Quem passa por baixo do viaduto de quase 30 metros sobre a movimentada avenida Sumaré, em São Paulo, surpreende-se com a visão de pessoas dependuradas em cordas, deslizando do alto da ponte até o chão. São praticantes de rapel, uma técnica francesa, desenvolvida por montanhistas, usada no mundo todo para descer cachoeiras, montanhas e paredões naturais e para fazer resgates. A utilização dessa técnica em pontes, prédios e outras construções urbanas trouxe para a cidade o que se exercitava apenas na natureza. "Usamos o viaduto para treinar antes de descer cachoeiras e para tornar o esporte mais conhecido", diz Airton Hiromi Imamura, 29 anos, dono de uma escola de esportes radicais e há oito anos instrutor de rapel. "Nos últimos dois anos a procura tem aumentado muito", afirma.

O engenheiro Domingos Ribeiro, 28 anos, praticou rapel no viaduto pela primeira vez há um ano. Ele é campeão brasileiro de rafting, descida de bote por corredeiras, um esporte perigoso, e mesmo assim diz que passou por maus bocados. "Quando passei para o lado de fora da ponte e olhei para baixo, quis desistir, mas não dava mais", lembra. "Nunca tremi tanto na minha vida." Hoje ele já perdeu as contas de quantas vezes repetiu a descida. A iniciante Marcela Guttmann, 23 anos, aventurou-se pela primeira vez há 15 dias. "A sensação de liberdade que se experimenta vendo a cidade de um ângulo tão diferente é incrível" conta. "É um meio de lembrar que a vida aqui não é feita só de trânsito e falta de tempo."

O rapel não é um prazer exclusivo das cidades grandes. Em Vitória da Conquista (BA), os rapeleiros se amarram a prédios e caixas-d’água de até 86 metros de altura. "Nesse caso, o mais importante é proteger bem a corda do atrito com o concreto evitando que ela se rompa. Para isso, deve-se colocar um tipo de calço de borracha", explica o estudante Philip Glass, 16 anos, vice-presidente da Associação de Alpinismo, Rapel e Canyoning do Sudoeste da Bahia. Movidos pelo entusiasmo, muitos praticantes esquecem que uma queda de 30 metros – altura equivalente à de um prédio de dez andares – é fatal. O aumento do número de praticantes deixa em evidência o risco que o esporte envolve. Para garantir a segurança, o primeiro cuidado do aventureiro é vestir roupas pouco volumosas e manter os cabelos presos para evitar que alguma ponta ou mecha fique presa na corda. "A segurança depende da qualidade do equipamento e da equipe", explica o instrutor Imamura. Quem desce está preso por uma corda presa em, no mínimo, dois lugares. O equipamento é checado duas vezes e, antes de descer, a pessoa deve prender-se a uma corda chamada auto-seguro para a última checagem. Em caso de algum problema na descida, alguém no ponto de chegada segura a ponta da corda, travando o movimento. Se essas normas forem seguidas, os riscos são mínimos.