo, que acompanhou durante mais de cinco anos a atuação de gangues de bairros pobres, como a Turma do Poder e a Industrial Breakers. Alguns grupos se profissionalizaram e começam a gravar discos de rap. Agora, a PUC inicia uma nova experiência com universitários de várias áreas para a formação de “agentes multiplicadores de cidadania” nas escolas. Eles vão contatar grêmios estudantis e organizar debates e seminários. Um dos maiores especialistas na área de políticas públicas para a infância, o pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa, lamenta que, no Brasil, os jovens têm poucas oportunidades educacionais e profissionais. “Não existem atividades para o tempo livre dos jovens, principalmente os de baixa renda. Eles precisam de uma ocupação construtiva.” Para Gomes da Costa, a “tecnologia” necessária para a solução desse problema está disponível há séculos: “É a escola, os programas sociais da comunidade e a família. A articulação entre esses segmentos pode estruturar uma resposta para os jovens.” Uma das poucas tentativas de resposta por parte do governo de São Paulo é a implantação do projeto Parceiros do Futuro, que pretende criar “núcleos de convivência” com a comunidade nas escolas. Recentemente, o governo federal anunciou a liberação de R$ 2,2 milhões para o programa de combate à violência Paz nas Escolas.