Ainda é praxe acender velas de sete dias para o santo predileto. Ou então usá-las numa igreja a fim de pagar promessa ou fazer algum pedido. Em aniversários, jantares românticos são imprescindíveis. Agora, as velas ganham outro tipo de serventia. Ou melhor, ganharam status. Definitivamente, a moda é acender velas. Para aromatizar o ambiente, harmonizar, decorar. Não bastasse, elas ainda entraram para o rol dos presentes descolados. Nada mais cult do que dar como lembrança uma vela coloridérrima ou – mais chique ainda – estampando uma figura de anjo ou santo.

Quem começou com essa onda "católica" no Brasil foi o artesão paulista Marco Antonio Pereira, 40 anos. Durante uma viagem à Europa, há dois anos, ele notou que lá presentear com velas era quase um hábito. De volta ao Brasil, pôs a mão na massa, ou melhor, na parafina. Hoje, com ajuda de apenas um funcio-nário, Pereira faz pelo menos 1,5 mil unidades por mês. "As de Jesus e Virgem Maria são as que mais agradam entre aqueles que curtem objetos quase cafonas", diz ele. Agora, Pereira incrementa sua coleção com velas decoradas com fotocópias de divas do cinema, como Marilyn Monroe ou Rita Hayworth. "Já fiz coleções exclusivas para lojas de grife, festas e eventos em São Paulo. Agora vou atacar com tudo no Rio de Janeiro", avisa com uma sacola cheia de fotos e amostras grátis de suas obras.

Pelo visto, a moda de presentear e aromatizar com vela realmente pegou. Prova disso é que somente nos primeiros dias de dezembro Aline Corrêa, a proprietária da D’ta–lhes, uma pequena loja em Cotia, interior de São Paulo, viu desaparecer 680 unidades de suas prateleiras. E de todos os tipos, tamanhos e cheiros. "Foi uma loucura!", exclama ela. "Antes não ligava muito. Mas agora a primeira coisa que faço quando chego em casa é acender uma vela. Relaxo, curto o perfume e o ambiente fica muito gostoso." Se Aline se animou com as vendas de fim de ano, dá para imaginar o que acontece com o verdadeiro rei da vela – o empresário Alberto Gouveia Borges, 42 anos. Ele é proprietário de uma fábrica que produz 600 peças diárias. E por conta dessa nova onda ele abriu também uma loja, batizada de Tudo em Velas. "Essa moda veio para ficar e vai pegar no País inteiro", aposta. "Para mim, tudo começou quando os brasileiros começaram a viajar para o Exterior no começo dos anos 90. Descobriram que tanto os europeus como os americanos usam velas no jantar. Lá é uma tradição tanto no inverno co-mo no verão. E essa tradição vai colar aqui também."

Se depender de pessoas como a socialite carioca Narcisa Tamborindeguy, 36 anos, Borges tem toda razão. "Amo velas!", diz Narcisa. "Além de me transmitirem paz, elas salvaram o meu último réveillon! Mais de uma hora antes da meia-noite faltou luz no meu edifício Chopin. Se não fossem as 30 velas que decoravam o apartamento, eu não poderia sequer me maquiar! Imagine receber meus convidados no breu!" As velas preferidas de Narcisa têm 50 cm de altura e são decoradas com santos. "Sempre fui muito a igrejas, adoro rezar. Agora faço minhas orações em casa diante das minhas velas de São Jorge e de anjos da guarda", conta.

 Há um jeito certo, no entanto, para usar as velas. Nada de sair acendendo o pavio de maneira incorreta. Por isso, Alberto Borges adverte: "Jamais use velas aromatizadas num bufê. O cheiro pode interferir na comida, portanto, no paladar." Marco Pereira completa: "Superstição ou tradição, faz parte do ritual acender sempre velas em números ímpares. Além de dar sorte, um grupo de três, por exemplo, é mais elegante e decorativo." Aline Corrêa, de Cotia, avisa: "É bom prestar atenção no pavio. Se for feito apenas de barbante, sem fio de cobre por dentro, não presta. Acende apenas uma vez e olhe lá!"