Foi um sufoco para o torcedor palmeirense poder gritar que é campeão da Taça Libertadores da América pela primeira vez na sua história. Cinco dias antes do jogo, teve de assistir à eliminação da Copa do Brasil contra o Botafogo nos pênaltis. Menos de 48 horas depois, era derrotado pelo seu maior rival, o Corinthians, na primeira partida da decisão do Campeonato Paulista. Mesmo assim, na madrugada da segunda-feira 14, uma multidão enfrentou frio, chuva e empurrões numa gigantesca fila ao redor do Parque Antártica, na zona oeste de São Paulo, para comprar ingressos. Tudo porque o clube insistiu em jogar a final no seu acanhado estádio, com capacidade para apenas 32 mil pessoas. Quem conseguiu um lugar na arquibancada na quarta-feira 16 ainda teve de roer as unhas na dramática vitória por 2 x 1 sobre o Deportivo Cali, da Colômbia, que levou a decisão para os pênaltis. O título continental – e o direito de disputar o chamado Mundial de Clubes, em Tóquio, no dia 30 de novembro, contra os ingleses do Manchester United – veio na última cobrança, quando a bola, chutada pelo colombiano Zapata, foi empurrada para fora pela estrondosa vaia da torcida em meio a uma crise de nervos. Enfim, o palmeirense pôde extravasar a tensão numa noite que acabou marcada por excessos e violência.

A torcida chegou cedo ao estádio. Às 19h30 o Parque Antártica já estava lotado. Cerca de dez mil palmeirenses, no entanto, ficaram do lado de fora, sem ingresso ou com tíquetes falsos. Resultado: tentativas de invasão, 18 policiais feridos e um número incerto de torcedores agredidos. A responsabilidade pelos tumultos pode ser dividida entre a incapacidade da polícia de prever os incidentes e a diretoria do Palmeiras. Mesmo com a opção de marcar a partida para o Morumbi, que pode acolher 55 mil pessoas, os cartolas preferiram o próprio estádio, sob a alegação de que nele a força da torcida seria mais sentida pelo adversário. A "panela de pressão" palmeirense, além de ajudar o time, explodiu nas ruas em torno do estádio e, mais tarde, transformou-se em vandalismo na avenida Paulista, tradicional palco das comemorações. Campeão da Libertadores, o Palmeiras reforçou a hegemonia do futebol brasileiro na América do Sul – das últimas oito edições, vencemos seis. A mesma performance não se repete, porém, na disputa com o campeão europeu. Grêmio, Cruzeiro e Vasco foram derrotados nos últimos confrontos por Ajax, Borussia e Real Madrid. Cabe ao Palmeiras o desafio de interromper esta série de fracassos. E, se não for demais pedir, com menos sofrimento para o torcedor.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias