A multidão aglomerada nas calçadas acompanhava as últimas passadas dos corredores da São Silvestre quando um super-homem franzino e moreno rompeu a barreira de policiais militares, saiu correndo e começou a dar tchauzinho para as câmeras. Arrastado pela polícia, a versão subdesenvolvida do homem de aço foi levada ao distrito do bairro da Aclimação e colocado em uma cela. Depois de levar um sermão do delegado, o rapaz arriscou: "Dá para o senhor me liberar antes das sete da noite?"

"Por que antes das sete?", perguntou o delegado.

"É que eu vou sair no Jornal Nacional e queria assistir."

O super-herói de araque foi solto e conseguiu chegar em casa a tempo de ver sua performance pela televisão. A fantasia foi apenas um dos subterfúgios que Eliel Paim, 23 anos, office-boy nas horas vagas e alucinado pela fama em período integral, já usou nos últimos dez anos para aparecer. "Vivo apenas para me mostrar", afirma. Entre os amigos, ele é conhecido pelo apelido de melancia. Mas, em vez de pendurar a fruta no pescoço, ele procura chamar a atenção posando em frente às câmeras nas notícias cotidianas. Onde quer que ocorram eventos, manifestações, assaltos ou assassinatos, lá está ele. Em algumas ocasiões, testemunha fatos que não viu. Apenas para ser visto na telinha.

Para estar por dentro dos fatos, ele anda pelo centro de São Paulo com o walkman sintonizado em alguma estação de rádio. Foi assim que ficou sabendo da passeata de aniversário de um ano do massacre dos sem-terra em Eldorado do Carajás. Ao chegar ao local, todos os manifestantes empunhavam velas acesas. Sem titubear, Eliel entrou na primeira loja que encontrou, comprou uma vela e se colocou na frente da procissão. Deu certo. Todos seus amigos o viram.

Conhecido dos jornalistas e odiado pelos cinegrafistas, ele já apanhou em duas ocasiões. Para escapar de agressões, fica escondido em meio ao público e acompanha a cobertura por uma televisão portátil. Na hora em que o repórter vai entrar ao vivo, ele corre para a frente da câmera. "Assim ninguém pode parar a filmagem." Dessa maneira ele conseguiu alguns closes na reconstituição dos tiros disparados pelo estudante de Medicina em um cinema do Shopping Morumbi. Eliel também não se incomoda em se deslocar por grandes distâncias. Foi ao Rio quando Xuxa anunciou o nascimento de Sasha e encarou 15 horas de viagem de ônibus até Goiânia quando o irmão de Zezé Di Camargo e Luciano foi libertado.

 Para Ana Bock, presidente do Conselho Federal de Psicologia, essa obsessão em ser o centro das atenções se explica pela instabilidade de hoje. "A identificação do indivíduo é cada vez mais difícil. As pessoas não se fixam, mudam de emprego, de endereço e de amigos. Esse foi o jeito que o rapaz encontrou para ser identificado. Soma-se a isso a idéia lúdica de que as pessoas, principalmente os adolescentes, têm da fama", afirma. Eliel começou a perseguir o reconhecimento aos 13 anos. Ele contabiliza cerca de 100 aparições por ano em jornais, revistas e emissoras de televisão. Mas, por incrível que pareça, ele não gosta de conferir a notoriedade junto ao público. O louco pela fama é tímido. "E se não me reconhecerem? Morreria de vergonha."